Pode ser que a Rússia esteja mais associada a dias longos e escuros de inverno do que a calor e biquínis, mas isso não impede empresas privadas de se arriscarem no crescente mercado de energia solar.
Embora o governo ignore as fontes de energia renováveis e a economia da Rússia esteja solidamente baseada no petrodólar, alguns profissionais da área industrial acreditam que a energia solar tem pontos a favor.
“O fato é que há muito sol na Rússia também”, afirma Marat Zaks, executivo-chefe da fabricante de painéis Solar Wind. “A Alemanha é o país que mais utiliza energia solar do mundo. Por acaso a Alemanha é um país ensolarado?” questiona.
Localizada na região de Krasnodar, no sudoeste da Rússia, a Solar Wind exporta a maior parte dos painéis solares que produz, mas seu objetivo é ver o mercado interno crescer, meta à qual se aplica com afinco.
“Se recebemos um pedido de um cliente russo, tentamos terminar o serviço rapidamente, a fim de fomentar o desenvolvimento do mercado no país”, conta Zaks.
Muitas empresas russas estão criando empreendimentos conjuntos com a Rusnano, corporação de tecnologia do Estado, para atender as necessidades locais.
A Solar Wind, por exemplo, inicia um projeto de 4,8 bilhões de rublos (R$ 260 milhões) com a agência estatal para produzir painéis solares dupla-face de uso doméstico.
A fábrica deve entrar em funcionamento até abril do ano que vem, e terá capacidade de produção anual inicial de 30 megawatts – chegando a até 120 megawatts por ano no futuro.
“O volume de vendas domésticas da Solar Wind é ainda muito pequeno se comparado à quantidade de exportações”, compara Zaks. Seus clientes locais são empresas privadas e governos regionais, e a companhia exporta painéis solares para mais de 22 países, incluindo Alemanha, Reino Unido e Estados Unidos.
A energia solar poderia se tornar uma alternativa real para as tradicionais fontes de energia em diversas regiões do país.
“A região de Krasnodar e a maior parte da Sibéria possuem nível de exposição solar comparável ao do sul da França e da Itália central, locais onde o aproveitamento da energia solar está em alta. Já na região de Zabaikalski absorve-se mais energia solar que na Espanha”, diz Vasíli Malakha, chefe do departamento de monitoramento ambiental do Conselho de Eletricidade e Energia da CEI (Comunidade dos Estados Independentes).
O empresariado da região administrativa de Krasnodar começou a se interessar por energia solar depois do lançamento de um programa de eficiência energética em 2006. No total, 7 mil metros quadrados de painéis solares foram distribuídos por Krasnodar desde então, segundo o site do governo local.
Os painéis solares são usados na região não somente para a produção de energia, mas também para o aquecimento de água.
O teto do hospital central da pequena Ust-Labinsk, 60 quilômetros a nordeste de Krasnodar, está sendo coberto por 300 painéis solares. A instalação de 600 metros quadrados vai aquecer cerca de 28 metros cúbicos de água por dia.
“A eficiência desse sistema tende a ser menor no inverno, porque é bastante frio, mas a água estará quente de qualquer modo e é disso que precisamos”, afirma o chefe adjunto do hospital, Alexander Kiseliov. Ele também se mostrou contente com a economia de 1,5 milhões de rublos (quase R$ 80 mil) por ano.
O Grupo Renova, do bilionário Viktor Vekselberg, é parceiro da Rusnano na construção de uma fábrica de painéis solares na Chuvashia. “A construção da indústria está a todo vapor”, disse Vekselberg durante um encontro com o primeiro-ministro Vladímir Pútin no mês passado.
A usina, que utilizará tecnologia de filme fino (ou lâmina delgada), atingirá capacidade máxima de produção em 2012. “É o primeiro empreendimento deste porte na Rússia. Não há análogos na história” , afirmou. A Rusnano tem participação de 49% no projeto de 20 bilhões de rublos (R$ 1 bilhão).
A Renova pode iniciar a construção das primeiras estações de energia solar da Rússia já em 2012. “A empresa está procurando uma região apropriada para tal projeto, sendo o sul da Rússia a área mais atraente”, disse. Hoje são produzidos com energia solar apenas 2 gigawatts por ano no mundo, número que pode chegar a 150 gigawatts anuais até 2030.
“A energia solar não se tornou popular na Rússia porque seu foco é a exportação de petróleo” , analisa Brigitte Schmidt, membro do comitê da Eurosolar Deutschland, a divisão alemã da Associação Europeia de Energia Renovável. Outro obstáculo é o alto custo das estações de energia solar.
Para se construir uma dessas estruturas hoje é preciso entre R$ 17 mil e R$ 29 mil por quilowatt de capacidade instalada segundo Malakha.
Em comparação, cada quilowatt de capacidade instalado em uma estação nuclear custa até R$ 5 mil, enquanto nas hidrelétricas esse custo gira em torno de R$ 1,7 mil.
O preço pago pela eletricidade produzida nas estações de energia solar também seria alto – 6 a 20 rublos (de R$ 0,30 a R$ 1) por quilowatt hora, dependendo da região.
Os Jogos Olímpicos de Inverno vão aterrisar na cidade de Sôtchi, no sudoeste da Rússia, só em 2014, mas muitas instalações já serão inauguradas dentro de um ou dois anos.
“Sôtchi lidera os novos modelos de construção ultramoderna da Rússia, o que resultará num futuro mais sustentável para o nosso país”, afirma o presidente do Comitê Organizador Sochi 2014, Dmítri Tchernishenko.
O parque olímpico de 800 hectares será controlado por uma única central, com sistema inteligente para regular eletricidade, calefação e água, além de reduzir os custos.
Muitas das instalações também terão tecnologia para reutilização de água, coleta pluvial e uso do calor do solo em sistemas de aquecimento e ar-condicionado. Além disso, o programa ambiental deve garantir que a preparação e a realização dos jogos sejam “livres de resíduos”.
“Muitas de nossas instalações esportivas estão de acordo com os métodos de avaliação ambientais internacionais. Deixaremos um legado de sustentabilidade para toda a Rússia”, diz Tchernishenko.
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