O governo russo quer ter suas próprias universidades de nível internacional. Mas para isso precisa introduzir o conceito de diferenciação na educação superior e deixar claro que nem todas as universidades são iguais em qualidade de ensino e potencial de pesquisa.
Seguindo o exemplo notável da China, mas também de países que vão da Alemanha ao Paquistão, o governo russo está implementando um ambicioso programa de qualificação e modernização de um grupo seleto de universidades. Mais de duas dúzias das vencedoras das competições realizadas no outono de 2009 e no inverno deste ano estão recebendo fundos e direitos adicionais para compor seus próprios currículos. Em troca, espera-se que estas instituições de ponta melhorem a administração, atraiam pesquisadores mais jovens, aperfeiçoem o treinamento do corpo docente e, em última análise, produzam mais e melhores pesquisas e se tornem visíveis no cenário acadêmico global.
Tal diferenciação é urgentemente necessária. Um dos problemas que atormentaram a educação superior russa nos anos pós-soviéticos foi a baixíssima competição entre as universidades. Embora alguns dos melhores estudantes de cada região se candidatem todo ano às faculdades mais prestigiadas de Moscou e São Petersburgo, as universidades locais continuam a desfrutar de mercados cativos em suas regiões nativas.
O motivo para isso é o grande aumento na demanda de educação superior que surpreendeu a Rússia pós-soviética, quando a população estudantil mais do que dobrou. Quase todo esse crescimento foi impulsionado por estudantes pagantes (em oposição àqueles candidatos – teoricamente os melhores – cuja educação é paga pelo Estado).
Muitos desses candidatos se interessavam pela educação superior principalmente como um meio de evitar a convocação para o exército. Outros eram os primeiros da família a frequentar uma universidade, e não podiam avaliar a qualidade da educação que estavam comprando, ou simplesmente não se importavam com isso. Esse fato criou incentivos óbvios para que as universidades abarrotassem suas salas de aula, comprometendo a qualidade de ensino e abandonando quaisquer tentativas de conduzir pesquisas.
A situação, porém, está destinada a mudar. Devido ao colapso demográfico, o volume de candidatos potenciais em três anos será, na melhor das hipóteses, metade do que era há dois anos. Isto, esperamos, finalmente forçaria as universidades a competirem por calouros e a melhorar a qualidade de seus programas.
Finalmente, a introdução dos exames ao estilo americano, uma versão nacional dos SAT (Scholastic Aptitude Tests), também iria acirrar a competição, tornando a qualidade do estudante aceito por diferentes universidades mais facilmente comparável.
Naturalmente, os desafios são imensos. Para começar, poucos membros da comunidade acadêmica russa conhecem uma universidade de alto nível global. Nossa análise (empreendida pela Nova Escola de Economia de Moscou) de biografias dos reitores das novas “universidades nacionais de pesquisas” mostra que apenas um desses líderes tem experiência de estudo ou trabalho numa universidade estrangeira. De cada 24 reitores pesquisados, 22 se formaram na mesma universidade que agora dirigem, e apenas dez têm qualquer experiência fora da sua universidade de origem. Isso leva a planos patentemente irrealistas, incluindo promessas de se equiparar a Stanford em 15 anos, ou de triplicar o número de artigos em publicações de alto nível em três anos.
Ainda assim, é muito provável que o panorama da educação superior na Rússia deva mudar num futuro próximo. Algumas universidades, felizmente, se transformarão de modo radical e se juntarão às mesas de discussões globais, nas quais a Rússia atualmente só é representada por duas instituições. Mais importante, esperamos que se torne mais fácil para as novas gerações saber em que universidades valerá a pena investir tempo e dinheiro.
Igor Fediukin é um dos diretores da Nova Escola de Economia de Moscou.
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