Um modelo para o futuro

Soldados participam de missão perto da cidade russa de Stavropol, em 2012 Foto: Eduard Kornienko/Reuters

Soldados participam de missão perto da cidade russa de Stavropol, em 2012 Foto: Eduard Kornienko/Reuters

Com o fim da URSS, Estado procurou se livrar de todo o legado soviético, incluindo os uniformes militares. Em comparação com o período anterior, o número total de elementos do uniforme caiu quase para metade.

Em 1991, a União Soviética deixou de existir – com a queda do regime, foi-se também o Exército soviético. Parte das tropas passaram para o comando das ex-repúblicas soviéticas onde já estavam baseadas. A Rússia assumiu então a tarefa de criar suas próprias Forças Armadas.

O novo Estado procurou se livrar de todo o legado soviético, incluindo os uniformes militares. Mudar a cara do Exército era, inevitável. Quatro anos depois, o então presidente Boris Iéltsin assinou um decreto introduzindo, pela primeira vez desde 1969, alterações significativas nos uniformes do Exército nacional.

A primeira medida foi abolir tudo aquilo que se considerava excessivo nos uniformes soviético, começando pelos elementos ornamentais dos trajes dos oficiais. Na sequência, foram aposentadas as jaquetas de cor azul-marinho, as platinas (insígnias de ombro) e os quepes coloridos. A cor das fardas foi padronizada – verde-oliva –, e os representantes de diferentes tropas começaram a usar divisas.


Soldado das tropas russas na Tchetchênia Foto: Ígor Mikhalev / RIA Nóvosti 

Um dos principais objetos de orgulho dos oficiais soviéticos, a “papakha” ou gorro de pele usado no inverno, também virou história, assim como o capote de inverno – tradicional atributo tanto do Exército tsarista, como do soviético.

Embora o emblema soviético na cinta do quepe tenha sido mantido, um novo símbolo metálico em forma de águia bicéfala foi afixado na parte superior do quepe para enfatizar os elementos da nova Rússia. Essa inclusão aumentou a armação do quepe, que se tornou desproporcionalmente grande.

Simplicidade à prova

Em 1997, um novo decreto perpetuou a tendência de simplificar os uniformes militares. Os generais perderam a insígnia de mérito especial: a grande estrela nas platinas foi substituída por quatro estrelas pequenas. Também a águia foi retirada do quepe.

Em comparação com o período soviético, o número total de elementos do uniforme caiu quase para metade. Como compensação, talvez, foram introduzidas insígnias nas mangas.

Mesmo assim, o soldado russo do início do século 21 não diferia muito do soviético por sua aparência: boné no verão, chapka com cobertura de orelha no inverno, jaqueta e casaco, as mesmas calças e botas de kirza.

A maioria dos especialistas teve uma reação negativa em relação ao uniforme de campo russo, tecendo duras críticas às suas deficiências nas condições da guerra moderna.

A ideia de uma reforma geral dos uniformes foi alimentada por muito tempo, mas começou a ser concretizada apenas no final dos anos 2000. Na criação do novo uniforme estiveram envolvidos tanto personalidades militares, como nomes da moda.

Reforma completa

O novo uniforme dos militares russos apresentava uma série de diferenças significativas em relação aos modelos que soldados e oficiais já haviam usado até então. Inicialmente, decidiu-se mudar as insígnias dos ombros para o peito e as mangas. Acreditava-se que as insígnias nos ombros indicariam ao sniper inimigo a patente militar do eventual alvo e, assim, este ficaria na mira dos atiradores.

Os militares usaram esse uniforme até 2013, quando, sob pressão da “opinião pública” do Exército, as insígnias voltaram ao seu posto inicial. Com o tempo, as demais mudanças acabaram sendo aceitas e assimiladas por todos.

O uniforme começou a ser feito de diferentes materiais e tinha múltiplas camadas. Os casacos, por exemplo, começaram a ser produzidos em três modelos: vetrovka (para o verão), impermeável ​​e de poliéster. No dia a dia, em vez da jaqueta surgiu o chamado “terno de escritório”, que consiste em uma jaqueta mais leve e calças.

A forma do quepe também mudou e, ao mesmo tempo, apareceram as boinas, que anteriormente eram atributo apenas de paraquedistas e fuzileiros navais. A chapka de inverno ganhou orelhas longas, que podiam ser fixadas por trás ou unidas com velcro sob o queixo.

A armação do quepe dos oficiais também voltou a ser menor e agora mais se parece com os quepes dos oficiais do tempo dos tsares e dos comandantes soviéticos da Segunda Guerra Mundial.

Os militares tiveram que se separar de muitos elementos tradicionais dos uniformes militares russos: o cinto de couro com a fivela de latão, as botas de kirza e ‘faixas de enrolar no pé”. Estas eram usadas por soldados russos desde tempos imemoriais e se tornaram o principal objeto do folclore militar. Mas isso não foi tudo.

A roupa passou a ter elementos de plástico e, em vez de botões, ganhou zíper. O soldado russo passou a usar, pela primeira vez na história, um uniforme completo.

Soldado do futuro

O uniforme do soldado do Exército russo de hoje não difere dos melhores exemplos da atualidade. Mesmo assim, continua exibindo elementos da era soviética e até mesmo do Exército imperial.

O tom azul-marinho da jaqueta do uniforme oficial é, por exemplo, um legado da era pré-revolução. Os bordados nas lapelas da jaqueta em forma de folhas de louro, assim como as platinas douradas bem visíveis nos ombros, trazem à memória as tradições gloriosas. Já os soldados do regimento presidencial, baseado no Kremlin, têm um uniforme com corte especial, cujo modelo lembra o traje da guarda russa no século 19.

Hoje, mais do que antes, os exércitos dos diferentes países evoluem rapidamente. Tudo neles muda, desde armas até uniformes. Não é à toa que os filmes de ficção científica tentam há muito tempo criar a imagem do soldado do futuro, com uma espécie de macacão futurista.


Apresentação do soldado do futuro "Rátnik", criado em 2015 Foto: AleksêiFilippov/RIANóvosti

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