Foto: Kommersant
Você sentiu euforia em agosto de 1991?
Os meses após a tentativa do golpe de agosto de 1991, até janeiro de 1992, foram um período fantástico. Nunca mais tive uma sensação como esta, de elevação emocional. Milhões de pessoas sentiram o mesmo. Mas, nos início de 1992, minha preocupação começou a crescer. Em julho, depois de uma conversa com Gaidar, entendi que o maquinista não via ou não queria ver para onde o trem estava indo e que essa viagem acabaria com uma catástrofe.
E por que, já em 1992, você pressentiu o fracasso?
Para mim, o primeiro choque veio quando as atividades econômicas não se tornaram liberais. Yéltsin assinou o decreto de livre comércio somente no fim de janeiro. O segundo ocorreu em 20 de janeiro de 1992. Gaidar acertou com os mineiros que daria a eles um aumento considerável dos salários. Assustei-me com a medida: para isso, gastou-se muito dinheiro estatal. E, a partir de maio, esse processo adquiriu ritmos fantasmagóricos, o que conduziu a uma onda inflacionária que provocou inevitavelmente a destruição da economia, o desmoronamento da esfera social e a desestabilização política.
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Àquela altura, você já tinha uma estratégia única das reformas?
As ideias, princípios, direções e objetivos básicos foram discutidos muitas vezes. Mas não existiu um texto que englobava suas principais considerações em um único documento. Entendíamos que as reformas deviam seguir três direções: política, econômica e nacional-estatal. Elas foram elaboradas de uma maneira bastante detalhada. Eram compostas de três partes principais: economia liberal, estabilização financeira e mudanças estruturais, dentre as quais a maior foi a privatização de empresas.
A sucessão das reformas era perfeitamente clara. Primeiro, devia-se efetuar a liberalização. Um decreto poderia abolir todos os regulamentos, restrições e proibições, permitindo-nos trabalhar livremente. A estabilização financeira visava conter a inflação e, por isso, não pôde ser efetuada em um único dia. As reformas estruturais também requerem anos. Foi uma aventura iniciar a privatização nessas condições.
Mas por que você, que fez parte da equipe, e outros conhecidos economistas não discutiram isso com ele?
Claro que discutimos. Mas não houve resultado. Procuramos convencer Gaidar a tomar medidas imediatas e extraordinárias para combater a crescente onda inflacionária. Mas ele nos respondeu: “Não se preocupem. Tudo está em ordem. A inflação está baixando. Depois de julho, será de menos de 10% por mês”. Em agosto, a taxa realmente baixou até 9%, mas, em outubro, saltou até 23% – em novembro foi de 26% e, em dezembro, de 25%. Isto acabou com o governo e, por tabela, com o próprio Gaidar.
E agora, anos depois, você entende os motivos de Gaidar para ter este comportamento?
Foram três motivos: sua competência, seu caráter e sua concepção do mundo.
Ressente-se que, àquela altura, as reformas não seguiram outro caminho?
Bastante. Em 1991, tivemos uma chance única de criar uma economia e uma sociedade livres e um Estado democrático no nosso país. A oportunidade foi perdida de uma forma medíocre e não sei quando teremos outra.
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