Patrícia Anísia, do Rio Grande do Norte, mostra alojamento da Universidade Russa da Amizade dos Povos/ Foto: Alexey Maishev
Estudar medicina ainda é o sonho de muitos brasileiros. Só em 2010, mais de 11 mil pessoas se candidataram a uma das 275 vagas no vestibular para o curso da Universidade de São Paulo. Mas, além da concorrência pelas vagas nas faculdade públicas aumentarem a cada ano, as mensalidades das escolas particulares são inacessíveis para muitos aspirantes a doutores. Por isso, um número cada vez maior de estudantes tem optado por estudar fora do País, e o destino escolhido por parte deles é a Rússia.
Quando Gustavo Braga Cortes, de 22 anos, deixou o Rio Grande do Sul, em 2007, não sabia uma palavra em russo. Hoje, ele cursa o terceiro ano da Academia de Medicina de Moscou e lembra como foi tomar essa decisão: “Eu já estava fazendo cursinho há quase dois anos e estava sufocado. Foi quando achei na internet uma empresa que levava estudantes brasileiros para a Rússia. Embarquei com 14 pessoas”.
Na Rússia, os alunos podem optar por estudar em inglês e passam por um curso preparatório de russo em período integral, que dura 18 meses. Mesmo assim, é difícil para alguns acompanharem o ritmo de aulas, que já é puxado para estudantes nativos.
Três anos depois de ter chegado ao país, Gustavo não tem planos de ficar na Rússia e tenta uma transferência para alguma faculdade brasileira. “Hoje eu já entendo quase tudo, mas uma das coisas que pesou bastante na minha decisão de voltar ao Brasil foi a língua”, explica.
Vinda de Mossoró, no Rio Grande do Norte, Patrícia Anísia, 24 anos, acredita que o idioma obriga os estudantes de medicina na Rússia a se esforçarem muito mais. “Enquanto a gente passa duas horas para ler quatro páginas, um russo só folheia e em uma hora lê o livro todo”, afirma.
Mãe de Ícaro, de três meses, ela cursa o terceiro ano na Universidade da Amizade dos Povos (RUDN). Na Rússia, ela conheceu o militar angolano Edison Madeira, com quem se casou. Mas como o marido mora em outra cidade, ela precisa dar conta sozinha da rotina de estudos, que lhe toma pelo menos seis horas por dia, da maternidade e dos afazeres da casa. "Nossa vida aqui não é de rainha e princesa como era no Brasil”, descreve. O plano dela é se formar e ir viver em Angola, onde pretende revalidar seu diploma. "Depois, quem sabe, fazer uma especialização na Europa”, diz.
Outro que passou pelo curso na RUDN foi o mineiro Augusto Ribeiro, 25, que hoje estuda engenharia de alimentos em Barretos (SP). Depois de três anos em terras russas, ele precisou voltar ao Brasil porque foi reprovado em física, matemática e latim. Mesmo assim, acha que a experiência "foi muito válida" e dá dicas para os interessados no intercâmbio. “Traga material do Brasil para estudar, estude muito e não beba”, aconselha.
O chefe do setor consular da embaixada brasileira na Rússia, Victor Braoios, também tem algumas recomendações, como prestar atenção aos termos dos contratos com as universidades e atentar para os desafios da língua e das diferenças culturais. “A gente alerta para as diferenças nas culturas médicas brasileira e russa e para as dificuldades no processo de revalidação do diploma no Brasil, que pode levar até seis anos. E até que a revalidação do diploma aconteça, o estudante fica impedido de exercer a profissão”, explica.
Para resolver o problema da revalidação, os ministérios da Saúde e da Educação adotaram em 2009 provas unificadas de avaliação de habilidades. No entanto, o processo ainda está em fase experimental.
Mas nem todos desanimam. O goiano Anatole de Carvalho, 29, concluiu o curso da RUDN em 2009 e agora vive em Florianópolis (SC). "Estou aguardando a legalização da minha documentação e fazendo estágios. Até o fim do ano, penso em fazer prova para especialização”, diz.
Em outubro é a vez da pernambucana Raíssa Almeida, 21, trocar o Recife (PE) pela cidade russa de Kursk, que fica quase na fronteira com a Ucrânia. Ela largou a faculdade de administração e agora embarca para o leste europeu com uma nova leva de brasileiros organizados pela agência Aliança Russa.
Raíssa conta que optou por Kursk porque lá a universidade é reconhecida e o custo de vida é baixo. "Por estar na parte ocidental da Rússia, também ajuda no intercâmbio de cultura com outros países europeus", acredita.
A cidade é hoje um centro de peregrinação para estudantes brasileiros. Segundo a Aliança Russa, existem 103 alunos de medicina matriculados na Academia Médica Estatal de Kursk, enquanto outros 150 estão espalhados pelo restante do país. Diante da crescente procura pelo intercâmbio, a embaixada tem estreitado o contato com reitorias e planeja visitas às universidades que têm presença significativa de brasileiros.
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