Quase 40% dos moscovitas estão acima do peso/Foto: ITAR-TASS
Diante de hábitos de alimentação pouco saudáveis e de uma invasão de lojas de fast food estrangeiras, a Rússia enfrenta hoje uma epidemia de obesidade. A população, que adora comer, parece finalmente ter acesso fácil a alimentos. As gôndolas das lojas estão cheias - de salsicha a sushi. A oferta de pratos prontos aumentou e lojas de junk food são encontradas em cada esquina.
Existe, no entanto, uma armadilha neste novo panorama: 38% dos russos de Moscou estão clinicamente acima do peso e a diabete e as doenças cardíacas estão em alta. Forçados a lidar com os crescentes problemas de saúde, muitos já começaram a pensar seriamente sobre o que estão comendo.
“O excesso de peso estava transformando meu coração num bíceps de astro da musculação. Os médicos disseram que, se não começasse a perder peso imediatamente, eu não iria muito longe”, diz o ex-esportista Ivan Butman, que atualmente é chefe de departamento de um banco de porte médio em Moscou. “Quando meus problemas de coração começaram, eu tive de passar a consumir produtos com baixa taxa de gorduras”, conta.
Butman não está sozinho. Quase metade das mortes na Rússia se deve a ataques cardíacos e 37%, a derrames. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 9,6 milhões de russos sofrem de diabete tipo 1, provocada por estilos de vida pouco saudáveis.
Parte do problema é proviniente da tradicional dieta soviética composta por frango frito e batatas chips mergulhadas no óleo. Mas a onda de hábitos saudáveis, dos perigos do sal e da obsessão pelos exercícios também ficou muito tempo escondida pelas cortinas de ferro. Os hábitos estão mudando aos poucos e aqueles que procuram um estilo de vida saudável focam no produto mais óbvio: os orgânicos.
Uma pesquisa feita pela Nielsen no ano passado revelou que cerca de metade da população já começou a comprar esse tipo de alimento. Saladas prontas, iogurtes e laticínios com conteúdo de gordura próximo de zero passaram das prateleiras para os carrinhos. "Agora só tomo iogurte pela manhã", conta Butman.
Mas segundo o Instituto de Agricultura Biológica, o mercado russo para produtos alimentícios biologicamente puros ainda corresponde a uma soma muito modesta – 60 milhões de euros. Além disso, a quantidade de “comida natural fajuta” pode chegar a 70% dos produtos.
"Comida saudável é menos rentável do que a comida não saudável, mas ainda assim é rentável. E alguns produtores inescrupulosos estão marcando alimentos normais com o selo ‘eco-’, ‘bio-’ e ‘natural’ d simplesmente para aumentar os preços. Os fabricantes reclamam, mas não existem critérios precisos", observa Lidia Serioguina, fundadora da empresa Seryogina.ru.
Ao mesmo tempo, segundo a consultoria Serviceman Training & Consulting, o preço ainda impede que os orgânicos dominem a mesa dos russos, especialmente em tempos de crise econômica. "A comida saudável é cara, se comparada à menos saudável", diz a consultora Elena Komkova, da Serviceman. Mas à medida que a comida natural se torna mais disponível e acessível, a situação tende a melhorar.
Se levarmos em conta que os russos também gostam de cultivar seus próprios alimentos em casa, principalmente em suas dachas (casas de campo), a adesão pode ser ainda maior.
Para completar, o departamento russo de inspeção aos direitos de consumidor pretende orientar e estabelecer normas, padrões e princípios para alimentos saudáveis até o final do ano. Desta forma o órgão dará referências aos fabricantes e consumidores, o que deve ajudar a fortalecer a confiança no mercado de produtos saudáveis.
Todos os direitos reservados por Rossiyskaya Gazeta.
Assine
a nossa newsletter!
Receba em seu e-mail as principais notícias da Rússia na newsletter: