No mês passado, Oleg Káshin, repórter do jornal Kommersant, foi agredido brutalmente perto de sua casa, no centro de Moscou. No mesmo dia, uma gravação de circuito interno com imagens do ataque vazou na internet. Embora não seja possível reconhecer os agressores, fica claro que a intenção não era apenas intimidar ou ameaçar o jornalista, mas sim matá-lo. É um milagre que o repórter do maior diário russo esteja vivo depois ter sua cabeça atingida tantas vezes por uma barra de ferro.
Esse foi mais um ataque brutal a um jornalista no país, onde oito pessoas já foram assassinadas neste ano “devido a suas profissões”, e 40 ataques foram registrados.
No mesmo período, outro jornalista foi atacado em Jukovski, nos arredores de Moscou – felizmente resultando em ferimentos menos graves. Ele era uma voz crítica contra o extenso desmatamento de uma floresta vizinha que dará lugar a uma estrada em construção.
Dois dias antes da violência contra Kashin, o ativista ambiental Konstantin Fetisov foi selvagemente espancado em Khímki, outra cidade nos arredores de Moscou, e entrou em coma.
Todos esses ataques foram manchete tanto na impresa escrita quanto na internet, mas foi o cruel acontecimento envolvendo Oleg Káshin que gerou maior revolta na comunidade jornalística. O fato recebeu cobertura extraordinária de todos os canais de televisão nacionais. No mesmo dia, o presidente Dmítri Medvedev fez um anúncio público garantindo que os culpados seriam punidos e que ele supervisionaria a investigação pessoalmente. A polícia prometeu grandes recursos para averiguar o crime.
Nenhum caso do gênero foi satisfatoriamente investigado até agora. Agressores já foram encontrados, mas a polícia nunca chega à identidade dos mandantes.
Por que os jornalistas são alvo de ataque na Rússia? A menos que seja no Cáucaso, onde o homicídio é um passatempo comum, nas demais regiões russas o risco de matar seu opositor como solução para um problema não compensa. Em geral, esses crimes são cometidos por interesses comerciais – normalmente associados à corrupção governamental –, cuja revelação pública possa ser ameaçadora. É óbvio que campanhas de grupos ambientalistas locais, como é o caso em Khímki, entram em conflito com os objetivos de determinados grupos, geralmente mancomunados com oficiais locais ou federais corruptos.
A imprensa e uma parcela da população - embora não a maioria – continuam questionando quem gostaria de ver Káshin morto e por quê. A maioria acredita que a polícia vá encontrar os agressores, mas que há poucas chances de prender os mandantes. Alguns também sugerem a criação de novas leis para proteger jornalistas.
Uma legislação protetora é, sem dúvida, bem-vinda. Mas, para fazer com que funcione, a sociedade russa deve passar por uma terapia política. Jornalistas são assassinados em muitos países do mundo, inclusive nos desenvolvidos. Esse perigo, no entanto, é maior em sociedades que têm pouco respeito pela veracidade das informações veiculadas na mídia.
Para a Rússia, a terapia deve ter como objetivo principal o desenvolvimento de uma sociedade mais aberta. Isto é, deve-se pressionar as autoridades para publicarem informação, proibir o uso arbitrário de classificações como “secreto” em relação a certos documentos e acabar com restrições que limitam o acesso público a dados teoricamente oficiais.
É preciso também punir aqueles que sonegam informação e ignoram as solicitações da imprensa, além de adotar uma lei de liberdade de expressão e veiculação de dados. Combinados, esses passos vão diminuir os riscos aos jornalistas. Quanto mais acessíveis forem as informações sobre os órgãos do governo e negócios em geral, mais comum se tornará o hábito de conversar claramente com a imprensa, e menor será a motivação para matar aqueles que disserem algo que incomode certas pessoas.
Gueórgui Bovt é um comentarista político baseado em Moscou
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