Alrosa produz 99% dos diamantes brutos da Rússia/ Foto: Reuters/Vostockphoto
Detentora de um terço das reservas globais de diamante, a maior mineradora mundial da pedra preciosa, a Alrosa, recebeu aprovação preliminar para mudar seu status legal e vender ações com o objetivo de financiar um ambicioso programa de investimentos.
Legisladores da região siberiana de Iakutia, que detém 40% do mercado russo de diamantes, deram sinal verde para reestruturar a empresa e abrir seu capital, o que vai permitir que a mineradora, em dificuldade financeira, lance um IPO (a oferta pública inicial de ações) para levantar dinheiro até 2012.
A zona diamantífera da Rússia localiza-se a seis horas de voo de Moscou. Ela está situada em meio a uma densa floresta de coníferas, permanentemente congelada e a -50ºC – chegando até mesmo a temperaturas abaixo de -70ºC em algumas áreas.
Em junho de 1955, geólogos soviéticos que buscavam diamantes na Iakutia descobriram o maior depósito diamantífero da então URSS, a jazida de kimberlito Mírni (“da paz”, em russo). A descoberta foi o ponto crítico para o destino da região e formou a base de sua economia depois que a mineradora se instalou no centro industrial de Mírni.
A renda das vendas de diamantes gerava 80% do orçamento regional até poucos anos atrás, quando ficou claro que o governo da Iakutia, sozinho, não podia proteger a Alrosa da concorrência das companhias internacionais e o Estado assumiu o controle da companhia. Assim, a Agência Federal para Gestão da Propriedade Estatal passou a controlar 51% da companhia; o governo da Iakutia, 32%; oito administrações municipais, 8%; e acionistas individuais ou corporativos, outros 9%. Agora, o governo federal decidiu privatizar a empresa e vender grande parte das ações para investidores estratégicos.
A demanda e os preços do mercado de diamantes caíram entre 50% e 60% de 2008 a 2009. Antes de 2001, o grupo De Beers comprava quase toda a produção de diamantes brutos da Rússia, incluindo os pequenos.
Em 2009, porém, sua participação nas exportações da Alrosa caiu a zero. Apesar da crescente pressão sobre o caixa da empresa, não houve corte de pessoal, o que aumentou ainda mais as dívidas da companhia. “Entre dezembro de 2008 e junho de 2009, a dívida da Alrosa cresceu mais de US$ 1,5 bilhão”, diz o diretor de relações públicas da empresa, Andrei Poliakov.
Assim, a direção da Alrosa teve que aceitar US$ 1 bilhão de ajuda do governo. O subsídio, aliado à suspensão da produção da De Beers, fez com que a Alrosa se tornasse a maior produtora de diamantes do mundo, com um aumento na participação global de 22% para 29%, enquanto a da De Beers caiu de 30% para 23%.
Embora o assunto seja polêmico, especialistas acreditam que a transformação da Alrosa em companhia de capital aberto vai atrair investimentos, reduzir a dívida e aumentar a eficiência administrativa. Mas, ainda que a participação da Iakutia se reduza a 25% mais uma ação, ela não perderá o controle da companhia.
“A Alrosa precisa escavar o solo e construir novas minas. Seu programa de investimento para 2011-2012 está orçado em menos de US$ 1 bilhão”, diz Poliakov. Já foram fechados acordos com três bancos de investimento que vão participar do IPO, segundo uma fonte do Ministério das Finanças.
O JPMorgan avaliou recentemente o poder financeiro da Alrosa entre US$ 7,3 bilhões e US$ 9 bilhões. Uma fonte da companhia disse que o IPO poderia acontecer até 2012, ou mesmo no ano que vem. A Alrosa espera vender de 20% a 25% de suas ações por um valor entre US$ 1,5 bilhões e US$ 2,3 bilhões.
Nos próximos cinco anos, a Alrosa pretende aumentar sua produção para um volume de 165 milhões a 167 milhões de quilates por ano (em 2009, a produção caiu a 115 milhões de quilates). Os representantes da companhia esperam que os preços do mercado de diamantes brutos subam em até 55% até 2018.
Com a oferta pública inicial de ações, a Alrosa vai mudar também a estratégia de vendas para algo mais próximo da De Beers, controlando seu suprimento de diamantes brutos – dos quais pelo menos 70 % serão vendidos por contratos de longo prazo, de acordo com a estratégia ajustada para 2012.
Cálculos de especialistas garantem que, no fim ano, tais vendas contratuais devam ter uma participação de 56% na renda total da companhia. Em 2009, essa proporção era de apenas 21%.
A mineradora trabalha atualmente na construção de uma carteira de clientes fieis. Como resultado, no último verão foram assinados contratos de longa duração com 15 companhias belgas, estimados em US$ 500 milhões de faturamento.
A Rússia exportou 12,4 milhões de quilates de diamantes no primeiro trimestre de 2010, gerando US$ 765,8 milhões. No primeiro semestre de 2008, produziu-se no país 6,6 milhões de quilates, no valor de US$ 414,83 milhões.
A Rússia produz cerca de US$ 3 bilhões em diamantes brutos por ano. Depósitos mais antigos, explorados desde o final dos anos 1950, representam aproximadamente 60% das reservas totais. A Alrosa é responsável pela produção de 99% dos diamantes brutos da Rússia.
O mercado doméstico compra cerca de 44% dos diamantes produzidos no país, enquanto o restante é exportado.
O setor de lapidação de diamantes é representado por aproximadamente 150 pequenas empresas, mas o mercado joalheiro do país é dominado por produtos importados.
Até 2009, a Alrosa não vendia diamantes brutos diretamente aos mercados internacionais. Toda sua produção seguia para a divisão sulafricana do grupo europeu De Beers.
No mercado doméstico, os principais clientes da Alrosa são EPL Diamond Group, DDK, Ruis Diamonds Ltd. e Kristall.
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