Depois de o país perder um terço da safra de grãos, governo institui medidas para abastecer mercado interno/Foto: Mikhail Metzel_AP
Há somente dois meses, a Rússia buscava ativamente novos mercados para seus grãos e avaliava as próprias capacidades de exportação em 30 milhões a 40 milhões de toneladas. Negociações com representantes do Japão, da Indonésia e do Brasil estavam em curso para ampliar o leque de compradores, que já conta com países do Oriente Médio, da África e da Europa. No entanto, o extraordinário calor e a seca levaram o país a perder quase um terço de toda a safra - 30 milhões de toneladas. A Rússia se viu na urgência de proibir as exportações até o fim do ano e adiar a realização dos seus planos por algum tempo.
“Buscávamos novos mercados num momento em que era necessário exportar o máximo de grãos sem dar importância a seu destino. Agora a situação mudou. Melhor os brasileiros não contarem com os grãos russos este ano. Mesmo se surgir a possibilidade de exportar, os grãos serão embarcados, provavelmente, para o Oriente Médio e a África. O verão de calor anormal e a seca foram um golpe duro em nossas capacidades de exportação”, informa Arkádi Zlotchevski presidente da Associação de Produtores de Grãos da Rússia.
Somente após a colheita de 2011 será possível falar sobre retorno da Rússia ao mercado internacional. Até lá, a exportação será retida para garantir as necessidades internas e impedir que os preços afetem o bolso do consumidor. “As reservas de grãos no país até o mês de julho do próximo ano poderão ser de aproximadamente 5 milhões a 9 milhões de toneladas. É preocupante”, diz Dmítri Rílko, diretor-geral do Instituto da Conjuntura do Mercado Agrário da Rússia.
Segundo diferentes previsões, este ano a colheita bruta de grãos na Rússia será de 60 milhões a 67 milhões de toneladas, um volume bem abaixo do nível de consumo - de 71 milhões a 75 milhões. A Rússia, porém, conseguirá suprir a necessidade interna graças a suas reservas atuais cerca de 20 milhões de toneladas. A previsão é de que a importação aumente 1,5 a 2 vezes, atingindo o volume de mais ou menos 2,5 milhões de toneladas. Segundo Zlotchevski o produto deve vir principalmente de dois países - Ucrânia e Cazaquistão.
Apesar dos especialistas afirmarem não haver déficit de grãos no mercado, os preços estão subindo. Dados brutos refletem o quadro geral, mas não deixam transparecer os problemas vividos por determinados segmentos. Quando se foca em detalhes, percebe-se que o trigo-sarraceno e os grãos para forragem animal já estão em falta. As safras de trigo-sarraceno foram perdidas com a seca e não há fornecedores desse produto no exterior. No varejo, o valor do trigo-sarraceno aumentou em duas vezes, e em alguns casos até mais. Em algumas grandes redes de mercados simplesmente não se encontra o produto.
Quanto aos grãos para forragem animal, o déficit poderá ser de 3 milhões a 6 milhões de toneladas. O calor aumenta a qualidade do grão. Desse modo, no caso do grão não ter queimado, ele atinge a qualidade para uso humano, diminuindo a safra de forragem, que será de 6 milhões a 10 milhões de toneladas aquém do necessário. As reservas de forragem são de somente 3,5 milhões de toneladas. Entretanto o feno, que poderia ser usado como alternativa, também não foi estocado ainda devido ao calor e à seca.
Após a declaração da moratória de exportação de grãos, os preços internos baixaram 10%. Com auxílio da procuradoria e do serviço antimonopólio (FAS Rússia), o Estado ameaça punir aqueles que fizerem reajustes. Como exemplo, em Moscou os representantes da seção regional do FAS abriram processos contra algumas panificadoras.
O presidente da Rússia, Dmítri Medvedev, determinou ao governo e aos dirigentes dos maiores bancos estatais que prestem ajuda financeira aos agricultores que sofreram com a seca e perda das safras, bem como exerçam o controle do aumento dos preços de alimentos. Além disso, foi solicitada ao governo a apresentação de propostas para a formação de um sistema de seguros de riscos agrícolas economicamente eficiente. Nesse ano, somente um quinto das áreas semeadas foi segurado. O sistema atual não dá aos agricultores a segurança de receber as compensações previstas, e por isso eles preferem esperar uma compensação do Estado. O presidente solicitou analisar a possibilidade de renovação dos créditos, a reestruturação e o aumento dos créditos cedidos anteriormente, bem como a adiamento dos pagamentos referentes a eventuais compras em sistema de leasing.
Zlotchevski avalia que, caso não aconteça mais uma catástrofe, o valor dos grãos no mercado internacional permanecerá no atual patamar. A seca na Rússia já fez subir em cerca de US$ 30 o valor praticado no mercado e os especuladores aproveitaram à exaustão as consequências do fenômeno. Nos últimos anos a Rússia passou a desempenhar um papel cada vez mais importante no mercado internacional, vendendo, em geral, grãos baratos e de baixa qualidade.
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