Renda per capita dos países do Bric
Há apenas um ano, logo depois de uma crise econômica global que atingiu a Rússia em cheio, analistas pediam a cabeça do “R” do Bric (o bloco de gigantes em crescimento composto por Brasil, Rússia, Índia, China). Agora que a economia se recuperou, alguns estão se perguntando se a Rússia não seria o melhor componente do grupo.
Um relatório divulgado em agosto pelo banco de investimentos russo Troika Dialog coloca o país do leste europeu como melhor aposta que a China ou a Índia. Segundo o autor do documento, Kingsmill Bond, as fraquezas da Rússia são mais destacadas que suas vantagens. E a vantagem mais óbvia é que o país está repleto de todo recurso mineral imaginável – e não apenas petróleo e gás.
“O mercado emergente deve ter um crescimento superior ao da Europa e dos Estados Unidos. Como a Rússia é o principal depósito de matérias-primas do mundo, essa transformação não será possível sem ela”, diz Bond.
Além disso, a maior parte dos investidores internacionais foca na China, que tem uma população de 1,3 bilhão de pessoas e transforma qualquer produto vendido em centenas de milhões de unidades comercializadas. Nesse sentido, é um investimento na quantidade e não na qualidade.
A Rússia tem uma população de 142 milhões de habitantes e representa um mercado muito menor que o chinês. No entanto, o poder de compra do povo russo é duas vezes maior do que o desses asiáticos e cinco vezes maior que o dos indianos.
A renda per capita da Rússia, ajustada ao poder de compra, é de cerca de US$ 19 mil, sendo que a economia ainda está em transição para o capitalismo e quase todo bem de consumo tem uma alta demanda. No Brasil, esse indicador é de US$ 10,5 mil, na China, de US$ 6,5 mil e na Índia, de US$ 3,3 mil.
Bond ressalta ainda que 68% da população russa é considerada de classe média, o que representa aproximadamente 100 milhões de pessoas, contra 31% no Brasil (75 milhões), 13% na China (160 milhões) e menos de 3% na Índia (30 milhões).
A desigualdade social da população também explica a grande diferença no crescimento entre a China e a Índia, de 8% a 10%. A Rússia, que apresenta índice entre 4% e 6%, já possui uma sociedade industrial sofisticada e de população instruída, enquanto os outros dois países entraram agora nesse caminho.
Na Rússia, o número de carros para cada mil pessoas é cinco vezes maior do que na China, por exemplo. Sendo que o tempo de vida médio de um veículo russo é de 11,5 anos, contra 8,5 anos na Europa Ocidental, isso significa que os russos terão que substituir seus carros antes dos europeus, acelerando ainda mais o crescimento do setor automotivo.
“A Rússia tem um potencial imenso na propriedade de carros per capita à medida em que a renda disponível cresce”, diz o estrategista da Renaissance Capital, Tom Mundy.
As ações russas também atraem cada vez mais investimentos, já que a bolsa do país é a mais barata dos principais mercados do mundo.
A relação entre o preço das ações e o lucro por ação das companhias em mercados desenvolvidos, índice que mostra o quanto o investidor está pagando pelo lucro de uma companhia, está tipicamente pouco além da dezena, mas as empresas russas estão negociando bem abaixo, numa proporção de sete vezes. Quanto menor este número, mais vantajosa é uma ação, e as da Índia, do Brasil e da China se situam bem acima, em proporções de 21, 15 e 14 vezes, respectivamente.
“Quando falo com investidores em Londres, sempre recomendo que invistam na Rússia primeiro”, afirma o diretor da companhia de financiamento ING Eurasia, Danny Corrigan. “A Rússia teve um monte de problemas terríveis, mas a economia está aberta a investidores estrangeiros, enquanto as barreiras a negócios na China comunista são muito altas e os indianos simplesmente excluem os estrangeiros de muitos setores.”
Já Bond, da Troika, diz que a Rússia se compara favoravelmente com outros Bric “em dados mensuráveis como a facilidade para fazer negócios, o tamanho do mercado, a transparência, a infraestrutura, saúde, crime, retorno de lucros, cessão de dividendos e o coeficiente de Gini”.
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