Foto: Kommersant
Qual é a atual situação dos jornalistas na Rússia?
Nunca considerei existir um problema específico para o jornalismo. A Rússia é um país perigoso por si só. O número de pessoas assassinadas aqui é, no geral, 40 vezes maior do que na Europa. É por isso que, estatisticamente, a frequência com a qual os jornalistas são mortos é 40 vezes superior aos índices dos demais lugares. O jornal Káshin, veículo dedicado a mim enquanto estava no hospital, fez uma lista de jornalistas assassinados. Fiquei com vergonha, porque a lista incluía os nomes de pessoas que obviamente haviam morrido por outras razões que não o trabalho.
O chefe do comitê ministerial de direitos humanos da Rússia, Mikhail Fedotov, disse que, no geral, a situação melhorou durante os últimos três anos...
Ele também declarou que o “caso Káshin está praticamente resolvido”. Quase solucionado é o mesmo que estar quase grávida: não existe. Apesar dos esforços dos investigadores, nada aconteceu. Oito meses se passaram e duvido seriamente que a verdade virá à tona. Sou um tanto cético. Pessoalmente, não falaria em melhorias. Pegue o exemplo da floresta Khímki, cuja defesa se tornou um motivo para graves ataques a jornalistas. A violência continua, inclusive contra os ambientalistas. Eu não diria que as pessoas neste país estão respirando mais aliviadas.
Como você trabalha e vive desde o ataque?
É claro que a minha vida mudou. Às vezes, as pessoas se recusam a me dar entrevistas porque pensam: “Ele foi espancado, e isso por causa de alguma coisa que escreveu e não deveria; vai acontecer a mesma coisa comigo.” Mas o povo me conhece melhor, o que geralmente torna o meu trabalho mais fácil. De um modo geral, eu trabalho exatamente como antes.
E o medo?
Eu acho que esse ataque é apenas uma ocorrência em um longo histórico de provocações e ataques. Ficar pensando sobre isso durante o tempo todo seria insuportável.
Você vai deixar de escrever sobre algum assunto?
Não. Além disso, acho que agora estou mais afiado para escrever, e com uma postura mais severa em relação aos adversários do bem.
Você acha que se tornou um símbolo?
Esse era um risco. Mas felizmente consegui evitá-lo, ao recomeçar o trabalho normalmente. E o meu último texto, as memórias imaginárias de Konstantin Ernst [um olhar satírico sobre o diretor da TV estatal Canal Um] para a revista Vlast é mais importante para mim do que os acontecimentos de novembro, pois está gerando debate e discussões sobre temas atuais.
Além do mais, esse julgamento contra Vassíli Iakemenko[criador do movimento juvenil governista nashi] é a continuação de um debate que já dura dez anos. Desta vez, ele está me acusando de comprometer a sua honra, quando disse acreditar que ele esteja envolvido no ataque. O tribunal irá decidir isso hoje.
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