Em 1891, Tula se tornou a principal base da produção em massa do lendário fuzil automático russo do engenheiro S.I. Môssin Foto: Press Photo
Tudo começou no final do século 16. Foi precisamente nessa época que, sob as ordens do tsar Fiódor Ivanovitch, instalaram-se, às margens do rio Ula, dezenas de famílias de mestres na arte das armas artesanais.
Eles formaram a primeira 'slobodá' [povoados isentos de pagar determinados impostos ao Estado] armeira da Rússia. A localização era apropriada para a atividade dos artesãos armeiros. A densa floresta que durante a Idade Média cobria as terras a sul de Moscou, o acesso a minério de ferro e o rio como importante via de transporte levaram Tula a se tornar rapidamente um dos principais centros de fabricação de armas do país.
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Até meados do século 17, a produção era realizada por métodos artesanais: os mestres continuavam fabricando armas caseiras até que, na década de 1630, o governo russo decidir criar ali uma indústria militar plena. Com as constantes batalhas travadas entre Rússia e países vizinhos, havia um déficit de armas.
O mercador holandês AndrewVinius conseguiu um contrato para construir uma usina metalúrgica que começou a fundir canhões e bolas de projéteis para os mesmos. Vinte anos depois, seus compatriotas abriram uma linha de produção separada para armas brancas e armas de fogo.
Centenas de artesãos estrangeiros foram convidados a se unir a esses novos empreendimentos. Eles tinham não só que estabelecer na Rússia a produção em série de mosquetes, mas também que ensinar esse difícil ofício aos artesãos russos, que preferiam trabalhar de modo artesanal.
Já em 1695, o mercador Nikita Demidov, que se tornou o pioneiro da conhecida dinastia de industriais russos, abriu em Tula, com o aval de Piotr I, a primeira fábrica de armas privada.
Em 1712, foi criada por decreto imperial a primeira fábrica de Tula financiada pelo com orçamento público. Sua capacidade produtiva crescia rapidamente: oito anos após a abertura, já trabalhavam ali mais de mil artesãos, e o número de mosquetes produzidos anualmente ultrapassava as 20 mil unidades.
Os mestres armeiros de Tula foram os primeiros da Rússia a adotar a prática de fabricação de mosquetes por calibre, e começaram a produzir peças complementares para as armas, entre elas a wheellock, que compunha as chamadas pistolas de rodete, e a coronha. Além disso, uma variedade completa de armas brancas era fabricada para o exército: espadas, baionetas, facões e sabres.
No século 18, a fábrica de Tula produzia quase todas as armas usadas pelos soldados russos. Durante a guerra contra Napoleão, entre 1812 e 1814, Tula forneceu meio milhão de mosquetes ao Exército, e sua produção mensal ultrapassou o recorde de 13 mil unidades.
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A era dos engenhos a vapor permitiu reequipar por completo o sistema produtivo de Tula. Se até então o cano do mosquete era feito manualmente, por meio de um trabalhoso cinzelamento do canal na peça de ferro, agora o mecanismo a vapor permitia perfurar rapidamente a peça, aumentando consideravelmente a eficiência do negócio.
A transição do mosquete, recarregável pelo cano, para a espingarda, recarregável pela culatra, levou ao reequipamento completo da fábrica de Tula. Em 1834, Tula fabricou sua primeira máquina a vapor, e 30 anos depois a fábrica entrou para a lista das dez maiores fabricantes de armas do mundo.
Em 1891, Tula se tornou a principal base da produção em massa do lendário fuzil automático russo do engenheiro S.I. Môssin. É difícil avaliar o número de unidades produzidas, mas certamente o número gira na casa dos milhões de fuzis.
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Em 1895, foi também ali que estabeleceu a produção em série do revólver Nagant e, em 1905, da metralhadora do armeiro britânico Maxim. Durante a Guerra Civil, dois terços das armas a serviço do Exército Vermelho e do Exército Branco eram produzidas em Tula.
Na véspera da Segunda Guerra Mundial, o armeiro de Tula F.V. Tokarev iniciou a produção em série de sua espingarda e pistola. A espingarda SVT-38 é considerada uma das melhores semiautomáticas da guerra, enquanto a pistola TT ("Tokarev de Tula") esteve, durante muito tempo, ativa, a serviço da polícia e do Exército soviéticos.
Nos anos 1960, iniciou-se uma nova era na história da fábrica. Além das armas de fogo e das armas brancas, ela passou a fabricar lançadores de granadas, lançadores antitanque e metralhadoras de aeronaves.
Foi também ali que se iniciou a linha de fabricação do lendário fuzil de assalto Kalashnikov. Ainda hoje, a fábrica de armas de Tula, na entrada da qual se encontra um monumento em homenagem a seu fundador, o tsar Piotr I, é a glória do complexo militar-industrial russo.
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