Com aumento da produção, Rússia importa cada vez menos/Foto: Reuters/Vostock-photo
O recente embargo russo a frigoríficos exportadores, entre eles três brasileiros (dois da JBS e um da Seara Alimentos), não impediu que o Brasil se tornasse em 2010 o líder absoluto nas exportações para a Federação Russa de três tipos de carne - de frango, bovina e suína.
Os Estados Unidos foram desbancados e não estão nem entre os três maiores exportadores de carne suína. Além disso, os EUA caíram para a terceira posição do ranking da exportação de carne de frango, sendo também ultrapassados pela Alemanha.
Ainda no final de setembro, a Rússia iniciou o embargo temporário sobre a importação de carne suína de dois frigoríficos norte-americanos da companhia SmithField Packing.
O motivo alegado foi a descoberta de antibióticos do grupo tetraciclina, proibido pelas normas russas, entre os produtos da empresa.
Mas junto à carne suína norte-americana também foi suspendida temporariamente a importação do produto de 12 empresas em seis países europeus e ainda antes disso, de dois frigoríficos espanhóis e três argentinos.
Em alguns desses produtos, além dos antibióticos, foram detectados micro-organismos anaeróbicos, bactérias E. coli, listeria e salmonela.
Apesar do medicamento tetraciclina não apresentar perigo imediato, sua ingestão regular pode ter efeitos não desejados em humanos. Um deles é a diminuição dos efeitos de remédios antibióticos em pessoas submetidas ao consumo. Na Rússia, epidemias de resfriados e de gripe comum ocorrem uma ou duas vezes por ano, e os órgãos sanitários não querem correr riscos por conta dos lucros dos pecuaristas dos Estados Unidos.
Brasil supera os Estados Unidos na exportação de carne para a Rússia/Foto:Reuters/vostock-photo
Não é a primeira vez que os serviços sanitários embargam produtos norte-americanos. Segundo especialistas russos, 41 frigoríficos foram incluídos na lista de exportadores aptos a fornecer carne suína para a Rússia, sob a garantia oficial do governo de Washington. No entanto, já foram impostos embargos temporários a 26 deles. O quadro da carne bovina norte-americana não está melhor. Dos 32 frigoríficos certificados na Rússia, 21 estão sob regime de controle intensificado devido à descoberta de antibióticos ou contaminação por bactérias.
Mas epidemias animais são alarmantes na própria produção russa. Segundo Anna Evangeleeva, analista do site MeatInfo.ru, entre janeiro e fevereiro o país registrou 54 casos de peste suína africana, nove de peste suína clássica, um de gripe aviária e um de febre aftosa. Isso pode retardar os planos da Rússia de desenvolver a produção doméstica, mesmo depois de um grande salto produtivo dos fazendeiros locais, que têm contado com subsídios do Estado.
Até pouco tempo, a participação da carne de frango nacional no consumo era inferior a 40%. A quantidade de frango importado dos EUA era tanta que o produto foi apelidado como “pernas de Bush”, em homenagem a Bush pai, sob cuja gestão começaram as exportações da ave para a Rússia.
Nos últimos anos, entretanto, a produção russa recebeu grandes investimentos estatais e privados. Graças a isso, a produção nacional passou a ocupar de 70% a 75% do consumo.
Já o aumento de produção de carne suína não se tornou tão relevante, ainda que tenha sido notável nos últimos anos. Nos sete primeiros meses de 2010, a produção subiu 28,7%, se comparada com o mesmo período de 2009.
Por enquanto, somente a população de gado bovino e a produção de carne estão diminuindo. Segundo Anna Evangeleeva, a produção entre janeiro e julho deste ano diminuiu 3%, se comparada com o mesmo período do ano passado. Mas a analista também destaca que a carne de frango ocupa 75% do total de consumo na Rússia, a suína 20%, e a bovina somente 4%.
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