Superjet 100, da Rússia para o Mundo

Caricatura: Dmítri Divin

Caricatura: Dmítri Divin

A primeira entrega do novíssimo jato comercial russo Sukhôi Superjet 100 a um operador comercial em abril marcou um momento especial na reafirmação da indústria aeronáutica russa no mercado de jatos comerciais e abriu perspectivas animadoras para que a indústria enfrente com sucesso os tradicionais fabricantes do Ocidente.

Sob vários aspectos, o início da operação comercial do Superjet 100 foi a coroação de um programa que, ao ser iniciado menos de dez anos após o colapso da União Soviética, era visto por especialistas e analistas russos com grande ceticismo.

Conhecida mundialmente como fabricante de jatos de combate, a Sukhôi nunca produzira um grande avião comercial. Somando-se a isso, a KNAAPO (fábrica que sediou a produção da Sukhôi no Extremo Oriente russo), até então produzira, em sua longa história, apenas um tipo de avião de transporte. Entretanto, o ceticismo da época não levou em consideração o talento – não apenas empresarial, mas também político – e a liderança do então novo presidente da Sukhôi, Mikhail Pogossian. Da mesma maneira, não se anteviu a estabilização política que a Rússia alcançaria com a presidência de Vladímir Pútin e o realinhamento da economia, assim como a reorganização de setores estratégicos, como o aeroespacial.

Isso teve reflexos diretos no transporte aéreo comercial russo – segmento que, com o fim da URSS, fragmentou -se desordenadamente, chegando a registrar cerca de 400 companhias aéreas nos anos 90, a maioria de estrutura totalmente precária, algumas operando com “frotas” de apenas um ou dois velhos Túpolev ou Iliúshin.

Em 2006, esse número havia caído para 185, e em 2007, mais da metade dos passageiros transportados na Rússia voava em aeronaves de apenas seis grandes companhias. Essas se fortaleceram, adquirindo estruturas eficientes e modernas. Um cenário, portanto, bastante promissor para a chegada de um novo jato comercial, de tecnologia avançada e fabricação nacional.

A Sukhôi logo percebeu a necessidade de construir alianças internacionais, sobretudo com parceiros do Ocidente, e assim o programa cresceu, somando um total de 30 empresas parceiras estrangeiras.

Visando um novo padrão em baixo consumo de combustível e mínima emissão de poluentes, foi definido um motor de tecnologia totalmente nova, o SaM146, cujo desenvolvimento ficou por conta da PowerJet, joint-venture entre a russa NPO Saturn e a francesa Snécma. A também francesa Thales foi selecionada como importante fornecedora em 2005.

No mesmo ano, a italiana Alenia Aeronautica firmou um acordo com a Sukhôi, do qual surgiu outra joint-venture, a SuperJet International (SJI), responsável não apenas por todo o marketing mundial do novo jato mas também pelo estratégico apoio pós-venda nessas regiões.

Neste campo, ainda foi feita uma aliança com a alemã Lufthansa Technik, responsável por toda a cadeia logística de suprimentos do Superjet 100, para operadores em qualquer ponto do planeta.

Os resultados dessas parcerias já mostram bons dividendos. Em dezembro de 2008, a companhia Kartika Airlines, da Indonésia, fechou contrato para 30 jatos; seguida em junho do ano seguinte pela húngara Malév (15, mais 15 opções). Em 2010, somaram-se aos clientes estrangeiros a Phongsavanh Airlines, do Laos (3, mais 6 opções); a tailandesa Orient Thai Airlines (12, mais 12 opções) e as empresas de leasing Pearl Aircraft Corp. (30, mais 15 opções), com sede nas Bermudas, e a norte-americana Willis Lease Finance (6, mais 4 opções). Em janeiro, a SJI assinou com a mexicana InterJet um contrato de US$ 650 milhões para entrega de 15 Superjet 100, com opções para outros cinco com suporte pós-venda por 10 anos.

O contrato fechado com a InterJet revestiu-se de especial significado, pois com ele o Superjet 100 consagrou seu primeiro cliente no disputado (e atraente) mercado da aviação regional da América Latina – além de o jato russo ter atingido 189 pedidos firmes, mais 74 opções.

Apesar dos números e de um início de operação promissor, é muito cedo para dizer se o Superjet 100 será um concorrente a colocar em cheque a atual liderança no mercado mundial de jatos regionais na faixa de 70 a 108 lugares, hoje nas mãos da brasileira Embraer, com sua muito bem-sucedida família E-Jet.

Até abril, esses modernos e confiáveis jatos tinham alcançado 719 exemplares entregues, com 268 a entregar, e 705 opções. Apenas no primeiro trimestre de 2011, a Embraer somou 44 novas encomendas de seus E-Jets.

Entretanto, no mundo da aviação, não existe “monarquia”,  de modo que, hoje, o Superjet 100 é visto como um oponente sério no mercado mundial, como o contrato com a InterJet demonstrou muito bem. Um concorrente, portanto, a não ser ignorado não apenas pela Embraer, mas também por outros players, como a canadense Bombardier e a japonesa Mitsubishi.

Claudio Lucchesi é diretor da revista especializada Asas.

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