Todos os anos, a Rússia desperdiça uma quantidade de energia que seria suficiente para, por exemplo, mover toda a economia francesa. Agora, entretanto, o governo russo está determinado a promover mudanças nesse sentido. No dia 21 de outubro, foi aprovado um programa de eficiência energética de quase 10 trilhões de rublos (R$ 550 milhões), que irá reduzir o excesso de energia gasto por fábricas e edifícios cujos funcionamentos ainda guardam resquícios da era soviética.
Segundo o consultor da Climate Change Capital de Londres, Kevin James, os incêndios ocorridos no último verão na Rússia levaram a uma conscientização de que a mudança climática pode ser negativa para o país – ao contrário do que disse o primeiro-ministro Vladímir Pútin, em uma citação que ficou famosa, quando ele afirmou que o aquecimento global faria com que os russos gastassem menos com casacos de pele.
“As tendências políticas mudaram radicalmente. Há um crescente consenso de que as mudanças climáticas estão ocorrendo, além do desejo de alterar e construir uma economia eficiente”, ressaltou o consultor.
O presidente Dmítri Medvedev já assumiu uma postura muito mais crítica em relação ao meio ambiente. Essa posição tem como base um relatório do World Bank no qual se afirma que o aumento da eficiência, em termos de energia, acaba se refletindo não somente na produtividade, como também na competitividade do país. “O investimento neste setor poderia nos ajudar a economizar o equivalente a cerca de 70 milhões de toneladas de petróleo por ano”, disse Medvedev recentemente. Considerando o mercado atual, esses 70 milhões de toneladas de petróleo custariam aproximadamente US$ 38,5 bilhões.
A Rússia é hoje o maior produtor de petróleo e gás do mundo, e os baixos preços do uso doméstico de energia no país praticamente anularam qualquer motivação para reduzir ou controlar o consumo.
Mas Medvedev tem esperança de que isso irá mudar. Ele planeja fazer com que a economia do país seja 40% mais eficiente em termos energéticos até 2020.
Para isso, o presidente russo já introduziu iniciativas políticas para diminuir a dependência da Rússia em relação ao petróleo. As medidas vão desde a decisão de reduzir progressivamente o uso de lâmpadas incandescentes até o estabelecimento de diretrizes acerca da energia elétrica gerada por meio do uso de tecnologias verdes.
No entanto, no ranking da energia limpa, a Rússia continua muito atrás da China, que já é líder no desenvolvimento de turbinas para produção de energia eólica e painéis para energia solar e que está no caminho para desenvolver o primeiro carro completamente movido a eletricidade do mundo.
Mesmo assim, com os passos já dados a Rússia caminha na direção certa. Nos últimos meses, o governo anunciou oito projetos de construção de fábricas que produzirão lâmpadas econômicas. Segundo a Rostov-teploelektroproekt, companhia especializada em projetar usinas de energia e equipamentos de engenharia, a primeira usina solar da Rússia será construída no próximo ano na cidade de Kislovodsk, no norte do Cáucaso. Estimada em 3 bilhões de rublos (R$ 165 milhões), a usina de 13 megawatts é pequena, mas deve ser a primeira de uma série de usinas solares e eólicas.
A empresa já tem outros projetos, avaliados em quase US$ 300 milhões, para desenvolver energia eólica e solar na região de Krasnodar, no sudoeste do país. O projeto eólico ocorrerá em duas fases, com capacidade de produzir um total de 100 megawatts. O trabalho poderia começar já no próximo ano, dependendo das aprovações necessárias. A Siemens também deve participar do projeto.
Além disso, a produtora russa de energia RusHydro já tem planos de construir um parque de energia eólica em São Petersburgo.
Paralelamente, as hidroelétricas também ganharam terreno. Em junho, a gigante italiana Enel e a RusHydro assinaram um acordo de cooperação para trabalharem em projetos de energia renovável, incluindo energia maremotriz e geotérmica e venda da energia produzida para o varejo.
O desenvolvimento de biocombustível também está progredindo no país. A Itera, produtora russa de gás natural, pretende construir um complexo de metanol no Distrito Federal de Ural.
Um projeto de lei foi criado em agosto pelo Ministério Russo de Recursos Naturais e Meio Ambiente para obrigar as fábricas russas a reciclar material que atualmente jogam fora. Entre eles há resíduos que podem ser reutilizados, por exemplo, em usinas de biocombustível.
Por fim, a Rússia ainda vem apostando em automóveis ecologicamente corretos.
No início deste ano, o multibilionário Mikhail Prokhorov declarou que vai iniciar a produção em massa de carros populares elétricos por meio de um projeto que recebe o apoio pessoal do primeiro-ministro Pútin.
Os três primeiros protótipos do carro, estimados em US$ 12 mil, devem sair da esteira de produção já em dezembro deste ano.
Alguns, porém, continuam céticos quanto à revolução verde anunciada na Rússia. “O governo não tem uma postura verde, e muitas políticas não respeitam o meio ambiente” , assinalou Vladímir Tchouprov, representante do Greenpeace.
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