Festival de jazz vira evento pop

Em sua primeira edição em São Petersburgo, festival Usadba.Jazz, que se transformou em uma grande festa ao longo de seus oito anos de existência: nas primeiras edições, em Arkhanguelskoie, com frequência apenas dos fanáticos por música, o evento agora recebe todo tipo de gente disposta a se divertir e ouvir música ao vivo.

O jazz continua sendo o tipo de música mais popular entre as pessoas mais cultas. No entanto,mais do que a arte, o estilo de vida associado a ele é vendido aos espectadores do evento: na estrada de Ilínskoie, há um congestionamento de cerca de um quilômetro formado por carros importados e caros. É difícil acreditar que toda essa multidão seja composta por especialistas em jazz – certamente, não há tantas pessoas com um gosto extremamente refinado em Moscou.

O festival é dividido em diferentes áreas. O palco mais popular se chama Parter (“plateia”). Há outro, intitulado Aristokrat (“aristocrata”), que reúne atrações voltadas ao um tipo de jazz mais vanguardista e menos familiar ao público. Na zona batizada de Livejournal, por sua vez, encontra-se estilos mais populares na internet. No Bereg (Beira), há música para dançar; no Kapriz (Capricho), por fim, os fãs dançam salsa e boogie-woogie sobre um tablado de madeira.

O gramado que fica diante do Parter parece mais com uma praia: as pessoas ficam sentadas sobre toalhas, mantas e travesseiros ou em cadeiras dobráveis, fazendo centenas de piqueniques separados entre si por uma distância de meio metro. À minha direita, há uma barraca em que uma jovem mãe, com um vestido longo, dança com uma criança nos braços. É possível sentir o cheiro de tabaco com aroma de frutas silvestres que vem do narguilé e do chocolate quente.

Atrás desse palco, há uma espécie de mercadinho de arte. Nele, são vendidos livros, sabão caseiro, capinhas para iPhone, camisetas com mensagens, objetos decorativos, roupa de tecidos indianos, sapatos de couro feitos à mão e roupas de grife. Um pouco à frente, há outro espaço para diversão, com oficinas de arte para as crianças e pessoas jogando Twister e xadrez. Não há pessoas bêbadas pelo festival, mas alguns fumantes, sim. A polícia também não está presente: vê-se alguns seguranças na entrada, vestidos com camisas brancas e gravatas.

Consumismo cultural


Ha oito anos, Maria Siomuchkina criou o festival Usadba.Jazz como um evento cultural de uma marca de cigarros. No segundo ano, o patrocinador desapareceu, porque, de acordo com a lei de publicidade, não é permitido a promoção desses produtos em eventos públicos. No entanto, o festival seguiu em frente. 


“Quando criei o festival, eu tinha 25 anos”, conta Siomuchkina. “Tinha muitos amigos que escutavam todo tipo de música e costumavam frequentar boates e shows. Porém, não havia um único evento de grande importância para esse tipo de música”. Siómuchkina descreve o público potencial ao qual o festival se dirigia no início:“Era um grupo muito pequeno de pessoas, com diferentes condições financeiras, mas que possuíam muito bom gosto. Na verdade, a renda não desempenha um papel importante nesse contexto.”  


Em oito anos, esse público, variado em termos socioeconômicos, mas unido na busca de novos valores na cultura atual, se multiplicou. O primeiro Usadba.Jazz aconteceu em 2004, e contou com a presença de 10 mil espectadores; o oitavo, por sua vez, reuniu quase 30 mil pessoas. “Antes vinha gente que estudava atentamente a programação e conhecia praticamente todas as atrações. Creio que atualmente 70 por cento dos frequentadores conhecem, quando muito, dois ou três nomes”, diz Siómuchkina. “São pessoas que simplesmente querem se divertir de forma civilizada, sem serem incomodadas pelas pessoas ao redor”. 

Do tradicional ao hip-hop


Elena Moiséienko, diretora do festival, explica que artistas diversos são chamados a participar do evento. “Queremos que as pessoas possam escutar o que gostam, mas também conheçam intérpretes novos e interessantes que possam vir a se tornar seus músicos preferidos”, disse.


O palco Aristokrat é cercado por colunas, e diante dele há fileiras de assento. É a única área do festival onde há cadeiras para assistir aos espetáculos, porque, segundo os organizadores, as pessoas que desejam ver as atrações desse espaço “sabem ouvir música”.
No Aristokrat, estão reunidos músicos profissionais e amantes do jazz clássico. Ali todo mundo está à espera do grupo de Robert Glasper, pianista de jazz norte-americano que ultimamente trabalha com estrelas do hip-hop, como Erykah Badu e Kanye West.


“O jazz mudou tanto que é impossível classificá-lo usando padrões rígidos”, comenta Elena Moiséienko. Segundo ela, essa tendência é global, e também acontece na Rússia: estrelas do pop, do rap e do hip-hop contratam os melhores músicos, e estes normalmente vêm do jazz. “Desse modo, ocorre uma influência mútua”, conclui.

Música popular de qualidade


Leia sobre uma série de grupos musicais que atualmente são populares na Rússia.

Robert Glasper


Jazz experimental


É o pianista da moda, e também o mais vanguardista. Gravou canções com os cantores de hip-hop e R&B mais conhecidos da atualidade. Em 2009, lançou o seu quarto disco, intitulado Double Booked, no qual utilizou vocoder, instrumento eletrônico que sintetiza a voz humana, além de declamações.

Ninó Katamadze e Insight


Jazz étnico


Essa cantora de jazz proveniente da Geórgia interpreta canções profundas em sua língua materna, acompanhada pelo grupo musical Insight. A característica principal das suas músicas é a mistura bem dosada do estilo étnico com jazz. Em 2003 (depois de lançar o seu primeiro disco), ganharam o prêmio Ovação como melhor grupo do ano.

Billy’s Band


Alcojazz


A definição de “alcojazz romântico” foi inventada pelos próprios músicos, que antes se autodenominavam “podrejazz”. O grupo começou interpretando canções de Tom Waits. Pouco tempo depois, as criações de Billy Novik, integrante do grupo, começaram a ter um toque de swing e de blues. Em 2003, ganharam bastante popularidade na Rússia, sem fazer grande esforço publicitário nem promocional. Participam constantemente dos festivais de jazz europeus.

Piano-boy

 
O pop alternativo


O talentoso pianista Dmítri Churov faz parte dos grupos ucranianos de rock Okeán Elzi e Esthetic Education. Combinam o minimalismo do piano à extraordinária voz de Iann Tiersen. Nada parecido havia sido feito na Rússia antes.

Amsterdam Klezmer Band


Klezmer, música tradicional dos Balcãs


O grupo klezmer começou a tocar nas ruas de Amsterdã e acabou lançando discos por gravadoras nova-iorquinas. Alik Kopit, emigrante de Odessa, canta, em russo, músicas tradicionais de sua cidade natal, vestido com camisas muito coloridas.

Zhenia Liubitch


Bossa nova, a canção


O motivo pelo qual as canções francesas acabam ganhando versões russas é um mistério. Teoricamente, Zhenia Liubitch seria imune a esse vírus, já que durante vários anos cantou na banda Nouvelle Vague, grupo francês que fez versões bossa nova dos hits new wave, e este ano iniciou sua carreira solo na Rússia.

Obe Dve


Indie-pop


A canção “Mily”(Amado) já toca no canal musical A-One – um rápido avanço, pois até pouco tempo atrás o grupo era apenas conhecido em sua terra natal, Iekaterinburgo. O seu primeiro disco, “Você sabe o que eu fiz”, é melhor do que qualquer outro disco pop lançado na Rússia nos últimos dez anos. O som produzido pelo grupo se assemelha às últimas tendências do indie-rock ocidental.

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