Acredita-se até que inventor Nikola Tesla tenha causado explosão durante experimentos
Varvara GrankovaA região em torno do rio Podkamennaya Tunguska é um lugar remoto, até mesmo pelos padrões siberianos, e a maior cidade mais próxima é Krasnoiarsk, a 640 km ao sul. Em 30 de junho de 1908, um objeto, que viria ser chamado de “meteorito de Tunguska”, explodiu no céu dessa área – sem qualquer testemunha local.
A ausência de pessoas na região foi então positiva, pois, segundo os cientistas, a explosão foi equivalente a 10 a 40 milhões de toneladas de TNT (como uma bomba de hidrogênio). O incidente destruiu completamente a floresta, derrubando árvores dentro de um raio de 40 quilômetros do epicentro. Explosões foram ouvidas em assentamentos até 800 quilômetros de distância, e o chão balançou. No dia seguinte, tempestades magnéticas despencaram sobre todo o hemisfério Norte, com a presença de nuvens prateadas e relâmpagos por todo o céu.
Fim do mundo ou início de guerra?
As principais testemunhas do fenômeno foram os evenques (povos indígenas que habitam o norte do país) e siberianos que viviam nas aldeias vizinhas. Os caçadores evenques percorriam a taiga, mas tiveram sorte de estar a uma distância segura do local do impacto.
As testemunhas do Evento falavam de uma “bola e fogo” que voou através do céu, de sudeste a noroeste, e lembravam do som de “tiros” e “trovões” ao longe. O jornal “Sibir” descreveu na época as reações das pessoas de um povoado a 200 quilômetros da explosão: “Todos se reuniram nas ruas com medo e em pânico. As mulheres estavam chorando. Todos achavam que era o fim do mundo”.
O pesquisador Innokenti Suslov cita o relato de dois irmãos evenques, Tchutchantcha e Tchekaren, cuja tenda estava localizada a apenas 20 quilômetros do epicentro nesse dia: “As árvores estão caindo, os galhos estão em chamas, meu rebanho de renas está sendo queimado. Há fumaça por todos os lados, meus olhos ardem. Está tão quente que você poderia se queimar. Esta manhã estava ensolarado, não havia nuvens, o Sol brilhou, como sempre, e então, de repente, apareceu um segundo Sol!”. A barraca dos irmãos ficou destruída, e, embora tenha sofrido queimaduras, ambos sobreviveram.
Os camponeses siberianos e os povos evenques não conseguiam entender o que havia acontecido. Além das teorias místicas (os cristãos acreditavam que se tratava da volta de Cristo, enquanto os pagãos achavam que era a chegada do deus do trovão, Agda), também circulavam explicações políticas. Algumas pessoas acreditavam que podia ser o início da 2ª Guerra Russo-Japonesa (que acabara três anos antes).
Foi só em 1927, durante o regime soviético, que foi enviada a primeira expedição de cientistas profissionais para estudar o Evento de Tunguska.
Duas teorias para muitas histórias
O objeto cadente que marcou o Evento de Tunguska é comumente referido como o meteorito de Tunguska, embora não haja provas da verdadeira composição do corpo celestial. Os debates sobre a real natureza do objeto continuam até hoje.
Nenhuma expedição que examinou o local foi capaz de localizar uma cratera, que teria sido enorme, ou qualquer outro material residual que possa ter surgido da explosão – o gigantesco objeto explodiu e desapareceu (quase) sem deixar rasto.
Atualmente, há duas teorias principais sobre o objeto que explodiu sobre o rio Podkamennaya Tunguska. A primeira delas é que se trata de um meteorito de pedra, e a outra, que se refere a um cometa de gelo.
O físico Guennádi Bibin, que estuda o Evento de Tunguska há 30 anos, apoia a teoria do cometa de gelo, uma vez que o objeto não deixou restos nem crateras. “A pressão e o calor da atmosfera da Terra destruíram totalmente o cometa ao entrar”, diz.
Uma terceira versão sugere que o meteorito teria deixado um traço. Em 2012, pesquisadores italianos, da Universidade de Bolonha, alegaram que o pequeno lago Tcheko, próximo ao suposto epicentro da explosão, seria a cratera. Mas no início de 2016, cientistas russos determinaram que o lago existia desde antes da queda.
O físico Ivan Murzinov, da Academia Russa Tsiolkovsky de Cosmonáutica, supõe também que o meteorito entrou na atmosfera da Terra de tal forma que, em vez de atingir o solo, continuou a se mover tangencialmente. “Após a explosão, esses fragmentos podem ter sido espalhados a milhares de quilômetros do epicentro, caindo no Oceano Atlântico ou até mesmo retornando ao espaço”, propõe Murzinov.
Versões alternativas e ‘fantasmagóricas’
Enquanto a maioria dos cientistas continua estudando evidências para identificar a origem do corpo celestial, diversas versões alternativas surgiram na sociedade.
Há quem acredite que o evento foi causado por alienígenas, por exemplo. Tanto é que, em 1946, o escritor de ficção científica Aleksandr Kazantsev publicou o conto “Explosão”, que descreve uma nave espacial alienígena explodindo sobre Tunguska.
Um pequeno número de pesquisadores defende que o meteorito de Tunguska tenha sido um “pedaço de antimatéria” – razão pela qual não deixou nenhum vestígio após liberar sua energia em contato com a Terra – e outros imputam ao inventor Nikola Tesla a responsabilidade pela explosão observada no céu.
De acordo com a última hipótese, Tesla teria lançado, diretamente de seu laboratório nos EUA, um poderoso “disparo energético” em direção ao Alasca. A ideia era testar uma nova invenção, mas que, enfim, acabou se “perdendo”. Diante da falha no teste e da repercussão do objeto, o cientista teria preferido se manter em silêncio.
“No total, cerca de 30% dos pesquisadores acreditam que se tratava de um meteorito, a mesma quantidade pensa que era um cometa, e 40% apoiam versões alternativas, incluindo as fantasmagóricas”, diz Murzinov, da Academia Russa de Cosmonáutica.
Mais de cem anos depois, tudo indica que se sabe tanto sobre o Evento de Tunguska quanto os camponeses e caçadores que testemunharam a “bola de fogo” no céu.
Esta reportagem faz parte da série “Arquivo X da Rússia”, na qual a Gazeta Russa explora enigmas, mistérios e anomalias relacionadas com o país.
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