Os cimérios foram a primeira etnia a povoar a região no século 12 a.C. Foto: Jane Sweeney/ Getty Images
Há milhares de anos, a atual península de Crimeia não existia, sendo apenas uma parte indivisível do continente europeu. O mar de Azov, o menos profundo da Terra, encontrava-se no meio de uma enorme área terrestre, até que um dia, mais de 7.000 anos atrás, o mar Mediterrâneo conseguiu abrir passagem na direção norte, formando o estreito de Bósforo e alagando uma parte significativa do continente, resultando na formação do contorno atual da península da Crimeia.
Encontro das civilizações
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Os cimérios foram a primeira etnia a povoar a região no século 12 a.C. e após cinco séculos foram expulsos pelos citas, cujas tribos, segundo o historiador grego Heródoto, chegaram do leste do continente euroasiático. A maioria dos cientistas modernos considera o idioma cito pertencente ao subgrupo leste-iraniano dos idiomas iranianos, que também incluem o curdo, o persa e o pachto. O centro administrativo do reino Cita se estabeleceu na região Zaporójie da Ucrânia moderna, localizada na parte norte da península da Crimeia. O domínio do império na região se prolongou até o século 3 d.C.. Além dos citas, a extremidade sul da península abrigava os tauros, cuja presença atribuiu à região o nome de Táurica, mantido até o século 15.
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A população costeira da península mantinha fortes relações comerciais com a Grécia Antiga, e os gregos ensinaram seus habitantes a construir navios, cultivar azeitonas e uvas e usar princípios inovadores na construção civil. Com o passar do tempo, os gregos fundaram na península suas próprias colônias comerciais, tais como Bósforo, hoje em dia conhecido como Kertch, Teodósia e Quersoneso, onde depois foi construída a cidade de Sevastopol. A região oeste da Crimeia foi ocupada pela república democrática de Quersoneso Táurico, enquanto no leste encontrava-se o país autocrático de Bósforo.
Passeio pelo Império Bizantino e cidades da Idade Antiga
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Sevastopol é um lugar ideal para conhecer o patrimônio da Antiguidade Clássica, pois abriga a cidade-museu Quersoneso Táurico, incluída na lista mundial de Unesco de memoriais culturais. Os turistas podem passear pelas ruas antigas, conhecer o sino usado como alarme milhares de anos atrás e apreciar o visual das colunas dos templos medievais e as ruínas do teatro antigo.
Eupatória encontra-se no local da antiga cidade grega Querquinitida que existiu no período entre os séculos 5 e 2 a.C.. Atualmente, no cabo Karantinni, onde a cidade se localizava, está sendo realizada uma missão geológica com o objetivo de revelar e estudar a vida dos seus habitantes. A península de Kertch é outro local importante para quem se interessa pelas ruínas antigas. Na região da cidade homônima encontram-se as ruínas da antiga colônia grega de Panticapeu. Além disso, os turistas podem conhecer a colônia de Teodósia, localizada no litoral da baía de Teodósia, a única cidade moderna da península da Crimeia que mantém o seu nome antigo.
Império Romano
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Os romanos chegaram à península no século 1 e, com o objetivo de se estabelecer na região, construíram o forte Charax, que logo presenciou a chegada do cristianismo à península. O "caminho de legionários" ou via militaris, passagem feita há 2.000 anos com o objetivo de ligar a fortaleza de Charax com a colônia grega de Quersoneso, é um dos vestígios mais interessantes da presença romana na Crimeia. Na vila de Balaclava encontram-se as ruínas de um templo romano com santuários repletos de mensagens dedicadas aos deuses Júpiter, Hércules e Vulcão, feitas pelos soldados do império.
O século 3 foi marcado pela invasão da Crimeia pela tribo de hunos vindos da parte central da Ásia, enquanto a região serrana da península foi conquistada pelos godos germânicos.
Todas as antigas cidades foram destruídas, com exceção de Quersoneso, que passou a exercer a função de centro de comando do Império Bizantino na península. Em seguida, por ordem do imperador Justiniano, a cidade de Bósforo foi restaurada, e a Crimeia ganhou três novas fortalezas: Sudak, Simbolão e Gurzuff. A última delas agradou ao famoso poeta russo Aleksandr Púchkin, que mencionou a beleza da natureza que a cercava em um de seus poemas.
Cidades das cavernas
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Apesar das múltiplas tentativas de conquistar a península por completo, as tribos de hunos, que já dominavam a maior parte do seu território, não conseguiram ocupar a região serrana da Crimeia, cujas montanhas protegiam a população nativa. Para reforçar as suas posições no local e se defender dos invasores, os moradores construíram as "cidades das cavernas", cuja maior parte existiu até o século 18. Hoje, o território da Crimeia dispõe de várias rotas turísticas que permitem chegar até as cavernas, com templos, poços, casas, escadas e até ruas inteiras feitas dentro dos blocos de calcário.
A Çufut Qale, fortaleza judaica fundada no século 6, é o mais preservado de todos os edifícios construídos nessa época. Ao longo dos séculos, a cidade foi dominada pelos tártaros, otomanos, cristãos e uma tribo judaica de caraitas, portanto, até agora abriga construções de defesa. Pode-se ver ainda o mausoléu da filha do sultão mongol Tokhtamich, uma galeria subterrânea de 80 metros, um poço de 30 metros de profundidade, ruínas de uma antiga mesquita, edifícios residenciais e um cemitério caraita.
Mangup Kale, fortaleza fundada pelos bizantinos no século 6, mas que ao longo do tempo foi dominada pelos citas e cazares, é a construção mais interessante da região e foi incluída na lista dos pontos de interesse únicos da Unesco. Um muro, uma torre de defensa, uma prisão com celas feitas dentro da rocha, assim como um palácio pertencente aos últimos donos da fortaleza também foram preservados.
Chegada do Cristianismo
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No século 9, a península da Crimeia recebeu a visita de Cirilo, criador do alfabeto cirílico, e começou e ser povoada pelas primeiras tribos russas. A região também se tornou o local do batismo cristão do príncipe russo Vladimir, primeiro a abraçar a religião ortodoxa. No século 12, o território foi conquistado pelos cumanos, cujo idioma serviu como base para a formação da atual língua tártara da Crimeia, e em seguida dominado pelos mongois, que contribuíram para a propagação da religião muçulmana na região. Um século depois, uma parte do território da Crimeia foi vendida aos genoveses, que pretendiam reforçar a sua presença na Rota da Seda. A Fortaleza Genovesa construída em Sudak há 600 anos, chegou quase intacta aos tempos modernos e é um dos vestígios da permanência dos genoveses na península.
Em 1475, o canato da Crimeia virou um protetorado do Império Otomano, até o dia da vitória da Rússia na Guerra Russo-Turca (1768–1774), que pôs um fim ao domínio otomano na península, anexando a Crimeia ao território do Império Russo.
Bajchisarái
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A cidade-jardim de Bajchisarái, antiga capital dos sultões, é uma das principais atrações da Crimeia fundada na época do domínio do Império Otomano na região. No principal palácio da cidade encontra-se o Chafariz de Lágrimas, mencionado nas obras do famoso poeta russo Aleksandr Púchkin, assim como o Chafariz Dourado, Chafariz Espiritual e os cômodos do harém do sultão. Além disso, vale a pena fazer uma visita à mesquita real, construída no século 9, ao cemitério real, ao mausoléu da esposa preferida do sultão, Krim-Guirei, erguido no século 18, à Torre do Falcão e ao museu de arte da cidade.
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