Fazendo dinheiro

Aleksêi Uvarov

Aleksêi Uvarov

Enquanto o governo russo se prepara para privatizar mais empresas estatais, o editor-chefe do Business New Europe e colaborador da Gazeta Russa Ben Aris conversou com Aleksêi Uvarov, diretor do departamento de relações de propriedade do ministério do Desenvolvimento Econômico, para entender como essas vendas serão realizadas.

Qual é o objetivo do programa de privatização: fazer dinheiro ou transferir os negócios das mãos do Estado para as organizações privadas?

 

É uma combinação dos dois. O orçamento federal está com déficit, mas levantar dinheiro não é a prioridade do programa. A privatização terá um efeito positivo sobre as empresas, que se tornarão mais transparentes para os investidores internacionais, pois serão elevadas aos mesmos padrões do Ocidente. Queremos que as nossas empresas atinjam esse padrão.


Quantas empresas estão sendo vendidas e quanto dinheiro se espera arrecadar com tais negociações?


É um programa muito grande, que irá durar três anos. Existem mais de 1.300 empresas na lista de privatização, das quais cerca de 90% são pequenas e médias. Elas acabaram nas mãos do governo durante o período de transição dos últimos dez anos. São estatais, mas a maioria delas não é de grande porte e, por isso, vai atrair apenas os investidores locais.

Somente 10% das empresas dessa lista atrairão empresários estrangeiros. Elas precisam de uma grande estratégia de comercialização. Planejamos vendê-las gradualmente até 2013 e arrecadar um trilhão de rublos (US$ 33 bi) com o processo. E temos expectativa de levantar 200 bilhões de rublos neste ano com as vendas de ações da Sovkomflot e do Sberbank.


Como essas empresas serão vendidas? Em leilões, por oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) ou por meio de negociação direta com investidores estratégicos internacionais?


Isso vai depender da estrutura de cada empresa. Não existe um padrão universal. O tamanho dos pacotes também pode variar. Poderíamos, por exemplo, vender um pacote de controle para um grande investidor estrangeiro ou vendê-lo via IPO em lotes com emissões subsequentes de ações. O governo contratou diversos bancos de investimento, que estão estudando as empresas e nos aconselharão sobre os melhores métodos para vendê-las.


Depois do famoso “empréstimos por ações”, nos anos 90, os leilões adquiriram má fama na Rússia. Como você pode garantir que o processo será transparente e aberto a todos?

 

Há dez anos, a lei aplicada não foi adequada. A atual lei de privatização, contudo, prevê leilões transparentes e garante a participação de todos. Tudo o que as pessoas devem fazer para participar do evento é realizar o depósito.


Existem algumas empresas importantes na lista, mas você não acha que será difícil vender a maioria delas? Por exemplo, em maio, a tentativa de vender o porto de Murmansk foi por água abaixo, já que não havia apostadores.

 

Esperamos que cerca de um terço das empresas não serão vendidas na primeira tentativa. Então, qual será nossa atitude? Se isso ocorrer, tentaremos novamente, fazendo um leilão holandês, ou seja, ele começa com um valor alto, que diminui gradualmente até que haja um comprador.
Em 2010 e neste ano, privatizamos a maioria dos itens colocados em leilão, apesar do fracasso no caso de Murmansk. A verdade é que, se for boa, a empresa será comercializada.


Quais empresas da lista devem atrair maior atenção dos investidores estrangeiros?

 

Neste ano, a Sovkomflot e uma ação de 7,5% do Sberbank. Em 2012, dentre as mais importantes estão a FSK, a RusHydro, e outros 10% do Banco VTB.

A Sovkomflot é uma das maiores companhias de transporte marítimo do mundo e, inclusive, trabalha de acordo com os padrões internacionais. Como compete com seus pares de outros países, já está pronta para ser privatizada. Planejamos comercializar uma participação de 25% por meio de um IPO, através da Bolsa de Valores. Usaremos a empresa como um instrumento para arrecadar fundos e melhorar a qualidade do mercado. Se isso funcionar bem, o valor das ações irá subir; se for mal, a tendência é inversa. Mais tarde, venderemos outros 25%. Podemos negociar mais uma ou duas participações de 25% em 2015.


Outra empresa listada é a Perm Pig, uma empresa estatal agrícola em um setor atrativo...


A Perm Pig é uma das indústrias mais fortes na Rússia e totalmente estatal. Enviaremos aos bancos de investimento o pedido para que preparem a empresa para venda. Eles analisarão o mercado e a estrutura da companhia e, depois, tomarão essa decisão. Pode ser negociada no mercado de ações ou para um investidor – neste caso, será 100% privatizada.


Algumas dessas empresas são muito caras. Não existe o perigo de saturar o mercado de ações, que possui uma capacidade limitada de absorver ofertas desse porte?

 

A valorização de algumas dessas empresas é muito alta e, por isso, não podemos vender todas de uma vez só. Também entendemos que o programa de privatização da Rússia está competindo com os de outros países. No momento, os mercados internacionais estão bastante movimentados e os investidores possuem uma grande variedade de companhias para escolher, mas os fundos disponíveis são limitados. Mesmo assim, acreditamos ser possível arrecadar um trilhão de rublos nos próximos três anos.

 
Algumas das empresas da lista estão incluídas na lei de investimento estratégico, que foi aprovada em 2008 e exclui os estrangeiros de alguns setores. Como essas empresas serão vendidas?

 

Os itens estratégicos também serão oferecidos no mercado e podem ser adquiridos por investidores estrangeiros. No entanto, uma comissão do governo irá avalizar o negócio. Há, porém, poucas empresas desse tipo na lista: uma delas, o porto de Murmansk. Embora os negócios tenham que ser analisados pelo Estado, as vendas certamente serão aprovadas.


Vocês têm um cronograma, mas o mercado permanece volátil. Quão importantes são essas condições para as vendas? Vocês darão continuidade às privatizações ainda que elas estejam desfavoráveis?

 

As condições de mercado são importantes. Não queremos privatizar as empresas se não houver compensação financeira. Queremos vendê-las nos próximos três anos, mas não por um preço baixo. Obter um valor alto por elas não é primordial, mas nada será feito a qualquer preço. Se o panorama não for favorável, as negociações serão adiadas.

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