Spielberg se junta a irmãos Coen para filme sobre espiões

Nas novas adaptações cinematográficas de Le Carré os russos mais uma vez estão envolvidos na ação, mas não se fala em nova guerra fria Foto: kinopoisk

Nas novas adaptações cinematográficas de Le Carré os russos mais uma vez estão envolvidos na ação, mas não se fala em nova guerra fria Foto: kinopoisk

Dupla vai fazer com Spielberg filme sobre James Donovan, um figurante brilhante das intrigas de espionagem da Guerra Fria: Tom Hanks irá interpretá-lo.

O produtor e diretor Steven Spielberg vai se juntar aos irmãos Coen para realizar um filme sobre James Donovan, um figurante brilhante das intrigas de espionagem da Guerra Fria. Tom Hanks irá interpretá-lo.

Em 1957, Donovan (1916-1970), ex-funcionário do Departamento de Serviços Estratégicos, que foi o protótipo da CIA, um advogado pouco proeminente, se oferece para defender um homem que se intitulava Rudolf Abel (seu nome verdadeiro era William Fisher). Abel era um dos maiores agentes da inteligência da época, poliglota, artista e inventor, que durante nove anos presidiu uma rede de espionagem que obtinha segredos nucleares dos EUA. Donovan, encantado com Abel, persuadiu um tribunal a não sentenciá-lo à morte e sim a 30 anos de detenção, contando com uma posterior troca de agentes.

Foi o próprio Donovan que participou da organização da troca de Abel por Powers, um piloto abatido sobre os Urais, e mais dois agentes americanos de baixa patente em um complicadíssimo processo que envolveu muitos passos, com uma falsa “senhora Abel” e um falso "advogado Juergen Drivsom", papel desempenhado pelo futuro chefe (de 1979 a 1991) da inteligência ilegal da KGB, Iuri Ivanovitch Drozdov.

Donovan escreveu o livro "Estranhos em Uma Ponte", publicado na URSS nos anos 1960, que trata do episódio.

Vida real x ficção

A dinâmica de produção de filmes de espionagem está correlacionada com os níveis de tensão internacional. Apesar de, às vezes, acontecerem coisas curiosas. Assim, quando Stálin era vivo, Hollywood produziu dezenas de filmes sobre o "pesadelo vermelho", nos quais os agentes vermelhos, principalmente sindicalistas, provocavam nas ruas o terror vermelho, e o Exército Vermelho num piscar de olhos ocupava os EUA.

Entretanto, em 1950, apenas três filmes de espionagem foram lançados na URSS (sem contar o filme "Adeus, América", de Aleksandr Dovjenko, inacabado e proibido) somado a outro em 1953. Outro destaque foi o filme "Pó Prateado", de Mikhail Kalatozov, no qual os próprios americanos progressistas lidavam com os insufladores da guerra.

Entre 1954 e 1955 foram lançados pelo menos 12 filmes sobre espiões. Depois, o seu número se estabilizou em três a cinco filmes por ano e, em meados dos anos 1970, o gênero quase desapareceu, pois as tensões internacionais começaram a se abrandar. O agravamento do confronto na época de Reagan determinou o seu renascimento: 10 filmes por ano de 1984 a 1986.

Le Carré

Além do projeto dos Coen e de Spielberg, dois filmes de espionagem baseados em John Le Carré estão a caminho: "O Homem Mais Perigoso", de Anton Corbeyn, e "Um Traidor Como Nós”, de Suzanne White.

Nas novas adaptações cinematográficas de Le Carré os russos mais uma vez estão envolvidos na ação, mas não se fala em nova guerra fria. "O Homem mais Perigoso" é um tchetcheno que os serviços especiais utilizam no front “da guerra contra o terrorismo". No filme “Um Traidor como Nós” as elites ocidentais são tão corruptas como as russas.

Os romances de Le Carré sobre George Smiley, o anti-James Bond, não são tão dedicados à guerra contra os russos quanto à guerra consigo próprios. "A guerra no espelho" –foi assim que Le Carré descreveu a oposição das estruturas burocráticas com direito de matar. É como se elas estivessem mudando de um pé para o outro sem sair do lugar na linha do front, procurando por "toupeiras" (traidores) em seu círculo, identificando as menores fraquezas humanas do inimigo, se espelhando nele.

E, sem dúvida, elas são totalmente destituídas de algo como humanismo e idealismo. Trair o melhor agente, justamente porque ele é o melhor, não custa nada para elas.

 

Publicado originalmente pelo Kommersant

 

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