Foto: ITAR-TASS/RIA NOVOSTI
Oposição receia passado político de novo prefeito Serguei Sobiânin, que na Sibéria era visto como inimigo da imprensa livre
Idealizada para simbolizar o renascimento da liberdade na Rússia depois do comunismo, a Catedralde Cristo Salvador, em Moscou, recebeu doações de todo país para sua restauração durante a gestão de Lujkov. Monumentos e obras que remetem a seu mandato estão espalhados por toda a cidade, e incluem até mesmo a avenida circular de dez faixas que contornam a capital.
Na memória da população, o prefeito também ocupa lugar de destaque. “Ele pagou as mais altas pensões da nação quando nós vivíamos à beira da fome. Manteve as ruas limpas e o calor durante o inverno”, lembra o pequeno comerciante Serguei Danilov, sobre os anos 90.
Mas também não faltam reclamações sobre a quantidade de dinheiro que teria sido desviada ao longo dos anos. Lujkov passou a governar Moscou a partir de 1992, quando foi escolhido pelo presidente Boris Iéltsin para comandar a cidade após a renúncia de Gavriil Popov. Depois, venceu as eleições municipais em 1996, 1999 e 2003. E, desde então, já foi acusado de tudo – da demolição ilegal de prédios históricos e tombados para dar lugar a torres de escritórios até concessão de contratos favoráveis a sua esposa, Elena Batúrina, magnata da construção e única mulher bilionária da Rússia.
Além disso, viu sua reputação manchada, por exemplo, pela criação do centro histórico de Moscou, que deu margem à construção de alguns projetos duvidosos, pelo intenso trânsito da cidade, em contraste com o rápido aumento no valor dos impostos para automóveis, além das denúncias de manipulação em negócios públicos.
Aparentemente, a gota d’água para a opinião pública se deu quando deixou a capital em chamas, no verão, no meio do ano, para tirar férias na Áustria.
Em setembro deste ano, os três canais nacionais controlados pelo governo transmitiram documentários comprometedores sobre o prefeito. Foi a primeira vez desde os anos 90 que a mídia estatal desacreditou no ar uma figura política nacional.
Na mesma época, depois de se recusar a deixar o cargo, Lujkov foi finalmente afastado do governo pelo presidente Dmítri Medvedev, que alegou “perda de confiança” no ex-prefeito.
Medvedev, que desde 2004 passou a nomear líderes regionais, submeteu a candidatura de Serguei Sobiânin ao Duma (a Câmara dos Deputados russa), que prontamente o elegeu prefeito.
Sobiânin veio da região de Tiumen, uma área rica em petróleo localizada na Sibéria Ocidental. Governador popular, foi levado para a política nacional em 2005 pelo então presidente Vladímir Pútin para liderar a administração da presidência. O principal jornal econômico da Rússia, o Vedomosti, sintetizou seu comportamento de forma sutil: “Sua habilidade de mudar de acordo com a linha do partido no poder, típica dos burocratas soviéticos, ajudou-o diversas vezes durante a carreira.”
Sobiânin já destacou duas prioridades para o governo de Moscou: lutar contra o trânsito e revisar o projeto de desenvolvimento da cidade até 2020. Ele também falou sobre deter a destruição do centro histórico em favor da melhoria do transporte público e impediu a construção de um edifício comercial no local, além de adiantar em uma hora o período de trabalho dos funcionários da prefeitura para reduzir o trânsito.
Sua abordagem é diferente da praticada por seu antecessor, que explorava desde a construção de vias sobre o teto de edifícios residenciais até estacionamentos debaixo d’água.
Desde o afastamento de Lujkov, partidos de oposição e ativistas conseguiram importantes vitórias. Representantes do movimento gay, antes banidos pela polícia, fizeram sua primeira manifestação legal em outubro. Além disso, uma grande demonstração pedindo o afastamento legal do primeiro-ministro Vladímir Pútin, comandada pelo campeão mundial de xadrez e crítico do Kremlin, Gary Kasparov, foi realizada de forma pacífica no fim de setembro. Em outubro, o grupo de oposição Estratégia 31, que não conseguia conduzir um comício legal há quase um ano e meio, finalmente realizou seu primeiro movimento na Praça do Triunfo.
Os críticos, contudo, atribuem esses eventos mais ao vazio criado após o afastamento de Lujkov que à atuação de Sobiânin, afirmando que ele era conhecido como inimigo da imprensa durante seu governo na Sibéria.
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