Líderes de uma nova era: jovens se reuniram com políticos e empresários no fórum/Foto: ITAR-TASS
Música clássica, salão xadrez e todos os convidados em pé para a entrada dos autonomeados “novos líderes globais”: o Fórum Internacional de São Petersburgo tem um clima ambicioso e solene (afinal, estamos na Rússia!), e, para representar isso, ninguém melhor do que o presidente chinês Hu Jintao, um dos convidados do evento.
Embora estivesse acontecendo desde quarta-feira, 15, o “Davos russo” foi
oficialmente inaugurado nesta sexta-feira, 17, com palavras dele e do
presidente Dmítri Medvedev. O cenário é imbatível: não há cidade mais charmosa,
sobretudo nessa época do ano. A logística e a organização poderiam ser
melhores, mas, em parte, é também para isso que esse evento é realizado.
Durante o café da manhã, no hotel, um colega chileno comentava sobre quanto
custava produzir o fórum e questionava se realmente valia a pena realizá-lo. Os
motivos mais comuns usados para justificar a sua importância são “promover
redes de relacionamento”, “acompanhar os padrões globais” e recuperar a
confiança na Rússia.
Avaliem vocês mesmos: cinco mil pessoas e mil e quinhentas empresas participam do evento. O custo do fórum gira em torno dos 20 milhões de euros (800 milhões de rublos), mas se espera que os acordos comerciais firmados durante o encontro alcancem quantia similar e que os investimentos recebidos após o evento superem os 40 bilhões de euros.
O slogan lançado é suficientemente significativo: “Líderes de uma Nova Era”.
Para tanto, foram convidados cem “futuros líderes globais” – jovens de faixas
etárias entre 20 e 30 anos – e, claro, políticos (José Luis Zapatero, Nursultan
Nazarbaiev, Tarja Halonen, Hu Jintao) e empresários (Víktor Vekselberg, Eric
Schmidt).
Os problemas da Rússia são conhecidos. Embora o diagnóstico seja muito bom, os
projetos de modernização falham ou são abandonados no meio do caminho por
diversos motivos que foram tratados no fórum: a corrupção, a falta de aplicação
das leis, a fuga de capitais, a necessidade de incentivos fiscais e uma nova
onda de emigração de profissionais qualificados, entre outros aspectos.
Consequentemente, surge a seguinte pergunta: como é possível desenvolver o país
sem promover mudanças no poder político? A conclusão a que se chegou é de que
isso pode acontecer, mesmo porque diversos projetos vêm sendo apresentados com
esse propósito.
A Rússia é a sexta economia mundial, os números são positivos e o anúncio do presidente Medvedev sobre uma nova leva de privatizações foi interrompido com aplausos dos investidores. “Sem abrir nossos mercados e sem receber investidores estrangeiros, a economia russa declina”, afirmou ele.
“Queremos iniciativa privada. Com erros ou acertos, quero dar espaço aos investidores. O Estado deve oferecer serviços sociais em vez de ser responsável pelas empresas e pelos negócios. Os cidadãos devem arriscar seu capital e prestígio”, explicou Medvedev, ao acrescentar que não querem o capitalismo de Estado. “Durante um tempo, agimos assim, porque se fez necessário depois do caos dos anos 90, mas isso acabou”, completou.
Hu Jintao, por sua vez, lembrou que “as mudanças são cada vez mais rápidas e as relações, mais intensas em todo o mundo”, e concluiu que “a crise demonstrou a imperfeição do sistema financeiro mundial e fez que a importância dos países em desenvolvimento aumentasse”.
No evento, muito se falou também sobre responsabilidade social das empresas, classificada o melhor antídoto para a emigração dos especialistas russos, e da transparência, que melhoraria a confiança das instituições. De fato, uma pesquisa promovida pelo centro Levada demonstrou que as principais razões para a emigração em 2002 eram financeiras e, em 2009, socioculturais.
Também se falou em diversificação, isto é, da necessidade de se produzir mais
do quew gás e petróleo. Além disso, os russos voltaram a apresentar o
megaprojeto Skôlkovo, “que deve ser parte de um sistema, já que por si só não é
suficiente”, como reconheceu o próprio diretor do projeto Víktor Vekselberg.
Medvedev e Hu Jintao
esperam assinar em breve o contrato que rege o fornecimento de gás russo à
China. O acordo irá confirmar a exportação de 68 bilhões de metros cúbicos do
combustível por meio de dois gasodutos.
Paralelamente ao encontro internacional, a oposição russa organizou o Fórum
Alternativo de São Petersburgo, no qual estiverem presentes Eduard Limonov (Outra
Rússia), Víktor Tiúlkin (Partido Comunista dos Trabalhadores) e Andrei Pesótski
(professor da Universidade Estatal de São Petersburgo). De acordo com Andrei
Dmítriev, membro do Outra Rússia, “esse não é um protesto nas ruas, mas sim um
evento acadêmico. Portanto, as autoridades não têm motivos para se preocupar.
No entanto, não excluímos a possibilidade da polícia ou das autoridades quererem
impedi-lo, já que sabemos que são pouco racionais”.
Segundo Andrei Illariónov, ex-assessor de Vladímir Pútin e diretor do Instituto
de Análise Econômica, “os fóruns não ajudam a construir a confiança no país, já
que neles se tomam decisões descabidas, como no caso da petrolífera Iukos. Além
disso, o Estado é um clube que utiliza a lei para excluir seus adversários
políticos desses eventos”.
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