KV, o tanque batizado com o nome de um Comissário do Povo

Tanque foi oficialmente adotado e sua produção em série autorizada em 1939 Foto: RIA Nóvosti

Tanque foi oficialmente adotado e sua produção em série autorizada em 1939 Foto: RIA Nóvosti

Modelo que intimidou as tropas alemãs na Segunda Guerra Mundial passou do rascunho à linha de frente em menos de um ano.

Nos Estados Unidos, é tradição dar nomes de grandes políticos a carros de combate. Já na Rússia, a tradição seguiu por outro caminho: somente navios e aviões recebem nomes de personalidade proeminentes. Mesmo a tentativa de Borís Iéltsin de nomear o tanque russo T-90 de Vladímir, em honra ao antigo príncipe, não obteve sucesso. No entanto, há duas exceções de tanques que não têm suas denominações iniciadas pela habitual letra “T”, mas pelas letras iniciais de personalidades influentes: KV (Klement Voroshilov) e IS (Iossef Stálin).

Durante os primeiros meses da Segunda Guerra Mundial, as tropas nazistas aplicavam a “blitzkrieg”, uma estratégia de ataques rápidos e profundos, utilizando tanques e infantaria mecanizada contra as inertes conexões do Exército soviético. Porém, no segundo dia da guerra, ao meio da confusa retirada maciça das tropas soviéticas, o tanque russo Klement Voroshilov, deslocando-se de sua unidade, se interpôs no caminho de toda a Divisão Blindada Norte do Exército alemão.

“Conseguimos manter a cabeça de ponte tomada pelo grupo de Routh. Pela tarde, reforçamos a posição com a chegada do 65º Batalhão Panzer, que se posicionou precisamente no cruzamento nordeste de Raseiniaia. Enquanto isso, um tanque pesado soviético bloqueou a estrada por onde avançava o grupo de Routh, forçando-o a se dividir em dois. Durante toda a noite, os tanques de Routh não conseguiram destruir o carro soviético, pedindo reforços dos canhões de 88 mm. Eles não se mostraram mais eficazes do que os obuseiros de 105mm que vinham sendo usados. Mesmo as tentativas de minar o tanque soviético por engenheiros alemães não obtiveram sucesso”, lê-se no diário de combate do 11º Regimento Panzer da Wehrmacht.

Os alemães então iniciaram uma grande ofensiva blindada no dia 25 de junho, enviando contra a misteriosa máquina soviética um grupo de diversão para atrair a atenção da tripulação, composto por tanques leves checoslovacos Pzkpfw 35, enquanto iniciaram novamente o bombardeio com canhões de 88 mm. Dos 10 disparos que atingiram a estrutura do tanque soviético, três perfuraram a blindagem. A infantaria alemã tentou alcançar as escotilhas do carro já imobilizado, mas foi repelida pelas defesas da torre que ainda estava operacionais. Os alemães reagiram com granadas de mão, inserindo-as nos buracos da blindagem perfurada, aniquilando finalmente o que restava dos seis tripulantes que, durante 48 horas a bordo do seu KV-2, conseguiram imobilizar uma constrangida Divisão Panzer da Wermacht.

Do rascunho à linha de frente

A história do tanque que leva o nome do Comissário de Defesa de Stálin, Klement Voroshilov, tem seu início em 1939, quando o projetista-chefe da Fábrica Leningradski Kirovski, Iossef Kôtin, propôs abandonar a ideia de tanques pesados com múltiplas torretas em prol de modelos equipados com uma só torrente. Stálin aprovou a iniciativa e logo os construtores foram instruídos a largarem os projetos dos tanques SMK e T-100 de várias torretas. Ele teria menos poder de fogo, mas possuiria uma blindagem muito mais espessa. O projeto resultou em um tanque de 47,5 toneladas, com um motor a diesel de 500 hp, equipado com caixa de engrenagens planetárias e suspensão com barras de torção.

No dia 20 de setembro, uma versão experimental agradou a plateia qualificada em testes no campo de Kubinka, nos arredores de Moscou, superando todos os obstáculos à sua frente, mesmo considerando as dificuldades encontradas pelo motorista de testes.

“Encontrei muitas dificuldades para superar alguns obstáculos com o KV – o motor é muito instável. Quando atravessei um rio, a água inundou todo o compartimento de combate, mas por sorte não apagou o motor permitindo-me conduzir o tanque até a outra margem. Naquele lado passei por determinados pontos programados da pista, como atropelar alguns pinheiros e subir uma íngreme montanha, o que deu muito trabalho. O motor estava constantemente em rotação máxima e nem sempre eu conseguia mudar as marchas. Durante a travessia da pista me foi exigido intenso trabalho de coordenação com as embreagens de fricção”, escreveu P. I. Petrov em seu diário.

Após algumas pequenas melhorias, o KV foi testar suas habilidades em combate logo no início da guerra Soviético-Finlandesa. No dia 17 de dezembro de 1939, perto do lago Summayarvi, ocorreu o primeiro combate, no qual o tanque e a tripulação sobreviveram, mesmo com o cano do canhão rompido e 43 impactos de munições perfurantes na torreta. Apenas uma passou pela blindagem.

No dia 19 de dezembro do mesmo, após o relatório do combate chegar a Moscou, o tanque foi oficialmente adotado e sua produção em série autorizada. No entanto, durante a Guerra de Inverno, os projetistas se depararam com um problema incomum. O marechal Timoshenko propôs a adoção de uma torre equipada com um canhão obuseiro de 152 mm, capaz de atirar projéteis de cimento com 40 kg e perfurantes de 52 kg, eficazez contra casamatas e bunkers, elementos que as tropas soviéticas tiveram de lidar durante os combates. Como resultado, o novo tanque de 52 toneladas foi renomeado como KV-2.  

 

Aleksandr Korolkov é doutor em Ciências Históricas.

 

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