Documentos de inteligência revelam pensamento na 2ª Guerra

Documentos oferecem novos insights sobre a vida e a morte na Frente Oriental

Documentos oferecem novos insights sobre a vida e a morte na Frente Oriental

Ullstein Bild/Vostock-Photo
Confira em primeira mão trechos e comentários de cartas, interrogatórios e relatórios.

Documentos traduzidos do Terceiro Reich, relatórios de interrogatórios de prisioneiros de guerra e cartas pessoais de soldados estão entre os 341 arquivos reunidos pela inteligência militar soviética e publicados, pela primeira vez, pelo Instituto Histórico Alemão em Moscou, com apoio do arquivo central do Ministério da Defesa russo.

“Todos os documentos com os quais estamos trabalhando agora não tinham sido previamente disponibilizados para outros pesquisadores”, diz o pesquisador do instituto Matthias Uhl.

“Claro, é impossível fazer uma descoberta apenas através do estudo de um documento, eles devem ser considerados em conjunto É um trabalho de pesquisa demorado que vai levar pelo menos de quatro a cinco anos após a digitalização de toda a matriz de documentos”, acrescenta.

Confira abaixo oito excertos selecionados e comentados por Uhl.

“Russos pertencem à família dos arianos”

1. Instrução sobre o tratamento da população soviética, 1944. “Os russos, particularmente bielorrussos, ucranianos e do norte da Grande Rússia, pertencem à família das nações arianas. Eles têm um monte de sangue viking correndo em suas veias, do qual são muito orgulhosos”, diz o documento.

Ao avaliar esse documento, é importante compreender em que ano foi lançado. No início da campanha no leste, pensava-se que os russos não seriam necessários para nada – então eram tratados como tal. Este memorando, porém, não foi lançado em 1941, e sim muito mais tarde. Naquela época, a política já tinha mudado. Ficou claro que a guerra não seria rápida e que uma força de trabalho composta pela população local era necessária. Além disso, já havia planos de criar unidades militares integradas por russos.

2. Foto de um morto tenente-general alemão não identificado e capa de uma pasta da GRU (agência russa de inteligência), 1944. “Eu apresento dois uniformes e um par de calças [pertencente a] generais alemães.”

Source: wwii.germandocsinrussia.orgFonte: wwii.germandocsinrussia.org

Este é um documento muito raro e incomum – uma foto de um tenente-general alemão morto em ação.  Pelo que podemos dizer, ele morreu na Bielorrússia, no verão de 1944, durante o operação soviética Bagration.

A foto foi tirada pela inteligência militar soviética. Aparentemente, eles receberam a informação de que um oficial alemão morto estava em determinado lugar. Os agentes da inteligência fotografaram o corpo do oficial para estabelecer sua identidade e tirar algumas conclusões. Mas, aparentemente, eles não conseguiram descobrir quem era.

Nós, infelizmente, também não fomos capaz ainda de estabelecer a identidade desta pessoa. Durante a Segunda Guerra Mundial, a Alemanha tinha menos soldados desaparecidos do que a União Soviética. Desde a 1ª Guerra, havia um departamento especial, Deutsche Dienststelle, que rastreado o destino de cada soldado. Mas, em 1944, a luta começou a desenvolver tão rapidamente que o órgão alemão não conseguia mais dar conta.

3. Relatório de interrogatório do Almirante Werner Tillessen sobre a estrutura organizacional da Marinha alemã, 1944. O almirante interrogado ficou sabendo sobre o campo de concentração nazista de Lublin. Esta informação lhe causou grande impressão, mas ele não acreditou.

Até onde eu saiba, Werner Tillessen foi o primeiro almirante alemão que caiu em um cativeiro soviético. Ele não voltou para casa – ele foi enviado para um campo, onde morreu em 1953. Neste documento, ele descreve em detalhe a estrutura da Marinha alemã. Este comportamento é típico de oficiais superiores – eles geralmente resistiam por dois ou três dias, mas depois percebiam que não podiam fugir. Eles descreviam em detalhes seja a estrutura do exército ou o curso de ações militares. Ainda nem um único relatório em que o interrogado deu apenas seu nome e posto.

4. Instrução do departamento de contraespionagem do 2º Exército da Alemanha sobre as tentativas de espionagem soviéticas e a operação da inteligência soviética, 1944. Agentes do sexo feminino foram incumbidas de encontrar um emprego em uma fazenda de carne ou produtos lácteos para envenenar a carne ou o leite.

Este é um documento interessante – vemos a confirmação da literatura soviética voltada para adolescentes sobre jovens ajudantes do exército. Vemos que a inteligência militar soviética usou agentes jovens de 14 a 16 anos de idade para obter informações sobre o inimigo alemão.

“Não se enxerga o fim dessa guerra”

5. Relatório da inteligência militar sobre a 12ª Divisão Panzer, dezembro de 1942. “Há reclamações sobre frio, congelamento e roupas insuficientes que não implicam, no entanto, crítica ao governo de Hitler”, diz o documento.

Este relatório mostra a pressão sob a qual estava o Exército alemão. Vemos que as divisões alemãs estavam esgotadas, que eles não eram o que eram em 1941.

6. Relatório sobre o estado de espírito e moral dos soldados da Wehrmacht, 1943. “Os panfletos do Exército Vermelho encontrados na floresta foram mais cedo repassados apenas entre um círculo de bons amigos, mas agora isso é feito abertamente”, lê-se no documento.

Aqui podemos ver a guerra através dos olhos dos soldados lutando na Frente Oriental, e suas famílias na Alemanha. Além disso, esses documentos mostram a força do Exército Vermelho e as grandes perdas na Frente Leste.

7. Trechos de cartas de soldados da Wehrmacht, 1943. “É terrível que não se enxerga o fim dessa guerra. Não vemos mais nada de alegre”, diz uma das cartas.

Source: wwii.germandocsinrussia.orgFonte: wwii.germandocsinrussia.org

É evidente que, nessa época, tanto os soldados alemães como suas famílias na Alemanha já não acreditavam mais na vitória.

8) Documentos do departamento de Inteligência do Estado-Maior General da 2ª Frente Ucraniana. Apresenta um resumo sobre os resultados da liquidação das tropas alemãs no distrito de Korsun-Chevtchenko, sobre o número de prisioneiros de guerra e troféus, um relatório sobre a descoberta do cadáver do general Wilhelm Stemmermann, e dados sobre o número de mortos no lado alemão. “Foi uma espécie de inferno. As pessoas corriam, na esperança de encontrar a salvação daquele terrível fogo, mas a morte as encontrava em todos os lugares”, lê-se no documento.

Este conjunto de documentos relata as perdas nas divisões alemãs, mesmo em um setor bastante tranquila da frente. Acho que fala com a brutalidade particular da guerra na Frente Oriental – todo mundo estava lutando até o último momento, ninguém queria ser capturado.

Publicado originalmente pelo jornal Kommersant

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