Belo, robusto, do lar e dos alcoólatras

Do bar às escolas e casas soviéticas, copo era onipresente e multifuncional

Do bar às escolas e casas soviéticas, copo era onipresente e multifuncional

Depositphotos/PhotoXPress.ru
Copo de design soviético que é símbolo de gerações faz 73 anos neste domingo (11). Embora substituído por mais modernos, ainda encontra espaço na cozinha hoje.

1. Escultora de copos

O primeiro copo poliédrico de vidro soviético saiu da linha de produção de uma fábrica na cidade de Gus-Khrustalni em 11 de setembro de 1943, há exatos 73 anos. Foi projetado por Vera Múkhina, escultora soviética que ganhou fama com o monumento “Operário e Camponesa”, apresentado em Paris no ano de 1937.

Não há documentos oficiais que comprovem a autoria de Múkhina, mas, em 1943, ela se dirigiu à Oficina de Vidro Artístico de Leningrado e, por isso, a criação do famoso copo foi a ela atribuída. O seu formato, porém, não provém da criatividade do autor – o corpo foi feito dessa forma para se adequar à nova máquina de lavar louça soviética dos anos 1940, que só era capaz de lavar objetos de determinada forma e tamanho.

2. Tecnologia para robustez

Os copos soviéticos podiam ter diferentes números de faces – 10, 12, 16 ou mais –, mas a forma não se alterava, e eram sempre coroados por uma borda de vidro lisa, o que assegurava firmeza. Na produção do vidro, era também adicionado chumbo à composição para torná-lo mais espesso.

Uma “epidemia” surgiu entre os copos de vidro na década de 1980. Rachaduras, o fundo de vários deles começaram a cair, e alguns até explodiram.

3. Melhor amigo dos alcoólatras

Lei antialcoolismo ajudou a popularizar copo Foto Aleksêi Buchkin/RIA NôvostiLei antialcoolismo ajudou a popularizar copo Foto Aleksêi Buchkin/RIA Nôvosti
O governo de Nikita Khruschov, entre 1953 e 1964, proibiu a venda de vodca na torneira e em pequenos recipientes. A lei, na tentativa de controlar o alcoolismo, deixava, assim, apenas garrafas de 500 ml nas prateleiras.

O resultado da iniciativa foi uma nova tradição entre os beberrões da época: se juntar em trios e beber matar uma garrafa em copos de vidro – três desses copos cheios até a boca equivaliam justamente ao meio litro da garrada.

Amigos que queriam ficar um pouco “tontos” se reuniam em três, desembolsavam um pouco menos de um rublo cada (uma garrada de 500 ml custava, na época, 2 rublos e 87 copeques) e se refestelavam à mesa.

O movimento deu origem à expressão popular “soobrazit na troikh” (“arranjar para três”). Não é à toa que ainda hoje muita gente associa esse copo a vodca.

4. Do bar à cozinha

Mas não eram apenas os chegados em vodca que tinham estima por esse objeto. Eles podiam encontrados por toda parte: escolas, hospitais, lanchonetes.

As donas de casa da época não conseguiam viver sem eles, afinal, podiam ser usados para medir líquidos e produtos em pó (até mesmo alguns livros de receitas soviéticos usavam esse copo como medição).

Além do mais, suas bordas eram perfeitas na hora de cortar a massa aberta de pelmêni e varêniki.

5. Vida longa

Na Rússia pós-soviética, esse copo já não é mais tão popular: Mesmo porque há outras tecnologias mais sutis para fazer se copos resistentes. Agora, seria impossível, por exemplo, encontrar esse objeto em uma loja comum, ou em escolas ou hospitais.

Segundo um estudo realizado por jornalistas do “Komsomolskaya Pravda”, o local onde mais se acha louça soviética hoje é nos próprios trens. O copo poliédrico em um suporte de níquel, prata, bronze ou cobre ainda é um símbolo das ferrovias russas.

“Na arqueologia da vida russa, passando camada após camada, vamos voltar sempre ao copo de vidro”, escreve o escritor contemporâneo Víktor Ierofeiev. “Essa é a nossa arqueologia, ou melhor, a nossa matriz.”

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