Censura soviética ao longo das décadas

Reunião do Comitê Estatal de Televisão e Radiodifusão do presidente da URSS, em 1973

Reunião do Comitê Estatal de Televisão e Radiodifusão do presidente da URSS, em 1973

Lev Nosov/RIA Nôvosti
Entre 1917 e 1991, o Estado soviético foi marcado por censura. Mas como o tempo de Stálin diferiu do de Khruschov? Que tipo de obras eram proibidas e por quê?

Quando os bolcheviques subiram ao poder, a liberdade era um dos seus slogans, embora uma de suas primeiras medidas tenha sido limitar a liberdade de expressão. No início de novembro de 1917, o governo soviético assinou o decreto que proibia a publicação de qualquer artigo “burguês” criticando as autoridades da época.

Camponeses lendo jornal no qual haviam sido publicados decretos sobre a terra e a paz, em 1918 (Foto: RIA Nôvosti)Camponeses lendo jornal no qual haviam sido publicados decretos sobre a terra e a paz, em 1918 (Foto: RIA Nôvosti)

Com o passar dos anos, a censura política tornou-se mais forte e atingiu seu ponto mais alto na época de Stálin. Após a sua morte, houve um período mais suave, mas a censura foi mantida até Mikhail Gorbatchov anunciar a glasnost no final dos anos 80.

Políticos ‘apagados’ da história

De acordo com a Grande Enciclopédia Soviética, a censura do Estado socialista era “de natureza diferente da dos Estados burgueses, e seu único propósito é defender os interesses da classe trabalhadora”. A elite soviética, porém, usava a censura para seu próprio benefício, especialmente durante a época do grande expurgo de Stálin.

Encontro da União da Luta pela Libertação da Classe Trabalhadora, em fevereiro de 1897. Pouco depois da foto, o grupo inteiro foi preso (Foto: Nadejda Krúpskaia)Encontro da União da Luta pela Libertação da Classe Trabalhadora, em fevereiro de 1897. Pouco depois da foto, o grupo inteiro foi preso (Foto: Nadejda Krúpskaia)

“A eliminação física dos opositores políticos de Stálin foi seguida pela destruição de qualquer tipo de existência pictórica”, escreveu o historiador britânico David King em seu livro “O comissário desaparece”. As autoridades se esforçavam para eliminar todas as fotografias e imagens de líderes que haviam caído em desgraça. Por exemplo, Nikolai Iejov, o antigo chefe da NKVD (a polícia secreta que antecedeu a KGB) que organizou a repressão política maciça de 1936 a 1938, discutiu com Stálin e se viu nas mãos da polícia secreta em 1940, antes de ser executado. Mais tarde, Nikolai Iejov desapareceu de todas as fotografias em que aparecia ao lado de Stálin.

O mesmo aconteceu com outro proeminente chefe da NKVD, Lavrenti Beria. Embora tivesse sido um dos homens de confiança de Stálin, a situação mudou após a morte do líder soviético, em 1953, e Beria também acabou sendo executado. Em seguida, o governo soviético propôs uma nova versão revisada da Grande Enciclopédia Soviética na qual foram excluídas todas as menções ao oficial assassinado.

Literatura sob censura

Em 1921, o jovem governo soviético criou o Glavlit (Diretório-Geral para a Proteção de Segredos de Estado na Imprensa), que funcionou como o principal instrumento de controle da literatura por anos. Os censores do Glavlit eram responsáveis, entre outras coisas, ​​por decidir se um livro poderia ou não ser publicado na União Soviética.

Muitos cidadãos da época não conseguiram ler uma grande quantidade de livros, dentre eles alguns que hoje são considerados clássicos – “O Mestre e a Margarita”, de Mikhail Bulgákov, ou “O Dr. Jivago”, de Boris Pasternak, sem falar das obras de Aleksandr Soljenítsin nas quais o regime soviético era severamente criticado. A circulação de livros escritos por autores russos que emigraram do Estado soviético, como Ivan Bunin e Vladímir Nabokov, também estavam obviamente proibidas.

Gravador “Tembr” MAG-59M (de fabricação caseira), em 1964 (Foto: Museu Histórico do Estado da Rússia)Gravador “Tembr” MAG-59M (de fabricação caseira), em 1964 (Foto: Museu Histórico do Estado da Rússia)

Ainda assim, o governo soviético não conseguiu erradicar por completo a literatura que descrevia como “perigosa”. Ao longo dos anos, as pessoas que se opunham à censura compartilharam cópias feitas à mão de tais obras (as chamadas de samizdat).

A “inútil” arte moderna

Nikita Khruschov, que foi líder da URSS entre 1953 e 1964, era mais aberta que Stálin e condenou suas políticas repressivas em um discurso secreto pronunciado em 1956. Segundo o historiador Leonid Katsva, Khruschov chegou a pensar na abolição da censura para as artes, mas acabou mudando de ideia depois ver a exposição “Nova realidade”, realizada por jovens artistas. “O povo soviético não precisa disso! Nós declaramos guerra a vocês!”, disse Khruschov sobre o estilo pouco realista das obras.

Artistas Avdéi Ter-Oganian e Iúri Paláitchev com seu “Nu Novo”, em 1988 (Foto: Arquivo de Avdéi Ter-Oganian)Artistas Avdéi Ter-Oganian e Iúri Paláitchev com seu “Nu Novo”, em 1988 (Foto: Arquivo de Avdéi Ter-Oganian)

Durante o mandato de Leonid Brejnev (1964 a 1982), o Estado soviético continuou a reprimir artistas que trabalhavam fora do estilo do realismo socialista.

Em 1974, o governo ordenou a destruição – com o uso de escavadeiras e canhões de água –  de uma exposição não oficial de arte moderna nos subúrbios de Moscou.

Rádios ocidentais bloqueadas

Durante a Guerra Fria, o Ocidente e a URSS trataram de influenciar a população um do outro por meio de “pontos de vista alternativos”. Em 1946, a britânica BBC começou a fazer retransmissões para os cidadãos soviéticos. Anos depois surgiram outros canais, como Voice of America, Radio Liberty ou Deutsche Welle.

Insatisfeito com a situação, o Kremlin passou a bloquear as frequências de rádio de canais estrangeiros. Segundo o radialista lituano Rimantas Pleikis, a URSS possuía o maior “sistema antirrádio” do mundo – mas até mesmo este tinha suas falhas.

Os cidadãos que queriam continuar ouvindo as rádios estrangeiras e outras músicas alternativas (incluindo jazz e rock) davam seu jeito. Finalmente, em 1988, Mikhail Gorbatchov acabou com o bloqueio oficial das rádios estrangeiras.

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