Turismo alternativo na Sibéria: a magia de festivais indígenas

Trajes e cantos tradicionais contagiam até estrangeiros em visita a Chuchenskoie

Trajes e cantos tradicionais contagiam até estrangeiros em visita a Chuchenskoie

Arquivo pessoal
Cante ao primeiro airan ou participe de dança circular ao redor de montanhas sagradas.

1. Festival Mir Sibiri: todos os povos da Rússia em um só dia

Estamos na estrada de Krasnoiarsk para Chuchenskoie. Do lado de das janelas do ônibus, as planícies dão lugar a montanhas cobertas por densa mata, e as montanhas cedem espaço às curvas suaves de colinas e da estepe, com seus antigos túmulos.

O fotógrafo e cineasta londrino Matthew Traver já está na estrada há dois dias e meio. Ele partiu do pico mais alto da Sibéria, o Monte Belukha, rumo a Chuchenskoie, um assentamento remoto na região de Krasnoiarsk onde ocorre o festival de artesanato e música folclórica Mir Sibiri (“Mundo da Sibéria”).

Ao chegar, os convidados do festival vão aos poucos se acomodando: em antigas casas de madeira da Nova Vila ou no acampamento de verão para crianças, com suas camas de mola e mingau de arroz para o café da manhã – um sabor inesquecível para quem nasceu na União Soviética.

Acostumado a viver ao ar livre, Matthew escolheu o lugar ideal para ter uma verdadeira experiência de acampamento na Sibéria: floresta, mosquitos e longas noites ao redor de uma fogueira.

Durante o festival, a manhã começa com certos rituais. Ao amanhecer, as mulheres saem para coletar o orvalho da grama com fitas e usá-lo para lavar o rosto. Logo após, fazem grinaldas com plantas e trançam flores em seus cabelos.

Matthew participa de cerimônia ritualística (Foto: Arquivo pessoal)Matthew participa de cerimônia ritualística (Foto: Arquivo pessoal)

No Mir Sibiri, tanto os convidados como os artistas e artesãos são estimular a usar trajes tradicionais. “Em todos os meus 30 anos de vida e viagens, nunca vi uma manifestação tão diversificada de culturas, nações e roupas étnicas à minha frente. Em um único dia assistindo e ouvindo os músicos, aprendi e observei tradições de lugares como Bielorrússia, Ucrânia, Altai, Tchetchênia e outros”, diz Matthew.

Também é quase impossível passar fome no Mir Sibiri: os convidados alimentam-se de churpa (caldo de carne com vegetais), lagman (um pratão de macarrão tipo noodles com molho de carne e vegetais) e tortas com recheio de repolho, queijo ou esturjão.

Para o viajante inglês, porém, as outras sopas russas são ainda menos convencionais. “Uma coisa que é especial na culinária russa são as sopas! A solianka é muito rica em sabor, mas no ano passado experimentei okrochka pela primeira vez e achei o sabor único, em parte por causa dos kvass que é usado em seu preparo. Pessoalmente, não conheço nenhuma sopa na Europa que tenha gosto semelhante ao da okrochka.”

Quando: 7 a 9 de julho de 2017,

Onde: Aldeia de Chuchenskoie, na região de Krasnoiarsk

2. Tun Pairam: o primeiro airan da nova estação

Airan é uma bebida fermentada de extrema importância na dieta dos criadores de gado nos rincões da Rússia. Sua produção começa no final de junho, quando o gado produz o primeiro leite depois de pastorear nas primeiras ervas verdes da nova estação.

O primeiro airan é símbolo da estação de abundância para os nômades e, por isso, deve ser celebrado com estilo: com rituais, jogos folclóricos, cantos e danças.

Apresentação na Khakássia (Foto: Mikhail Maklakov)Apresentação na Khakássia (Foto: Mikhail Maklakov)

A aldeia de Sagaisk, localizada a 95 quilômetros de Abakan, está apinhada de gente. Os músicos tocam instrumentos populares e cantam músicas em suas línguas nativas; o som dos tambores e do canto disfônico tuvano são impressionantes ao ar livre.

“Experimentei a natureza com todo seu poder por causa do espaço não influenciado pela civilização. Esse grande espaço aberto possibilita ter a mente aberta”, diz o viajante austríaco Günther Kreuzer.

O destaque do festival é a competição de airan. As mulheres preparam a bebida e servem os convidados, incentivando-os a saborear as várias nuances do gosto. Na estepe escaldante, um copo de airan frio é a melhor maneira de sobreviver ao calor. Antes de beber, porém, os locais o louvam com canções tradicionais takhpakhi.

Alimentos típicos são parte fundamental de festa (Foto: Mikhail Maklakov)Alimentos típicos são parte fundamental de festa (Foto: Mikhail Maklakov)

Em seguida, experimentam pratos como miun (caldo de carneiro), tcharba ugrei (caldo de carne com cevadinha) e potkhi (sour cream em fervura com farinha e ovos). “Aqui tive a chance de provar um carneiro muito delicioso. Foi a primeira vez na vida que gostei desse tipo de carne – em uma sopa típica da região”, conta Günther.

Quando: 1º e 2 de julho de 2017


Onde: Sagaisk, a 95 km de Abakan (capital da República da Khakássia) 

3. Jogos de Iordinski: competição amistosa os fortes

Os Jogos de Iordinski, um festival etnocultural dos povos da Eurásia, reúne todos os anos tanto homens, que competem em força e agilidade, como mulheres, que participam de um concurso de beleza.

O festival acontece no mesmo local há muitos anos – as montanhas sagradas Iokhe Iord e Baga Iord, a 8 quilômetros do vilarejo de Ielantsi, na região de Irkutsk.

Sob o céu ardente de verão, os competidores se engalfinham para testar suas forças uns contra os outros, e cavaleiros participam de corridas. Já os arqueiros, disparam em alvos com arcos tradicionais, e os levantadores de peso passam pela maior provação: sua missão é levantar e transportar uma pedra com peso de 110 a 125 quilos.

Luta é uma das modalidades disputadas entre homens (Foto: TASS/Alexandra Mudrats)Luta é uma das modalidades disputadas entre homens (Foto: TASS/Alexandra Mudrats)

Há séculos, os vencedores desses jogos era recompensados ​​com gado ou o direito de se casar com a garota mais linda da região.

A viajante francesa Isabelle confessa ter assistido às artes marciais locais com grande interesse. “Estou familiarizada com os Jogos Olímpicos, mas aqui assisti a alguns esportes novos”, diz.

Além das competições, o principal evento do festival é o Iokhor, uma dança circular ritualística de povos eurasianos em torno da montanha sagrada. Para formar o círculo, porém, são necessárias 700 pessoas, e há sempre voluntários suficientes para dançar toda a noite, de mãos dadas com uma multidão de estranhos. O festival de 2015, por exemplo, reuniu 5.000 convidados que fizeram três anéis gigantes.

“Não é tão fácil chegar aqui, e o nível de conforto é baixo para os padrões estrangeiros. Mas essa jornada foi uma agradável surpresa para mim. Não fazia ideia de que a Sibéria fosse o lar de tantos povos, e cada um tem características únicas que não podem ser encontradas na Europa”, diz Isabelle.

Danças circulares exigem participação de, no mínimo, 700 pessoas (Foto: TASS/Alexandra Mudrats)Danças circulares exigem participação de, no mínimo, 700 pessoas (Foto: TASS/Alexandra Mudrats)

Quando: 15 a 18 de junho de 2017


Onde: Vilarejo de Ielantsi, na região de Irkutsk

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