Fotos: Anton Akimov
Às vésperas da inauguração do planetário de Moscou, a diretora-científica Faina Rubleva prepara estudantes do Instituto Sternberg para o trabalho de guias. Dessa forma, reestabelece uma importante ligação entre as gerações russas: há jovens que possivelmente já ouviram falar do observatório, mas nunca foram lá.
Ela é testemunha da longa e, durante os últimos 17 anos, torturante história do planetário de Moscou. Trabalha no local por mais de três décadas, tornando-se a única funcionária a permanecer após o encerramento de suas atividades, no ano de 1994.
A inauguração do planetário, construído em 1929 pelo decreto do Conselho de Moscou, contou com a presença de Maksim Litvinov, vice-comissário do povo para os negócios estrangeiros, do professor catedrático Nikolai Semashko e do escritor Anatoli Lunatcharski.
A criação do primeiro planetário na União Soviética foi um fato importante: faltava comida, mas cada operário pôde ver todos os detalhes de um céu estrelado. Ano após ano, os programas do observatório se ampliaram tanto que a visão das constelações no edifício número 5 da Sadovaia Kudrinskaia acabou se tornando o principal evento da cidade.
Sob a cúpula, redemoinhavam-se nuvens, brilhava a abóbada celeste, corriam cometas, eclipsava-se o Sol, voava o foguete de Tsiolkovski com uma cauda de fogo e, no fim do espetáculo, aparecia uma projeção brilhante do aparelho Sol Soviético, acompanhada por uma música épica. Durante a guerra, o planetário deixou de funcionar por apenas dois meses.
Após o desmoronamento da União Soviética, em 1994, o empresário Igor Mikitassov comprou 50% das ações da recém-criada sociedade anônima Moskovski Planetari (Planetário de Moscou). Com a intenção de transformá-lo num moderno centro recreativo-científico, com restaurante e parque de diversões, ele fechou o espaço e iniciou a sua restauração.
Àquela altura chefe do departamento científico-metodológico, Faina conta que, logo depois do encerramento das atividades do planetário, ela e outros sete colegas transferiram todos os documentos, arquivos, modelos dos planetas e mesmo os velhos projetores do céu estrelado para uma casa nos fundos do terreno.
Em pouco tempo, o dinheiro de Mikitassov acabou. Então, a procura por investidores se transformou num conflito com o intermediário do banco, culminando em um processo penal. Depois, verdadeiras ‘guerras das estrelas’ eclodiram em torno do espaço. Como resultado, as autoridades de Moscou obtiveram 100% das ações do planetário, afastaram o empresário do comando e investiram três bilhões de rublos (R$ 171,6 milhões) em sua reconstrução. Mikitassov chamou essa ação de um “ataque raider” e abandonou o país.
É possível que um ataque raider tenha acontecido, mas o fato é que o dinheiro estatal ajudou o observatório. Em sua reconstrução, a altura do edifício aumentou em seis metros e duas novas torres foram construídas. Segundo a funcionária Anastassia Kazantseva, quando ela começou a trabalhar no novo planetário, em 2008, o local pareceu um apartamento em um edifício recém-construído: só concreto e paredes nuas.
Tentou-se transformar o novo planetário em um centro moderno: porta-chapéus nos trilhos substituíram velas com senhas numeradas; há um cinema e elevadores para deficientes físicos. No museu Urânio, o visitante vê a maior parte dos objetos conservados por Faina Rubleva. No segundo nível, pode-se notar uma coleção de meteoritos – com orgulho, os funcionários do museu dizem que têm licenças por cada pedra extraterrestre, o que confirma a sua autenticidade.
Mais acima, porém, está a atração mais importante do planetário: uma cúpula com 25 metros de diâmetro e superfície de 1000 metros quadrados. No centro da sala, está o famoso projetor Carl Zeiss Universarium M9, que é capaz de mostrar, por meio de suas 32 objetivas, mais de nove mil estrelas. Já que o público, como antigamente, solicita a realização de eventos no local, a direção prepara sessões de observação das estrelas e das galáxias de 50 minutos de duração. No telhado, encontra-se uma área astronômica que será aberta do fim da primavera até o início do outono.
Seguindo o exemplo dos museus científicos europeus, o novo planetário deseja combinar educação e entretenimento. A direção até ressuscitou as antigas aulas de astronomia: todos os anos, serão organizados cursos noturnos de três anos, às tardes, duas horas por semana. Após os exames finais, os voluntários podem trabalhar no plocal durante o verão como guias ou ajudantes.
Ainda não se sabe se o planetário fará aumentar o número de futuros astronautas ou de astrônomos. Entretanto, no planetário de Moscou, é possível destruir Plutão ou Saturno com asteroides, o que pode ser considerado uma conquista cósmica no atual período de promessas de inovações por parte do governo.
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