Primeiro teatro não conformista da URSS, Sovremennik completa 60 anos

Sovremennik surgiu como pioneiro na URSS, abordando temas incomuns para época

Sovremennik surgiu como pioneiro na URSS, abordando temas incomuns para época

Lori/Legion Media
Com linguagem e temática inovadoras, companhia já fez até incursão pelo Brasil.

Esta sexta-feira (15) marca os 60 anos do teatro Sovremennik (“Contemporâneo”, em russo), um dos principais símbolos da época do degelo, período marcado pela relativa democratização da política da URSS durante o governo de Nikita Khruschov.

Fundado na época do desmascaramento do culto à personalidade de Stálin, em 1956, este espaço continua, ainda hoje, usando em suas produções a linguagem das pessoas comuns e realiza diversas turnês pela Europa e pela América do Norte e do Sul, incluindo o Brasil.

Sem lar, com história

O Sovremennik foi o primeiro teatro na URSS que não surgiu em consequência de um decreto superior, mas sim fundado por um grupo de jovens atores graduados pela Escola de Teatro de Arte de Moscou (MKhT, na sigla em russo). 

O jovem espaço não tinha uma postura oposicionista ou de feitio revolucionário, como o caso do posterior teatro Taganka, de Iúri Liubimov, mas revolucionou pelo fato de ter começado a utilizar no palco a mesma linguagem das ruas, a falar sobre seus contemporâneos e das preocupações e problemas que os afligiam. 

Foi assim que, em 15 de abril de 1956, inaugurou-se com o espetáculo “Eternamente Vivos”, baseado na peça de Víktor Rozov. Na data, os espectadores ficaram tão impressionados com a história de guerra, e com a franqueza e a autenticidade da interpretação, que não queriam ir embora para casa. E ali ficaram conversando com os atores até a chegada da manhã.  

Durante cinco anos, porém, o teatro não teve um palco próprio, e os atores precisavam atuar em diferentes locais. Um velho edifício na Praça Maiakóvski tornou-se, então, a primeira casa da companhia de teatro, em 1961, e o local se transformou em uma meca para os intelectuais de Moscou, sendo praticamente impossível conseguir ingressos.

Sobrevida de sucesso

Na década de 1970, o teatro passou por uma grave crise. A época conhecida como degelo havia chegado ao fim, e os anos de reação política tiveram início. 

Além disso, o diretor Oleg Efremov, também gestor do teatro, recebeu a proposta de liderar o principal concorrente, o Teatro de Arte de Moscou, e deixou o Sovremennik levando consigo parte dos artistas. 

O fim iminente do teatro era profetizado, mas ele não só conseguiu sobreviver, como começou uma vida nova em um edifício em Tchístie Prudi.

O teatro passou então a ser dirigido por Galina Voltchek, que convidou atraiu a colaboração de jovens diretores, como os atuais astros Valéri Fôkin, Iossif Raikhelhgauz e Roman Viktiúk. 

Vechno-zhivie Foto: Press photoNova diretora teve missão de recompor teatro e atrair talentos Foto: Press photo

Pela primeira vez em um palco soviético falava-se sobre narcotráfico – na encenação do romance “Plakha”, de Tchinguiz Aitmatov –, ou sobre prostituição – na peça “Zviozdi na Utrennem Niebe” (“Estrelas no céu da manhã”), de Aleksandr Gálin.

Mas o real avanço foi dado pela peça “Krutoi Marchut” (conhecida internacionalmente como “Whirlwind” ou “Redemoinho de Vento”), baseada no livro autobiográfico de Evguênia Guinzburg. 

Teatro para exportação

Outro grande destaque do Sovremennik foi “As Crônicas da Época do Culto à Personalidade”, que impressionou o público ao apresentar, em três horas, anos de sofrimentos desumanos, humilhações e torturas pelas quais passaram as heroínas da peça nos campos de trabalhos forçados de Stálin.

Com esse espetáculo, o Sovremennik obteve um enorme sucesso na Alemanha e na Finlândia e, em 1997, durante uma triunfal turnê em Nova York, ganhou o inédito prêmio Drama Desk Award, nunca antes concedido a teatros estrangeiros.

1997 tourne em Nova Yorque. Voltchek (a dir.)Turnê pelos EUA em 1997 rendeu prêmio inédito ao Sovremennik Foto: Press photo

Desde então, a equipe passou a realizar com frequência turnês em países estrangeiros, como Israel, Estados Unidos, França, Inglaterra, Polônia e no Brasil. Nesse contexto, duas peças tornaram-se seus cartões de visita: “Três Camaradas”, baseada no livro de Erich Maria Remarque e “As Três Irmãs”, de Anton Tchekhov.

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