KV e os ziguezagues do destino

Tanques KV lidaram com a blindagem alemã facilmente Foto: RIA Nóvosti

Tanques KV lidaram com a blindagem alemã facilmente Foto: RIA Nóvosti

Vamos continuar a história do famoso tanque soviético, que foi nomeado em homenagem ao marechal Kliment Voroshilov – KV. De muitas maneiras, o destino de um tanque é similar àquele da personalidade cujo recebeu o nome. Durante o longo tempo de serviço operacional, o tanque passou da categoria dos “preferidos” aos “comuns” para então dos “exóticos” aos “veteranos honrados”.

No início da Guerra, o KV se mostrou surpreendentemente eficiente contra o fogo da artilharia alemã. Sua blindagem era perfurada somente pelo famoso canhão Flak-36 de 88 mm. Nesse sentido vale notar um relato sobre a performance em combate do oficial soviético Grigori Penejko durante a batalha de Dubno em que dizia: “Através do periscópio enxergo somente tanques alemães por toda a extensão de nossa terra. Para onde quer que eu o aponte, somente vejo carros de combate inimigos. Eles nos cercaram em um semicírculo de norte ao sul. Então faíscas são lançadas a partir da torre e chassi do tanque de nosso comandante. Todos os disparos que o atingiram apenas ricocheteavam. Um tanque alemão se interpôs à frente de Vassilev: ele nem pensou em gastar munição, avançou à toda contra o carro inimigo, abalroando-o e fazendo com que a torre alemã explodisse ao alto. Vassilev novamente está à nossa frente. O coronel abre sua escotilha, bota a cabeça para fora e começa a nos dar ordens com suas bandeiras de comando. De repente, no mesmo instante, partindo da direita e da esquerda, a torreta fica encoberta por faíscas. O tanque perde velocidade e para. Labaredas de fogo começam a subir das escotilhas abertas”.

Os tanques KV lidaram com a blindagem alemã facilmente. Em um dos combates que participaram, o esquadrão blindado de Zinovi Kolobanov foi capaz de destruir 43 carros alemães. O comandante Kolobanov escondeu estrategicamente 5 KV-1 entre casas de uma vila, de modo que poderiam disparar sobre a estrada circundante sem serem notados. Ignorando os batedores, os soviéticos esperaram a passagem de duas colunas blindadas de PzII e PzIII, disparando contra o primeiro e o último elemento de cada uma delas. Os tanques restantes perderam sua capacidade de manobra e puderam ser atingidos facilmente. As tripulações alemãs que tentavam escapar de seus veículos eram liquidadas com tiros de metralhadoras. Somente a equipe de Kolobanov destruiu 22 carros inimigos.

No outono de 1941, os Flak-36 receberam munições perfurantes especiais APDS (Armour-Piercing Discarding Sabot) e se mostraram eficientes não somente contra aviões, mas contra os pesados tanques soviéticos. O estrategista de tanques da URSS, Mikhail Katunov, recordou que após a Batalha de Moscou, os canhões capturados vinham com a inscrição “Disparar somente contra os KV” e uma tabela com dados do tanque. Para ilustrar o esforço depreendido pelos soldados de infantaria para destruir os tanques, havia o relato que um T-34 dava direito a 8 dias de dispensa e um KV destruído – 14 dias.

No entanto, a mística do KV como tanque invulnerável terminou em dezembro de 1941, quando Hitler, após o início da contra-ofensiva perto de Moscou, autorizou o uso de projéteis de carga oca HEAT (High-Explosive Anti-Tank), secretos à época. Uma vez que o KV tornou-se tão vulnerável quanto os T-34, as críticas começaram a surgir. As queixas versavam sobre pontos já conhecidos: transmissão pouco confiável, baixa manobrilidade e velocidade, alto peso, etc. Vale mencionar, por outro lado, que a maioria dos problemas não tinha natureza técnica. O relatório de combate do 8º Corpo Mecanizado de 22 a 26 junho 1941 afirmava que “os condutores de tanques KV e T-34 possuem apenas 3 a 5 horas de treinamento prático com seus carros”. Em suma, as imperfeições não eram tão técnicas.

Com o passar do tempo, a produção do KV-2 não fazia mais sentido e os tanques médios adquiriram o mesmo poder de fogo e proteção do KV-1. Como base de transição para uma nova geração de tanques, sobre o KV-1S monratam uma torre do IS-1 equipada com um canhão de 85 mm KV-85.

De qualquer forma, após a Batalha de Moscou, o KV era o orgulho da liderança soviética. Em 1942, Stálin ordenou a doação de um tanque para a Inglaterra e outro para os Estados Unidos. Assim, é possível conhecer de perto este monstro de ferro não somente na Rússia. Vale a pena visitá-los no Museu de Tanques em Bovignton na Inglaterra ou no Museu do Campo de Provas de Aberdeen, nos Estados Unidos. Mais informações sobre os KV-1 e KV-1S podem ser conseguidas ainda no Museu de Tanques de Kubinka, localizado nos arredores de Moscou ou no Museu Central das Forças Armadas em Moscou, onde é possível contemplar o último exemplar no mundo do KV-2.

 

Aleksandr Korolkov é doutor em Ciências Históricas.

 

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