O cargueiro espacial Progress da janela da Estação Espacial Internacional Foto: NASA
Ao longo de meio século de
história da exploração espacial, marcada por milhares de lançamentos espaciais,
os principais cavalos de trabalho têm sido sempre os veículos lançadores de
satélite norte-americanos das famílias Delta, Atlas e Titan e o soviético-russo
Soiuz. Todos eles tiveram como base o primeiro estágio de mísseis balísticos intercontinentais
e de alcance intermediário desenvolvidos no período de 1957 a 1962.
Tradicionalmente, na União Soviética e agora na Rússia, as empresas associadas à exploração espacial são da indústria de guerra. A maioria dos peritos russos afirma que cerca de 33% das empresas do setor estão falidas. Ao mesmo tempo, o montante investido em pesquisa e desenvolvimento na Rússia é dez vezes menor do que nos países ocidentais, e os investimentos nos bens de capital e formação de pessoal são cinco vezes inferiores.
“Mais de 70% das tecnologias de produção são física e tecnologicamente obsoletas”, afirma o major-general aposentado Vladímir Dvórkin, responsável pelo desenvolvimento de programas de aprimoramento das Forças Nucleares Estratégicas.
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Ígor Líssov, diretor da revista “Novosti Kosmonautiki” (Notícias da Astronáutica), não esconde seu pessimismo: “Em duas décadas, muitos profissionais experientes abandonaram o setor por motivo de idade ou devido a uma remuneração extremamente baixa. Enquanto o salário de um engenheiro empregado no setor espacial ou na projeção de equipamento espacial for menor do que o de um vendedor de telefones celulares, estaremos vendendo telefones celulares e não construindo equipamento espacial”.
É já difícil, para não dizer impossível, corrigir essa situação mediante uma simples injeção de dinheiro no setor espacial ou troca do equipamento obsoleto ou outras medidas semelhantes. É preciso mudar a atitude para com o trabalho e superar a inércia da mentalidade obsoleta, orientada principalmente para o alcance de estrondosos sucessos momentâneos a que se seguem normalmente declarações altissonantes sobre nossa liderança mundial.
Não deixamos de considerar como nossa maior conquista a liderança mundial em número de lançamentos espaciais anuais. O governo não se apressa em mudar essa atitude nem mesmo após a vergonhosa perda, em janeiro último, de um satélite geodésico GEO-IK2, com menos de um mês de uso, e uma corrida orbital atrás do satélite militar de comunicação Raduga, que se desviou de sua rota.
Afinal, temos ou não um
programa sensato de desenvolvimento do setor espacial nacional? Posso, desde
já, antecipar as respostas: nosso objetivo é a ISS, depois, a Lua, Marte, etc. Quanto
ao programa, é claro que o temos e ele vai durar, pelo menos, até 2050.
Então, porque é que, em vez de realmente proceder à construção de um novo
equipamento espacial, o principal ator da indústria espacial russa, a
corporação Enérguia, tem falado sobre a necessidade de colocar em órbita um
hotel para turismo espacial?
As naves espaciais disponíveis são insuficientes. Com o encerramento do
programa Space Shuttle e a perda do cargueiro Progress, o segmento russo da ISS
poderá ficar fora de serviço.
Publicado em versão reduzida.
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