Principais indicadores macroeconomicos
Enquanto a Europa Ocidental está mais uma vez diante do abismo da inadimplência, a Rússia voltará a ter forte crescimento em 2011. O país, no entanto, está condenado a um infinito ciclo de expansão e retração, a menos que a estrutura da economia seja fundamentalmente alterada.
Pelo menos foi isso o que expressou o trio de altos oficiais que modela grande parte da política econômica e financeira da Rússia, formado pelo vice-ministro da economia Andrei Klepatch, o vice-ministro das finanças, Dmítri Pánkin, e o vice-presidente do Banco Central russo, Aleksei Uliukaev.
O pronunciamento foi feito na Conferência Financeira Anual Russa do Instituto Adam Smith, no início de dezembro. Na oportunidade, o trio esboçou um panorama da Rússia para o próximo ano.
Enquanto a maior parte dos países desenvolvidos precisa lidar com enormes dívidas, as quais não podem quitar em virtude de grandes déficits orçamentários, a Rússia tem a menor relação dívida/PIB entre os maiores países do mundo. Um relatório feito pela Goldman Sachs diz que o déficit do país poderia inclusive desaparecer no próximo ano, e que o crescimento econômico irá atingir a marca de 4% ou mais nos próximos anos.
“A Rússia dispõe de uma relação dívida/PIB baixa, de cerca de 10%, portanto podemos pedir empréstimos e permanecer relutantes no corte de gastos. A projeção de déficit é de 4,8% para este ano, 3,6% para o próximo, e assim por diante até que atinja nível zero em 2015”, disse Pánkin.
O problema é que os altos gastos públicos estão mantendo o comércio em movimento, mas se a natureza econômica da Rússia não for alterada, o país irá se deparar com a “armadilha da desvalorização periódica”, afirma Klepatch.
Segundo ele, se o governo não fizer mais do que suprir a economia por meio de companhias estatais, a Rússia estará fadada a ciclos econômicos de expansão e retração, dependendo do mercado de commodities.
Diferentemente de seus pares do Ocidente, a Rússia tem a vantagem de dispor de tempo e espaço para promover essa transformação, e pelo que parece a economia russa vem se recuperando favoravelmente da crise de 2008.
“No quarto trimestre observamos o início de captação de investimento, que foi mais rápido do que se previa: estávamos esperando 2,5%, mas em outubro tivemos de 5% a 6%”, disse Klepatch. “Ao mesmo tempo, a taxa de desemprego caiu mais rápido do que o esperado”, completou.
Embora a média da população do país ganhe mais do que no início da crise, o consumo agora atinge níveis bem inferiores às previsões do governo.
“As rendas ainda estão em crescimento, mas num ritmo inferior ao do período pré-crise. No entanto, esperamos que a concessão de empréstimos aumente, fato que é compensado pelas mudanças nos níveis de poupança da população”, disse Klepatch.
Do mesmo modo, incentivou-se o investimento, que ficou mais uma vez concentrado nas empresas estatais, enquanto as empresas privadas definham.
Com o aumento das importações e crescente déficit na conta corrente, pode haver, ainda, outra crise de desvalorização do rublo, segundo Klepatch. “Outra possibilidade é abrir nossa economia dramaticamente a investidores estrangeiros, obtendo assim um fluxo estável de investimentos”, completou.
“Esperamos crescimento para concessão de empréstimos de até 12% até o fim do ano e o empréstimo de varejo está crescendo mais rápido do que o corporativo”, afirmou o vice-presidente do banco central russo Aleksei Uliukaev.
O maior entrave para o crescimento da Rússia é a falta de confiança entre as pessoas e os proprietários de pequenos negócios. Graças à crise, o Kremlin está agora ciente do problema, que é o foco da modernização do presidente russo Dmítri Medvedev. E 2011 será o ano chave para o Kremlin mostrar se é capaz de promover uma mudança fundamental em suas bases.
“A economia está agora começando uma nova fase de crescimento, na qual haverá maiores mudanças qualitativas. Caso contrário, não será competitiva e não poderemos fugir das desvalorizações periódicas”, afirmou Klepatch.
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