Reprodução do retrato de Aleksandr Blok por P. Borisov /Foto: RIA Novosti
Comecei a ler Aleksandr Blok no início do meu divórcio e talvez isso tenha ajudado em meu fascínio pelo escritor. Considerava-o uma espécie de companheiro da desgraça amorosa. Em meus momentos mais tristes e sombrios, eu lia as juras idealizadas do período mais romântico e abstrato da vida de Blok e, então, fechava o livro, apagava a luz e chorava sem parar.
A vida adulta e a poesia de Blok refletem sua difícil e complexa relação com a noiva-namorada, Liubov Dimitrievna, e sua relação com a própria instituição do casamento. Enquanto a cortejava, o escritor transformou Liubov em sua musa inspiradora, o que resultou em um ciclo de poemas de oito mil versos sobre "A Bela Senhora". Ela era para Blok “a Vênus russa”, imbuída de “castidade impassível e tristeza além de toda medida”. E ele poderia esperá-la incessante e obedientemente, como um escravo. Era o pronome indefinido, um alguém, uma sombra, um vulto indistinto na neblina, mais sentida do que vista. Era o que ele chamava de névoa azul-celeste ou luz brilhante. Na verdade, Liubov era mesmo a inspiração de seu amor adolescente e um ser humano real, cheio de vigor e promessa juvenil. O namoro foi platônico até que ela encontrou uma capela deserta dentro da Catedral de Cazã, onde eles podiam se esconder para longas sessões de beijos apaixonados.
Talvez o poeta se torturasse por pensar ser o único atacado pelos pensamentos sórdidos e carregasse um sentimento de culpa pelo desejo sexual que tinha por aquela que havia elevado a tão alto pedestal. Na virada para o século 20, a psiquiatria freudiana ainda era desconhecida. Blok desenvolveu uma esquizofrenia aguda.
Outra fase que marcou o escritor foi quando o casamento com Liubov, que demorou um ano para acontecer, foi desafiado por um pretendente, Andrei Beli. Block permitiu que Liubov retribuísse o afeto do novo candidato e instalou-se um triângulo amoroso. Por fim, Beli não levou Liubov embora, como havia prometido. Ela voltou para Blok e a partir desse reencontro estabeleceu-se um novo padrão de relação. Tensa, aberta para cortesias de outros, com separação, reencontro e reconciliação.
Com isso, Blok tornou-se o líder incontestável do simbolismo durante a Era de Prata da literatura russa. Pouco a pouco, o tema de seus poemas deslocou-se da Bela Senhora idealizada para o realismo urbano, mas a forma permaneceu complexa, de maneira que o ritmo e a métrica jâmbica, o som de certas consoantes e o uso da repetição e da aliteração criavam no ouvinte uma sensação letárgica e eufórica.
Embora essas qualidades técnicas se percam na tradução para outras línguas, podemos considerar que a construção de tais estruturas, especialmente aquelas com símbolos embutidos, como os criados por Edgar Allan Poe, é uma arte da qual Blok foi o mestre supremo, mesmo ao mudar seus temas para a cidade.
Blok também abraçou a revolução quando ela chegou. Nessa época, produziu seu mais famoso poema, "Os Doze", enquanto se separava de sua própria classe da pequena nobreza, tendo previsto durante anos que tudo seria varrido para longe.
Depois disso, Blok ficou enfermo e tentou fugir do verão infestado pelo tifo em São Petersburgo para o ar puro do campo da Finlândia. Seu pedido de autorização para viajar foi inicialmente negado. Alguns dizem que os atrasos foram planejados, o que faria dele o primeiro intelectual a ser assassinado e martirizado pela nova ordem.
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