Restaurantes vão além da salada grega

“Livraria” do restaurante Púchkin. Foto da agência ITAR-TASS

“Livraria” do restaurante Púchkin. Foto da agência ITAR-TASS

Nos anos 90, os estabelecimentos que vendem comida na Rússia ganharam sofisticação, mas sem qualidade; hoje, o setor se preocupa também com a excelência dos pratos e do atendimento

Nos tempos da União Soviética, a comida era somente um alimento, uma mercadoria produzida em grande escala para as cantinas das universidades e das empresas. Todo mundo, exceto os cidadãos mais sofisticados, cultivava as suas próprias verduras no jardim de casa. Desfrutar de especialidades estrangeiras era impensável – e suas reproduções locais eram péssimas. “O café soviético era intragável e a carne moída dos hambúrgueres, embebida em água”, lembra um enojado Ivan Schischkin, cozinheiro do restaurante moscovita Delicatessen.

Foi provavelmente a inauguração da primeira filial do McDonald’s, em 1989, que abriu o caminho para os demais restaurantes com qualidade diferenciada. A enorme fila que se formou em frente ao local era maior que a do Mausoléu de Lênin na Praça Vermelha. Com tamanho sucesso, cadeias nacionais de fast food brotaram no país como cogumelos.

No fim dos anos 90, apareceram os primeiros restaurantes de luxo para os novos ricos e magnatas do país. Um deles é o famoso e aristocrático Café Púchkin. Para abrigar o local, aristocrático e decorado em estilo clássico, o renomado gastrônomo Andrei Dellos decidiu reformar a residência do compositor russo Rimski-Kórsakov. Do monumento arquitetônico feito em homenagem ao protegido de Catarina, a Grande, só restou a fachada.

“Esses restaurantes fizeram muito sucesso nos primeiros anos do século 21”, conta Schischkin. Segundo ele, aquela época foi caracterizada pela falta de sensibilidade em relação à boa culinária, tratando-se apenas de pura ostentação. Hoje em dia, porém, tudo mudou. “Sair e jogar dinheiro fora é uma atitude considerada extremamente vulgar”, garantiu. Agora, os russos mostram interesse por diferentes tipos de culinária e buscam pratos sofisticados: o Delicatessen e muitos outros estão se dirigindo a um público cosmopolita e que entende do assunto.

De acordo com Schischkin, o ambiente íntimo e informal desses restaurantes faz que os frequentadores relaxem e se sintam à vontade. “O cliente atual é exigente”, afirma. No Delicatessen, os quatro proprietários, juntamente à equipe de funcionários, se desdobram para dar atenção aos frequentadores. “Aqui se come bem, mas a um preço razoável”, completa ele.

O restaurante Bon Voyage fica dentro de um barco. Foto: RIA Nóvosti

O restaurante Bon Voyage fica dentro de um barco. Foto: RIA Nóvosti 

 

Na opinião de Ian Zilberkveit, gerente da rede moscovita de confeitarias Le Pain Quotidien, a concorrência entre os restaurantes melhorou a cultura gastronômica da capital. Ele explica que até a recente crise econômica do país beneficiou o setor. “Os russos não querem gastar dinheiro em lugares ruins. Preferem comprar produtos de primeira” comenta. Nos últimos tempos, sua empresa aumentou seu faturamento em 30%.

Mesmo com todo esse progresso, o setor tem uma difícil tarefa pela frente: prestar um bom serviço e manter a fidelidade de seus frequentadores. “Aqui, na Rússia, isso ainda é o mais difícil. Não entendemos que o cliente é o rei”, garante Zilberkveit.

Schischkin também compartilha tal opinião: “Na Europa, a comida e o serviço sempre estão à altura, não importa aonde você vá”. Na Rússia, por sua vez, é como jogar na loteria. “Ter ido duas vezes a um restaurante no qual a comida estava boa não garante que a qualidade será mesma na próxima vez. Em Moscou, você tem que saber onde está indo”, completa.

O restaurante japonês NOBU. Foto: RIA Nóvosti

O restaurante japonês NOBU. Foto: RIA Nóvosti

 

Mudança nos clássicos

 

Problemas à parte, o fato é que Moscou ganhou terreno no campo na gastronomia. É interessante perceber que o investimento em ambientes agradáveis e com comida informal não levou os estabelecimentos a simplesmente imitar os europeus. A concorrência tem inspirado os chefs a experimentar receitas próprias e novas. Por isso, é comum encontrar variantes modernas dos clássicos russos e europeus no cardápio, não só a onipresente salada grega ou a pizza italiana.

Aparentemente, o serviço de comida para viagem também vem conquistando território nos restaurantes moscovitas. Não restam dúvidas de que, em breve, comprar refeições para serem consumidas em casa deixará de ter uma conotação negativa.

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