Sorókin, que completou 62 anos nesta segunda (7), participou da Flip em 2014.
Serguêi Fadeitchev/TASSCom uma carreira cujo início remonta aos anos 1980, Vladímir Sorókin tem a obra associada desde sempre ao choque e ao sensacionalismo.
Mestre de diversos estilos literários, ele adorava desconstruir seus textos, baixando-os ao nível de uma ultraviolência absurda.
Sorókin estava bem em seu lugarzinho, descrevendo massacres, perversão e coprofagia (o ato de se alimentar de excrementos), e, assim, sua reputação era um tanto escandalosa.
Mas, a partir de 2006, com o romance “O dia do Oprítchnik”, ele mudou de abordagem, concentrando-se em descrever o mundo imaginário de um futuro não tão distante.
A ação de seus últimos romances, “Telluria” (2013) e “Manaraga” (2017) ocorre na segunda metade do século 21.
O mapa-múndi no futuro distópico de Sorókin é bem diferente do nosso: muitos países europeus, entre eles a Rússia, foram divididos em Estados menores, e a vida é bem selvagem.
Mas o progresso nunca para, então esse mundo estranho ainda vê algumas tecnologias revolucionárias.
Unhas de telúrio
O telúrio é um elemento químico que existe no mundo real, mas o metal homônimo do romance de Sorókin é bem diferente.
O telúrio de Sorókin é a droga perfeita para colocar uma pessoa em um estado de êxtase sem fim, levando à uma alta na energia e no intelcto, alegria extrema e até comunicação com os mortos.
“É uma super droga e um caminho espiritual ao mesmo tempo”, descreveu o próprio Sorókin em entrevista.
Para conseguir uma dose de telúrio, é preciso que uma pessoa martele pregos na sua cabeça para que o metal entre em contato direto com o cérebro. Claro que apenas especialistas podem realizar a operação. Eles são chamados carpinteiros e viagem por toda a Eurásia fazendo esse serviço por montes de dinheiro.
O telúrio em si é muito caro, proibido em muitos países e simplesmente perigoso. Há 12% de chances de não sobreviver a uma martelada. Mas isso não impede muita gente do mundo Telluria de buscar o metal precioso e curtir seus efeitos.
Supergadgets
Esqueça smartphones e tablets. No futuro, se Sorókin estiver correto, a humanidade vai usar gadgets muito mais impressionantes.
As “úmnitsas” (“as inteligentes”) são gadgets com inteligência artificial que podem falar com seus donos e mudar de tamanho e de formato.
Em “Telluria”, Sorókin descreve as “úmnitsas” em forma de livros, imagens, echarpes e outros. Além disso, as pessoas podem se comunicar por meio de hologramas, não apenas vendo, mas também tocando fisicamente seus interlocutores, que estão do outro lado do mundo.
Em “Manaraga”, o escritor cita gadgets ainda mais avançados: as pulgas. Elas são implantes minúsculos no cabelo humano ou direto no cérebro, e dão acesso a toda a informação do mundo.
“Com minhas pulgas, consigo ler em 12 línguas ou fazer qualquer leitura científica”, gaba-se o protagonista de “Manaraga”. Quando um inimigo o rapta e retira suas pulgas por meio de uma cirurgia, ele se vê completamente desolado. No mundo atual, onde as pessoas têm dependido profundamente de gadgets, o cenário não parece distante.
Book-n-grill
A profissão do protagonista de “Manaraga” é bem estranha, aliás: ele ganha a vida queimando livros. De acordo com Sorókin, os livros de papel quase desaparecerão no futuro, substituídos pelas versões digitais, e apenas algumas poucas cópias serão mantidas em museus sob proteção estatal.
Mas como tudo o que é proibido é mais gostoso, caçadores de tesouros roubam esses livros raros e cozinham sobre eles, usando o papel como combustível.
O ato é considerado muito exótico, e uma forma de diversão cara apenas para os ricos. O passatempo tem até nome: 'book-n-grill'.
Além disso, é muito importante saber sobre qual livro cozinhar - romances de detetives baratos não são páreos para um bife delicioso, mas só um romance de Tolstói ou algo do gênero.
Sorókin diz que, com essa metáfora, quis refletir sobre o futuro dos livros. “Acredito que a humanidade não eliminará totalmente os livros impressos. Isso é uma parte do nosso mundo que não pode ser completamente destruída”, disse em entrevista.
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