Cirurgia em hospital de campo, em 1942 Foto: RIA Nóvosti
A medicina militar chegou tarde na Rússia. No século 17, quando os exércitos das monarquias europeias já contavam com cirurgiões militares e medicamentos à disposição, os arqueiros russos ainda tratavam seus próprios ferimentos, aplicando ervas curativas e enfaixando as feridas uns dos outros. Na época, a guerra já estava tão evoluída que o número de vítimas em campo de batalha só crescia.
A qualidade do tratamento médico militar na Rússia mudou radicalmente sob liderança do tsar Piotr I. Quando a Rússia enviou um destacamento do exército para conquistar a fortaleza turca de Azov, em 1695, seguiram navios com suprimentos médicos, e médicos e farmacêuticos acompanharam as tropas de Moscou.
Antes do final do século 18, na época em que o país se envolvia em uma guerra após outra em locais variados, os chefes militares entenderam que o conhecimento dos médicos militares era um recurso inestimável.
Depois de cada campanha, os médicos descreviam e registravam as suas experiências, e atlas médicos especiais eram elaborados, detalhando as considerações médicas das salas para operação.
"Moscou. Um Hospital Militar", do pintor russo Fiódor Alekseiev Foto: RIA Nóvosti
Por volta do século 19, a medicina militar russa se consolidou entre as mais eficientes da Europa. Durante as guerras napoleônicas, em 1812, os médicos militares do país trabalhavam como um ‘sistema coeso’, com um alto nível de organização na evacuação de feridos do campo de batalha para hospitais da campanha, onde passavam por operações e podiam se recuperar.
Esse mecanismo complexo foi criado pelo escocês James Wylie, que se mudou para a Rússia no final do século 18 e passou a trabalhar para o tsar. Wylie assumiu como objetivo pessoal a garantia de que recrutas e oficiais recebessem tratamento médico para feridas em vez de serem entregues à morte nos campos de batalha.
Por meio de esforços combinados, o número de perdas fora de combate – em tempos de paz – no Exército russo caiu para 10%, em meados do século 19. Esta, que é uma enorme queda para os padrões de hoje, foi uma conquista ainda maior em uma época que um a cada quatro soldados europeus morria de doenças.
Uma das mentes mais brilhantes da escola russa de medicina militar foi Nikolai Pirogov, que tinha 37 anos quando em sua primeira experiência real em um campo de batalha. Trabalhando do seu escritório, desenvolveu novos métodos para tratamento de feridas e reduziu o número de amputações. Pirogov usou inicialmente cadáveres congelados para simular feridas, um aparente sacrilégio, mas que lhe permitiu criar um novo atlas anatômico – que logo se tornaria indispensável para os cirurgiões militares tanto na Rússia, como no Ocidente.
Retrato de Nikolai Pirogov, que revolucionou a medicina militar russa Foto: RIA Nóvosti
No final da década de 1840, Pirogov finalmente testou seu trabalho em campo, conduzindo mais de 10.000 operações nas forças no Cáucaso, na maioria das vezes usando éter como anestésico. Mas o melhor momento do cirurgião foi na Guerra da Crimeia. Em 1855, durante o cerco britânico e francês de Sevastopol, Pirogov criou um serviço de saúde na cidade.
Cuidando de feridos pela primeira vez com faixas embebidas em amido, como gesso, levaram a uma queda acentuada nas amputações. Pirogov também foi pioneiro no moderno sistema de triagem para classificação de lesões conforme a gravidade. Em virtude dessa prática, algumas vítimas eram operadas diretamente no campo, enquanto outras eram transportadas para tratamento em postos de retaguarda.
Aleksandr Verchínin é doutor em Ciências Históricas e pesquisador sênior do Centro de Análise de Problemas.
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