O sal da vida

“Coma mais sal, e sua vida ficará mais alegre”, diz ditado russo

“Coma mais sal, e sua vida ficará mais alegre”, diz ditado russo

Vostock-Photo
Dizeres, crendices e história social por trás desse onipresente ingrediente.

Pão e sal podem, em muitos aspectos, serem considerados os alimentos nacionais da Rússia, além de elementos marcantes nas boas-vindas a visitantes que chegam ao país. Nos casamentos, por exemplo, os noivos tradicionalmente mordem um pedaço grande de karavai, um tipo de pão redondo com sal.

Este ingrediente, por sua vez, é tema de muitos dizeres no país. “Nesolono khlebavchi” (comer alimentos não salgados) quer dizer que você não atingiu seu objetivo; e “Bez soli i khleba khudaia beseda” (falar é ruim sem pão e sal), que nenhum acordo pode ser alcançado sem os ingredientes principais. Há também “Iech solonei, budet jizn’ veselei” (coma mais sal, e sua vida ficará mais alegre), entre outros.

Ingrediente dos tempos

No passado, os alimentos cozidos eram salgados durante a refeição e havia todo um ritual para esse processo. O chefe da família, que tinha orgulho de se sentar na ponta da mesa, salpicava os pratos dos convidados com a quantidade que julgasse necessária: mais sal significava mais respeito. Convidados que eram não dignos de atenção especial ficavam sentados na extremidade da mesa e, por vezes, nem recebiam sal.

Fato é que o sal era uma mercadoria valiosa. Até recentemente, sua produção era um processo difícil e de mão-de-obra intensa, que acabou sendo descrito em algumas obras da literatura russa clássica por escritores como Nikolai Nekrasov e Maksim Górki.

A primeira menção da produção de sal na Rússia data do século 9. As primeiras salinas estavam localizadas em Pomorie, no norte russo, e, mais tarde, outras foram abertas no rio Kama. Depois que os Canatos de Sibir e Astrakhan passaram a fazer parte da Rússia, foi iniciada a produção de sal também nesses territórios.

Caravanas cheias de sal iam de um lado a outro do país. O sal também era transportado por rios. Há uma teoria de que os homens retratados na famosa obra-prima visual de Iliá Repin, Rebocadores do Volga, estavam rebocando uma barcaça carregada de sal.

Além disso, muitas cidades surgiram ao lado das salinas, e este fato se reflete em seus nomes, que contêm o termo “sol” (sal): Solikamsk, Soligalitch, , Usolie e Krasnousolsk.

O sal era símbolo de riqueza e poder. As famílias mercantes que controlavam a produção salina tinham renda comparável aos envolvidos nos negócios de peles e joias. Para conter os lucros, as autoridades subiram os impostos para empresas e restringiram a exportação.

Durante muitos anos, exportar sal russo era ilegal. Um decreto especial equiparava a exportação de sal ao roubo do tesouro do Estado. No século 17, essas restrições levaram a uma série de tumultos por todo o país – a rebelião do sal. No entanto, o imposto sobre o sal só foi completamente abolido no final do século 19.

Superstição

A admiração e crendices, porém, permaneceu. Por exemplo, uma pessoa que derramar sal deve jogar uma pitada atrás do ombro esquerdo para evitar disputas ou desastres. Diz a tradição que os demônios podem se sentar atrás do ombro esquerdo, o que poderia causar vários problemas; o desastre pode ser evitado golpeando os olhos do demônio com sal.

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