Especialistas em realidade emergente

Schwarzenegger visita Skôlkovo em 2010, ainda no cargo de governador da Califórnia

Schwarzenegger visita Skôlkovo em 2010, ainda no cargo de governador da Califórnia

Escola de administração de Skôlkovo tem curso focado em mercados em crescimento.

Quando o canadense Kane Cuenant procurou um curso de MBA, cogitou Harvard, o  MIT ou mesmo a Universidade Tsinghua, na China, mas acabou optando por estudar na recém-inaugurada Escola de Administração de Skôlkovo, a 20 quilômetros de Moscou. “Procurei diferentes instituições em países com mercados consolidados, mas isso não parecia real o bastante. Sabia que queria trabalhar em mercados emergentes e gostaria muito de entender como fazer isso.”

Cuenant é um dos primeiros 40 graduandos de Skôlkovo, e se formou em novembro. Ele afirma que a ênfase do programa em habilidades práticas para trabalhar nos mercados que lhe interessam foi fundamental para sua escolha. Além de russos e cidadãos de regiões da antiga União Soviética, os graduandos da primeira turma vêm de países como Brasil, Alemanha e Índia.

O que levou o jovem canadense a escolher essa escola e não a equivalente chinesa foi sua grade curricular, baseada no modelo americano, que fez de Skôlkovo o primeiro MBA da Rússia com chances reais no cenário global.

Brasileiros

Formado na primeira turma de MBA integral de Skôlkovo com o canadense Cuenant, o brasileiro Nicholas Wiczer chegou à escola orientado por um consultor de MBA. “O pessoal do MIT, que tem parceria com eles, falou muito bem, aí eu me inscrevi, mas fiquei na dúvida. No final, fiz o curso e gostei muito”, disse. “O ensino que eles estão promovendo é inovador. Não há uma fórmula que se possa copiar”, completa.

O material em inglês proposto pela escola russa foi idealizado para ensinar os estudantes sobre como funcionam, na vida real, os negócios em um mercado emergente. Para Marcus Alves, que deixou o cargo de gerente regional da Kimberly-Clark em São Paulo para integrar a segunda turma da escola, “a ideia que se tem é de que a Rússia é um país atrasado”, mas, segundo ele, “os russos estão muito mais abertos para tudo, e é por isso que este projeto é tão inovador”.

Emergentes

O reitor de Skôlkovo, Wilfried Vanhonacker, mudou-se para a Rússia em 2008, depois de criar a Escola Internacional de Negócios China-Europa (CEIBS), em Xangai. Inaugurada em 1994, a CEIBS entrou para o ranking dos 20 melhores MBAs do jornal britânico Financial Times.

Na escola russa, Vanhonacker transferiu a ênfase do aprendizado em sala de aula para um programa no qual os graduandos gastam mais de 70% do tempo em desafiadores ambientes de empresas que atuam  em mercados emergentes ou em departamentos do governo. “Estamos tentando trazer a realidade para as salas de aula”, garante.

Grande parte do crescimento das multinacionais nos próximos 20 anos estará em mercados emergentes dinâmicos, nos quais o ambiente de negócios é volátil e incerto, e os gestores já enfrentam tanto a escassez de talentos quanto falhas institucionais e de infraestrutura. O reitor explica que o MBA de Skôlkovo foi desenvolvido para preparar os alunos para esses desafios.  “As escolas de negócios tradicionais já não estavam preparando os talentos de que o mercado precisa – líderes empresariais capazes de trabalhar em ambientes difíceis”, afirma Vanhonacker.

Obstáculos

Os estudantes de Skôlkovo devem enfrentar dificuldades que vão desde a sobrevivência por dois meses num dormitório de cidade fabril na China – lidando com o cotidiano do mercado de manufatura da grande oficina global que o país se tornou–, até ajudar burocratas russos a preparar projetos de lei que serão posteriormente enviadas ao Parlamento.

Além de áreas já consolidadas por MBAs do Ocidente, como contabilidade, macroeconomia e marketing, o curso tem como um de seus objetivos colocar os graduandos em situações de pressão, lidando com diferentes culturas, a fim de que aprimorem suas habilidades de cooperação. 

Para alunos ocidentais, Skôlkovo significa um olhar profundo e pessoal sobre a burocracia e a corrupção que vêm junto com a prática de negócios em mercados emergentes. Já para os russos, o curso também ajuda a entender a vida corporativa na China, na Índia e nos Estados Unidos, bem como em sua terra natal.

O canadense Cuenant conta, por exemplo, que o volume de papéis necessários para dar andamento a processos comuns na China e na Rússia o surpreendeu. “Uma tarefa de banco nos Estados Unidos requer apenas um formulário, três ou quatro informações e uma assinatura. Na Rússia, a mesma operação requer quatro formulários, cinco informações e quatro assinaturas”, conta. “Na China, são no mínimo sete formulários, oito informações e quatro assinaturas, e como alguns dos formulários são preenchidos por funcionários, os clientes devem ainda aguardar que a operação seja concluída.”

Sob tutela

Ainda que a aprendizagem experimental seja por vezes desgastante, as turmas pequenas permitem um acompanhamento individualizado. Cada aluno trabalha com um mentor do mundo dos negócios que pode ajudá-lo a aprimorar seus objetivos, além de expandir sua visão da vida em diferentes companhias e ambientes.

Os professores também selecionam aleatoriamente grupos de alunos para trabalhar em projetos, na tentativa de incentivar os choques culturais e de personalidade que enfrentarão na vida real. “Não permitimos que os alunos escolham seus próprios grupos até que cheguem à fase final do curso e tenham de lançar uma companhia startup,” diz Vanhonacker. “Você não escolhe os colegas de trabalho em uma empresa”.

A escola planeja receber 240 estudantes de MBA por ano e até 300 estudantes do chamado “EMBA” (Executive MBA) quando atingir sua capacidade operacional total em 2014. Em 2009, a primeira turma de MBA de Skôlkovo tinha 40 alunos. Apesar desse número ter caído para 33 no ano seguinte, o total de estudantes que se matricularam para o EMBA (que dura 18 meses e permite aos alunos que já trabalham estudar apenas meio-período) aumentou de 21, em 2009, para 37 em 2010.

A experiência de trabalhar na Rússia, na China e nos Estados Unidos, de acordo com Cuenant, é incalculável. “Trabalhar com oficiais do governo de mercados em desenvolvimento é algo que você simplesmente não consegue aprender em uma sala de aula. A maioria dos estudantes que se matriculam em Skôlkovo não está atrás de um mero emprego de escritório. Eles buscam algo mais”, afirma.

Todos os direitos reservados por Rossiyskaya Gazeta.

Este site utiliza cookies. Clique aqui para saber mais.

Aceitar cookies