Fotos:Iulia Vichnevetskaia
Durante a era soviética, famílias grandes eram consideradas uma anomalia. E essa hostilidade às famílias grandes se mantém mesmo com os incentivos do governo para enfrentar a queda de natalidade na Rússia.
Maria Ipátova, 25, tem dois filhos, um de dois anos e outro de seis meses, e planeja um terceiro. Mas ela é uma exceção. Somente 3% de todos os casais têm mais de dois filhos e 48% não têm nenhum, segundo o serviço federal de estatísticas Rosstat. “Ter apenas uma criança a torna egoísta, enquanto duas se tornam rivais. Três, contudo, formam uma família”, crê Ipátova.
Psicólogos e sociologistas já anunciam a “crise” e até mesmo a “extinção” da instituição familiar. Estatísticas do Rosstat mostram que, enquanto cerca de um milhão de casamentos são registrados na Rússia todos os anos, 700 mil casais de separam. Isso significa que quase três a cada quatro casamentos simplesmente não dão certo.
Não se trata apenas do número de divórcios. Mais e mais casais vivem juntos em vez de se casarem, e preferem isso ao registro de matrimônio, algo que era impensável durante os anos soviéticos.
Mais de 30% das crianças russas nascem de mães solteiras, segundo estudos do Ministério da Saúde e do Desenvolvimento Social. Além disso, há uma queda preocupante na taxa de natalidade. O número médio de filhos por família russa é 1,59, comparado ao índice de 1,9 em 1990.
A Rússia ainda está entre os líderes mundiais no número de abortos, com 60% de gestações interrompidas, de acordo com o Rosstat.
Pesquisas do VTsIOM, o órgão de estatísticas oficial do governo, mostram que aproximadamente 30% dos russos não querem ter filhos por causa das dificuldades financeiras e pela falta de apoio do governo às famílias.
Uma a cada cinco mulheres entre 24 e 35 não está preparada para casar e ter filhos porque quer antes seguir uma carreira, índice agravado pela escassez de creches e os altos custos das babás.
O Estado está tentando incentivar famílias jovens a ter mais filhos, sobretudo oferecendo um bônus de 365 mil rublos (R$ 21 mil) concedido no nascimento do segundo e do terceiro filho. Enquanto as medidas levaram ao aumento de 22% na taxa de natalidade desde 2006, segundo mostra o VTsIOM, elas não são suficientes para resolver por completo a crise demográfica.
No ano passado, o partido governante Rússia Unida tomou uma medida desesperada. Os deputados do governo regional de Tcheliabinsk propuseram a introdução de um imposto para famílias sem filhos - o qual existiu na URSS entre 1942 e 1992.
Os homens entre 20 e 50 anos que não possuíssem filhos e fossem casados com mulheres entre 20 e 45 anos deveriam pagar 6% do salário em impostos até que tivessem um filho ou decidissem adotar uma criança.
Os membros da Duma (a câmara dos deputados na Rússia) cogitaram multar os pais que não tivessem filhos há alguns anos, mas uma revolta pública em relação à iniciativa forçou os deputados a desistir da ideia e procurar métodos mais racionais para combater o problema.
Victória Iakovleva, 34, foi casada por cinco anos. “Não é que eu seja uma partidária de um movimento de famílias sem filhos. Pelo contrário, eu sei que as crianças trazem muita felicidade e incorporam o sentido pleno da vida. Mas eu simplesmente não tenho tempo para elas”, diz.
“Temos um financiamento imobiliário para pagar e trabalhamos muito. Eu não quero ter um filho para que ele seja criado por uma babá. Quero criá-lo eu mesma, mas, infelizmente, é muito difícil ser mãe em nossa sociedade”, afirma. Como os números deixam claro, ela está longe de ser a única a pensar assim.
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