Pintura de Nikolai Ge retrata Piotr, o Grande questionando o tsarévitch Aleksêi
RIA NôvostiO primeiro imperador russo, Piotr, o Grande, era famoso não só por suas guerras, reformas radicais e construção da nova capital, São Petersburgo, mas também por seu temperamento. Trabalhava incansavelmente, exigindo o mesmo de seus colegas, e era aterrorizante quando estava com raiva: além de bater em qualquer um que o irritasse, era também capaz de mandar executá-los. Não é à toa que todos tinham receio de cair em desgraça com ele, incluindo os membros de sua família.
Entre aqueles sempre em conflito com Piotr estava seu primogênito, Aleksêi, nascido em 1690. Sua mãe, a esposa de Piotr, por quem o tsar não tinha afeição, foi enviada a um convento, e Aleksêi viveu seus primeiros 19 anos em Moscou, longe do pai e cercado por aristocratas que eram céticos quanto às reformas do imperador.
De tempos em tempos, Piotr lhe incumbia de tarefas, como preparar as defesas de Moscou no caso de uma invasão sueca, mas sempre se mostrava insatisfeito com os resultados. Segundo o tsar, além de repreender o filho, era preciso “bater nele”.
O tsarévitch tinha tanto medo de seu pai que, certa vez, quando Piotr quis testá-lo, Aleksêi preferiu ferir-se, disparando contra sua mão, a falhar no teste. O tsar, no entanto, o desprezava e não conseguia aceitar o fato de que ele herdaria o império.
Fuga em vez de mosteiro
Apesar das críticas do pai, Aleksêi era, por direito, herdeiro oficial de Piotr. O tsar se afligia com a situação, ainda mais depois que sua esposa, a futura Imperatriz Catarina 1ª, havia lhe dado outro filho em 1715.
De acordo com o historiador Mikhail Rijenkov, no mesmo ano, Piotr apresentou publicamente uma carta a Aleksêi na qual o repreendia por “não se interessar pelosos assuntos do Estado” e chegou a ameaçá-lo de tirar sua herança.
Assustado, Aleksêi respondeu que estava disposto a renunciar voluntariamente à coroa e fazer votos, mas acabou fugindo para a Europa, onde parou na Áustria.
Ida e volta da Áustria
O vice-chanceler von Schönborn, do Sacro Império Romano-Germânico, lembrou-se mais tarde de que em novembro de 1716 o tsarévitch fugido o implorou para que convencesse o Imperador Carlos 6º a permitir sua permanência na Áustria.
“Ele vai salvar minha vida. Eles querem me matar”, teria dito então Aleksêi. Apesar de lhe conceder asilo, o imperador austríaco decidiu usá-lo como um peão num jogo político, conforme descreveu Rijenkov.
Junto com sua amante e antiga serva, Afrosinia, Aleksêi viveu primeiramente em Ehrenberg no Tirol, no sul da Áustria, e depois na cidade italiana de Nápoles. Foi ali que, em 1717, um enviado de Piotr, o experiente diplomata Piotr Tolstói, o encontrou e lhe deu a mensagem do tsar para retornar à pátria.
“Você não será punido, eu lhe mostrarei o meu melhor amor se você obedecer à minha vontade e voltar”, teria prometido tsar. Mas Aleksêi, temendo o pai, recusou a proposta. Em seguida, Tolstói subornou um oficial austríaco, que mentiu a Aleksêi, dizendo que o imperador local estava disposto a extraditá-lo. Sentindo-se encurralado, o tsarévitch decidiu, enfim, retornar à Rússia.
Retrato de Aleksêi por autor desconhecido Foto: Hermitage/RIA Nôvosti
Armadilha pronta
A princípio, Piotr anunciou sua reconciliação com o tsarévitch, embora tenha ordenado que o filho renunciasse ao trono para si e seus herdeiros.
“Graças a Deus fui privado da herança”, escreveu, na época, Aleksêi para Afrosinia, comemorando o fato. “Deus nos permite viver felizes em uma aldeia”, acrescentou.
Mas os sonhos de Aleksêi não se tornaram realidade. Logo em seguida, as autoridades começaram uma investigação sobre sua fuga para a Áustria, e o tsarévitch acabou sendo acusado de conspiração contra Piotr.
Durante um interrogatório, Afrosinia testemunhou contra o amado e, após tortura, o próprio Aleksêi confessou. Condenado à morte por tentar derrubar o pai “não só por meio de amotinadores, mas também com ajuda externa”, o tsarévitch morreu na própria prisão, em junho de 1718, enquanto esperava pela execução da sentença.
Conspirador ou vítima?
Não se sabe ao certo quão válidos foram os depoimentos de Afrosinia e Aleksêi, uma vez que foram extraídos sob tortura. Além disso, não há qualquer prova de sua culpa.
Rijenkov duvida, entretanto, que o tsarévitch fosse culpado de conspirar contra o pai. “O fato de que, em Viena, Aleksêi foi considerado uma figura importante no jogo político não significa que ele estava pedindo assistência armada contra o tsar”, diz.
Segundo o historiador, é possível que sua fuga para a Áustria tenha servido como uma oportunidade para Piotr se livrar “de uma vez por todas” de seu filho indesejável.
Paradoxalmente, a sentença não trouxe a paz à dinastia Romanov: Piotr, o Grande morreu em 1725, sem nomear herdeiros ao trono, e, até 1801, a Casa de Romanov permaneceu alvo de uma série de golpes palacianos.
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