Milhões de prisioneiros passaram por gulags desde a década de 1930 até o fim da União Soviética Foto: Lori / Legion Media
Na Rússia central, a 1.500 km de Moscou, a cidade de Perm tem se destacado no ramo das artes, atraindo diversos curadores de renome e centros culturais. Assim, não surpreende que o único campo de trabalhos forçados preservado no país tenha sido transformado em um museu ali em 1996, dedicado a preservar a infeliz história das gulags.
Agora, porém, cortes de verbas provocaram o fechamento do museu, também conhecido como Memorial da Repressão Política “Perm-36”.
O memorial abrangia todo o enorme território da ex-colônia penal de Perm, onde, a partir de 1946, os condenados por “crimes de Estado graves” cumpriam suas sentenças.
“Enquanto existiu, o museu foi um exemplo de cooperação bem sucedida entre o governo e as organizações sociais privadas”, diz a Comissária para os Direitos Humanos em Perm, Tatiana Margolina.
Fundado pela organização de direitos humanos Memorial, o museu ganhou fama no país com a criação do festival anual Pilorama, que reunia músicos, artistas, atores e ativistas de direitos humanos de todo o país.
Mudanças políticas
A recente repaginação de Perm e sua transformação em “cidade das artes” têm sido atribuídas ao ex-governador Oleg Tchirkunov. Sob sua liderança, foram criados diversos festivais na região, e as artes obtinham recursos generosos do governo.
Mas, Tchirkunov foi substituído por Víktor Basarguin em 2012, e os
projetos culturais e educacionais começaram a passar para segundo plano. O Pilorama
teve sua verba cortada e deixou de existir, como acontece agora com o
museu.
Neste ano, os antigos gestores do museu, Víktor Chmirov e Tatiana Kúrsina,
foram demitidos. Em julho passado, após uma série de tentativas frustradas
para restaurar a cooperação entre o governo regional e as ONGs, a organização Perm-36,
que concede o material de arquivo em exposição ali, anunciou
oficialmente o encerramento da parceria. Agora, a ONG se
prepara para recolher todo seu material, ou seja, todas as
coleções do museu.
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A profecia de SoljenítsinA administração local, porém, declara que o museu continuará a funcionar. “Serão criadas exposições sobre a história da gulag na União Soviética e no Território de Perm”, diz Serguêi Malenko, diretor do Departamento de Programas Civis e Especiais do governo do Território de Perm.
Mas Arsêni Roguínski, presidente do conselho da Sociedade Internacional Memorial e um dos fundadores do museu, não esconde sua insatisfação.
“O governo do Território de Perm acusa nossa organização sem fins lucrativos de importuná-los por dinheiro. Isso é um disparate. Foi o Estado quem decidiu assumir o controle sobre as organizações públicas, especialmente em uma área tão delicada como a história do país”, diz Roguínski.
Milhões de prisioneiros passaram por gulags desde a década de 1930 até o fim da União Soviética. O termo “gulag”, que em russo é a abreviatura de Administração Geral dos Campos e Colônias de Trabalho Correcional, foi apresentado ao mundo ocidental pelo vencedor do Prêmio Nobel, Aleksandr Soljenítsin. Seu livro “O Arquipélago Gulag”, de 1973, comparava os campos a um grupo de ilhas espalhadas pelo vasto e isolado interior da URSS.
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