É hora de explicar a fortuna

Riqueza de Elena Batúrina, mulher do ex-prefeito, foi estimada em US$ 2,9 bilhões/Foto:Vasily Chaposhnikov_Kommersant

Riqueza de Elena Batúrina, mulher do ex-prefeito, foi estimada em US$ 2,9 bilhões/Foto:Vasily Chaposhnikov_Kommersant

Dona de empreiteira, Elena Batúrina foi a mulher mais rica da Europa durante o mandato do marido, que agora afunda em acusações.

Como um líder autocrático,  o ex-prefeito de Moscou Iúri Lujkov tinha controle quase total de seu domínio. E, como muitas vezes acontece nesses casos, sua família foi acusada de lucrar com seu poder, faturando bilhões de dólares durante seu governo. Agora que ele se foi, é hora de prestar contas.

Começo do fim

A destituição de Lujkov se deu de forma humilhante. Após 18 anos no cargo, ele foi abruptamente afastado pelo presidente Dmítri Medvedev, em setembro passado. Mas isso foi só o começo.

O vasto império de negócios da mulher de Lujkov, Elena Batúrina, está agora sendo acusada, assim como os setores da cidade que o marido controlava. Um ano atrás, Batúrina era uma das mulheres mais ricas do mundo. Muitos a acusaram de roubo e nepotismo. Sua fortuna foi estimada em US$ 2,9 bilhões pela revista Forbes.

“Essa redistribuição da propriedade não se refere apenas aos negócios de Batúrina, mas a qualquer coisa ligada a Lujkov e a seus recursos administrativos”, afirma Nikolai Petrov, acadêmico do Centro Carnegie de Moscou. Por recursos administrativos, entende-se a influência de líderes políticos sobre determinadas escolhas. “Os bancos, o metrô, a indústria da construção civil, qualquer área que seja controlada pelo prefeito, ou pessoas próximas a ele”, completa Petrov.

No mês passado, policiais armados usando máscaras invadiram o Banco de Moscou, os escritórios do grupo Inteko, comandado por Batúrina, e duas outras companhias ligadas a um controverso acordo de terras, que permitiram a ela quitar imensas dívidas após a crise de 2008.

O banco é acusado de ter adquirido terrenos de Batúrina por 13 bilhões de rublos (quase R$ 732 milhões), valor muito superior ao preço de mercado, justamente quando Batúrina precisava de dinheiro para saldar empréstimos. No mesmo momento, o banco recebeu uma entrada em dinheiro proveniente da prefeitura de Moscou, então comandada por Lujkov.

Os jornais russos chamaram atenção para a negociação. Mas foi somente após a destituição de Lujkov que o caso começou a evoluir. Tanto o Inteko como Batúrina negaram irregularidades. 

“Sem dúvidas, as mudanças políticas na Rússia têm revelado segredos sobre a nossa empresa”, disse Batúrina em entrevista ao empresário e blogueiro Oleg Tinkov, em um restaurante em Londres, dias antes da incursão policial por seus negócios. “Você sabe que o meu aniversário será em breve, e acho que próximo à data eu ganharei um presente. As pessoas no Kremlin adoram zombar”, completou.

Família em fuga

Ex-prefeito e mulher tentaram um pedido de residência na Letônia, que foi negado/Foto:Reuters/Vostock-photo


A ação aconteceu algumas semanas antes do seu aniversário, no dia 8 de março. Paralelamente, o banco estatal VTB está tomando controle sobre o Banco de Moscou.

Batúrina disse que tenta não voltar a Moscou, demonstrando o receio de ser presa e deixar os filhos crescerem órfãos. Lujkov entrou com um pedido de residência na Letônia – que foi rejeitado –, e há rumores de que está tentando obter residência em outro país europeu.

“Grande parte dessa divisão de riqueza é invisível”, disse Vladímir Pribilovski, acadêmico do grupo Panorama. Ele acrescenta que uma cadeia de empresas extraterritoriais era usada pela antiga administração municipal para controlar boa parcela da riqueza produzida pela cidade.

Poucos simpatizam com Batúrina em Moscou. Ainda que ela negue, para muitos sua fortuna só foi acumulada por causa do marido. “Não é segredo algum que, além da influência política para receber encomendas, essa influência é usada de modo que a polícia, o corpo de bombeiros e os fiscais não transformem seu negócio em um pesadelo”, afirmou Batúrina em uma entrevista.

A atrevida prática usada por  funcionários públicos para afundar negócios alheios em troca de propinas fez até com que o presidente Dmítri Medvedev usasse o termo koshmar, ou pesadelo, como verbo. Medvedev pedia à polícia e a outros órgãos para não ‘koshmarit’ o mundo dos negócios.

O novo prefeito Serguei Sobiânin começou a desmontar a administração de Lujkov, substituindo os aliados do ex-governante por pessoas presumidamente leais ao governo federal.

“É um processo longo. Essa é a tarefa de Sobiânin, facilitar o andamento desse processo”, disse Petrov.

O diretor do departamento de publicidade da cidade e o chefe do metrô de Moscou são apenas dois dos que serão afastados, já que também são acusados de corrupção.

“Não posso dizer que estou surpresa”, disse Batúrina sobre as críticas a sua empresa. “Somente quem é ingênuo pensa que isso tudo está sendo feito para erradicar a corrupção.”

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