Mais de 800 jornalistas russos e estrangeiros participaram da entrevista/Foto:RIA Nóvosti
Em um pequeno vilarejo chamado Skôlkovo, situado 20 quilômetros a oeste de Moscou, está sendo construído o que para alguns representa um grande salto tecnológico, uma releitura russa do Vale do Silício, na Califórnia.
“Espero que o mundo inteiro conheça esta marca não apenas como um local onde investidores devem aplicar dinheiro, mas pela força desse empreendimento no desenvolvimento”, disse o presidente russo Dmítri Medvedev em meados de maio, quando lá realizou um coletiva para mais de 800 jornalistas.
Espera-se que mais de 40 mil pessoas vivam e trabalhem nos 3,6 quilômetros quadrados da “Innograd” (uma abreviação russa para o termo “Cidade da Inovação”), que concentrará uma grande quantidade de empresas de alta tecnologia russas e, espera-se, multinacionais.
Medvedev deu sinal verde para o projeto em fevereiro de 2010. “Não acho que devamos olhar para a modernização nos guiando por rígidos padrões de tempo”, disse o presidente à imprensa.
Durante os últimos meses, a palavra Skôlkovo tem sido o principal chavão na maioria das conversas sobre o programa de modernização do Kremlin. Contudo, à parte a recém-inaugurada Faculdade de Administração de Moscou no local, grande parte do projeto ainda não passa de um rascunho. Mas Rússia está levando a sério sua vontade de abrir as asas, e pretende ampliar seu tradicional papel global de exportadora de matéria-prima e energia, tornando-se também um centro de desenvolvimento de alta tecnologia.
Medvedev visitou o Vale do Silício original para verificar o que poderia funcionar na Rússia. Na verdade, a região se tornou o principal centro tecnológico dos Estados Unidos principalmente devido aos gastos com defesa (fundamentalmente no combate à União Soviética) nos anos 70 e 80.
No entanto, a versão russa está sendo projetada em um outra era, e Skôlkovo está prestes a entrar em funcionamento em nível internacional.
“Esse lugar tem um significado especial para mim, porque é aqui que estamos desenvolvendo nossa nova tecnologia; aqui fundamos a Universidade de Skôlkovo e a faculdade [de Administração], e é aqui que será o nosso centro de inovação”, disse o presidente.
Além de Medvedev, existe uma lista de empresários e acadêmicos trabalhando pelo sucesso do projeto.
O ex-diretor executivo da Intel, Craig Barrett, e o bilionário russo Víktor Vekselberg co-administram o conselho da fundação, que tem entre seus membros o presidente da Lukoil, Vaguit Alekperov, e Anatóli Tchubais, presidente da Rusnano (Corporação Russa de Nanotecnologia). Dois prêmios Nobel, de Física e Química, Jores Alfiorov e Roger Komberg, dirigem o Conselho Científico de Skôlkovo.
“Skôlkovo será o maestro de uma orquestra composta por start-ups e investidores”, disse à Gazeta Russa o vice-presidente da fundação, Stanislav Naumov. “Embora o Estado tenha feito um lobby pesado pela liberação do projeto, é exatamente o envolvimento com o governo que não é bem-vindo aqui ou, pelo menos, qualquer dependência financeira, já que o governo concedeu dois terços da quantia total”, afirma Naumov. O vive-presidente da fundação ressalta que o capital cedido para o projeto será devolvido em, no máximo, oito anos.
Uma premissa por trás de Skôlkovo é a necessidade de casar inovação com educação. A primeira leva de 40 estudantes do curso de MBA da Faculdade de Administração de Moscou, lá baseada, se formou no ano passado. A Universidade Técnica de Skôlkovo deve começar as inscrições para os cursos de pós-graduação até 2014.
Existem, naturalmente, algumas dúvidas e contradições em torno do projeto. Mesmo que as start-ups (empresas, geralmente recém-criadas, em fase de desenvolvimento e pesquisa de mercados) russas realmente se instalem na Innograd e os cientistas internacionais as sigam, não se pode dizer que os pesquisadores farão o mesmo.
“Desde 1990, houve 980 tentativas de criar tais centros de inovação, dos quais apenas 17 foram instituídos, e somente três atenderam às expectativas”, diz o arquiteto e membro da diretoria de planejamento Grigóri Rêvzin.
“Estatisticamente, a probabilidade de Skôlkovo ir por água abaixo é alta, mas isso não é motivo para acabar com os esforços”, completa.
Para o ex-diretor executivo da Intel e colaborador de Skôlkovo Craig Barret, “o vínculo entre negócios e pesquisa é a verdadeira chance da Rússia de dar um salto tecnológico”.
“É preciso ter confiança na integridade de nossa causa, ainda que estejam faltando garantias”, afirma.
Assim como o Vale do Silício passou a ser considerado a encarnação da inovação, Skôlkovo está querendo estimular a imaginação enquanto se esforça para se tornar a marca da qual o presidente fala.
Para tanto, contratou até um diretor de cinema para rodar um seriado na estrutura do centro de inovações, de acordo com Naumov.
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