Foto: ITAR-TASS(2)
No início do ano, Dmítri Medvedev foi convidado pelo reitor da Universidade Estatal de São Petersburgo, Nikolai Kropachiov, a participar da conferência “Grandes Reformas e Modernização da Rússia”. Ele considerou o evento, referente aos 150 anos do manifesto que aboliu a servidão do país, digno da presença do chefe de Estado russo.
O conteúdo da palestra feita durante a conferência reflete a visão de mundo de Medvedev. É fácil perceber a relação de suas palavras com o que ele disse em Davos, em 2007, cujo lema foi “liberdade é melhor do que ausência de liberdade”. Teses semelhantes também faziam parte do discurso programático “Rússia para Frente”, publicado na internet.
Medvedev afirmou que o tema não pode ser deixado para mais tarde e não se deveria temer o homem livre por um suposto uso inadequado que ele possa dar à sua liberdade. Segundo o presidente, esse tipo de pensamento é “um caminho sem saída”. Ele manifestou certeza de que o Estado não é o objetivo do desenvolvimento de uma sociedade, mas somente um instrumento, cuja interferência deve ser limitada: as normas excessivamente rígidas e o controle exagerado geralmente levam à degradação, não ao triunfo do bem e do desenvolvimento do sistema administrativo.
“É muito importante permitir que a sociedade se organize por conta própria”, disse Medvedev, apontando novamente para a urgência da modernização dos costumes. O presidente, porém, não deseja grandes revoluções nesse aspecto, pois “as reformas políticas e sociais devem ser premeditadas, racionais, graduais e constantes”.
Na opinião do diretor do Instituto de Desenvolvimento Contemporâneo Igor Iurgens, o formato e o tema da conferência pautaram o discurso presidencial, mas o texto, em sua essência, também possui carga pré-eleitoral. De acordo com ela, é dessa forma que, ao menos, suas palavras podem ser entendidas pelas estruturas ligadas ao presidente, que estão se agrupando e não pretendem recuar.
Tecnicamente, a campanha eleitoral já começou, dizem alguns funcionários públicos. Observa-se, contudo, sintomas da divisão do poder. Medvedev e o primeiro-ministro russo, Vladímir Pútin, formam agendas diferentes, demonstram diferentes modos de lidar com assuntos de importância estatal e estão trocando farpas em público.
Desde o início do ano, o presidente tem se permitido dar broncas abertamente. Após o atentado terrorista no aeroporto de Domodêdovo, por exemplo, Medvedev censurou de forma enérgica as autoridades de segurança nacional por divulgarem os resultados da investigação antes da conclusão do caso. Também demitiu coronéis da FSB - Serviço Federal de Segurança (ex-KGB). Em seguida, sem aviso prévio, visitou a ferroviária de Kiev, acompanhado por diretores da FSB, do Ministério de Assuntos Internos e da procuradoria, onde criticou essas estruturas de forma dura e em frente às câmeras por descumprirem as normas de segurança. Durante a investigação do atentado terrorista, os diretores das agências de segurança demonstraram claramente que, apesar de estarem sob o comando do presidente, se reportam ao primeiro-ministro, informa uma fonte próxima ao Kremlin.
Até a escolha do mascote dos Jogos Olímpicos está se tornando um problema político. Uma semana atrás, Pútin divulgou e promoveu o seu mascote preferido, o leopardo. Medvedev, de bate-pronto, anunciou sem meias palavras que os resultados da escolha não foram justos.
Segundo o cientista político Mikhail Vinogradov, Medvedev havia deixado de tomar a iniciativa dessas ações e está tentando recuperar o tempo perdido. Pútin, ao contrário, está mais ativo, já que conduz uma campanha eleitoral regional: visitou Orenburg, Kirov, Chukotka e Kaliningrad, onde conversou com a população sobre temas como a agricultura, os serviços de utilidade pública e a saúde. Em fevereiro, ele se reuniu com ativistas de organizações estudantis em Sochi e, depois, organizou uma recepção particular em Kaliningrad. Esse é o exemplo de uma prática que o presidente russo não conseguiu aproveitar durante o seu mandato.
“Por enquanto, embora não haja sinais claros da parte do presidente ou do primeiro-ministro, pois eles ainda não anunciaram quem concorrerá nas eleições presidenciais, suas respectivas equipes já começam a esquentar a disputa,” opina Iurgens.
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