Atualmente 11 universidades islâmicas são patrocinadas pelo goveno russo/Foto: Uty Kozyrev(2)
Numa recente manhã de fim de semana, seis jovens mulheres cobertas por longos vestidos e lenços coloridos na cabeça esperam impacientes por um ônibus no campus do Centro de Educação e Ciência da Universidade Islâmica do Cáucaso do Norte, em Makhatchkala, capital do Daguestão. Sérias e silenciosas, as estudantes do primeiro ano preparam-se para seu primeiro “zairat”, uma importante visita ao xeque que faz parte dos rituais do islamismo sufi. “Este é o dia mais importante da minha vida”, disse Renata, de 18 anos, que segue o sufismo, movimento místico dentro do Islã. “Agora vou descobrir se posso me tornar a “murid” [seguidora] do meu professor. Meu coração vai saber a resposta assim que eu vir o xeque”, explicou.
A forma de religião praticada por Renata e suas colegas é um ramo moderado do islamismo que o Estado russo começou a incentivar.
O incentivo governamental a essas instituições se dá principalmente por meio de subsídios. A medida soma-se ao esforço para combater o extremismo religioso e o doloroso conflito marcado por ataques suicidas e pelo assassinato de policiais, prefeitos e líderes religiosos que tomou conta do Daguestão e de outras repúblicas russas na região do Cáucaso do Norte.
Atualmente o governo russo investe verbas em onze universidades islâmicas, sendoquatro apenas em repúblicas do norte do Cáucaso.
Rufik Mukhamedshin, o reitor da Universidade Islâmica Russa em Kazan, disse que espera que o Estado também padronize os diplomas concedidos por institutos educacionais islâmicos, garantindo que esses documentos sejam aceitos por todo o país.
Sem auxílio do governo, Madraçal (centro de estudos) de Gubden oferece programa intensivo para mulheres
De acordo com os planos do Fundo do Kremlin para o Apoio da Cultura, Ciência e Educação Islâmica, todos os anos serão aplicados cerca de US$ 13 milhões em programas educacionais, bolsas de estudos e publicações.
Segundo a direção da Universidade Islâmica do Cáucaso do Norte seu principal objetivo é propagar a religião de uma forma que o governo ache aceitável. Além de assuntos islâmicos, seus 1,5 mil estudantes aprendem também Jornalismo, Economia, História Estatal, Direito e Finanças.
“Como reformadores, estamos criando métodos educacionais unificados para treinar futuros professores de islamismo”, diz Maksud Sadikov, reitor do Centro Universitário e presidente do recém-fundado Conselho Russo de Educação Islâmica.
Mas a criação de uma versão oficial do islamismo e a marginalização daqueles que deixem de aderir a ele equivalem a estimular o extremismo violento, ao invés de diminuí-lo, de acordo com alguns ativistas dos direitos humanos.
"Para reformar o islamismo na Rússia, as autoridades precisam fazer um esforço para ouvir todos os líderes religiosos, e não apenas os que lhes são leais", afirma Tatiana Lokshina, vice-diretora do Human Rights Watch na Rússia.
Nem todas as universidades islâmicas do Daguestão querem fundos ou ajuda de Moscou. No tradicional município de Gubden, fundado há mais de 5 mil anos e distante cerca de 250 quilômetros da principal cidade da região, Makhatchkala, a comunidade islâmica sobreviveu às mudanças políticas.
Na última década, os islâmicos conservadores reconstruíram sua madraçal (centro de estudos). Além disso, os imãs (chefes islâmicos) usaram dinheiro de contribuições para montar pequenos negócios a fim de manter a independência financeira das escolas.
No ano passado, a universidade de Gubden perdeu a licença estatal. Mas o reitor, Akram, disse que isso não impediu seus 500 estudantes de comparecer às aulas.
"Tudo o que queremos do Estado é que nos deixe em paz. Ensinamos o islamismo a nossos filhos durante centenas de anos, temos nossos velhos livros e nossos ulemás para ensinar", diz Akram.
Iúri Mikhailov, um escritor religioso, também argumenta que diferentes visões do Islã deveriam ser debatidas, e não suprimidas.
"O Daguestão não pode resolver seus problemas apenas através de métodos policiais. Assim nós simplesmente empurraremos os religiosos oposicionistas para fora da sociedade e para dentro do movimento de guerrilha", comenta Mikhailov. "A mídia livre e a sociedade civil é que deveriam se tornar os canais para discussões acaloradas", diz.
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