São filmes plasticamente bonitos, nos quais a propaganda do regime [socialista] é apenas um fermento Foto: kinopoisk.ru
O CPC-Umes (Centro Popular de Cultura da União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo) fez um acordo de licenciamento de 14 filmes com o Estúdio Cinematográfico Mosfilm para lançamento em DVD da série "Cinema Soviético”.
O contrato inclui a divulgação de obras dos anos 1930 a 1950, pouco conhecidas no Brasil. Os primeiros DVDs serão lançados em cerimônia no dia 4 de abril, às 20h30, na sede da Umes (Rua Rui Barbosa, 323, Bela Vista – SP).
Nessa data, serão lançados o épico "Lênin em Outubro" (Mikhail Romm, 1937) e a comédia musical "Volga-Volga" (Grigóri Aleksandrov, 1938). Cada DVD custará R$ 20,00.
A lista completa dos 14 filmes, que a Umes ainda prefere manter em segredo, será lançada até o final do ano. Os próximos lançamentos serão "Circus" (Grigóri Aleksandrov, 1936), "Os Tratoristas" (Ivan Piriev, 1939) e "A Mãe" (Gleb Panfilov, 1989).
Além desses, também fazem parte da lista filmes dirigidos por Chukhrai, Kalatozov, Pudóvkin, Chiaureli, e Ózerov.
Material inédito
O acordo com o estúdio russo garante acesso a matrizes originais ou restauradas de um material praticamente inédito nas televisões, videolocadoras, cinemas e cineclubes do país.
“Existem cópias em película de alguns filmes russos dos anos 1930 na Cinemateca, mas a maioria não tem legenda, então não circula”, disse à Gazeta Russa Eduardo Morettin, professor de História do Audiovisual da Escola de Comunicações e Artes da USP e conselheiro da Cinemateca Brasileira.
Comédia musical "Volga-Volga" Foto: kinopoisk.ru
Outro aspecto que contribuiu para o ineditismo foram as circunstâncias políticas vividas por Brasil e Rússia a partir de 1930. Paolo Gregori, professor da Academia Internacional de Cinema, lembra que, a partir de 1964, o regime militar no Brasil proibiu durante anos a exibição desses filmes.
“Uma das raras chances que tivemos para ver as obras de alguns diretores como Piriev, Kalazatov e Ózerov, foi pelo acesso ao acervo da Soveksportfilm, no escritório em São Paulo. Fora isso, muito pouco”, diz Gregori.
“São filmes plasticamente bonitos, nos quais a propaganda do regime [socialista] é apenas um fermento, [pois] Aleksandrov, Romm, Chukhrai e Kalazatov eram, antes de mais nada, artistas que, alinhados ou não a Stálin, queriam fazer seus filmes”, completa.
Hoje, a situação política é mais favorável ao intercâmbio cinematográfico. “Os Brics e toda uma situação internacional tornam interessante divulgar a produção russa aqui neste momento”, diz Susana Lischinsky, jornalista e tradutora, que participou do processo de licenciamento dos filmes.
Cinema dos anos 1920
As experimentações das duas primeiras décadas do século 20 asseguraram que a grandiosidade do cinema russo. Nesse período, Eisenstein ficou mundialmente conhecido e fez sucesso com um cinema sem heróis individuais, deixando que as massas ocupassem as telas.
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Neide Jallageas, pesquisadora de arte e cinema russos e editora da publicação virtual Cadernos de Pesquisa Kinoruss, recorda que o legado teórico de cineastas russos dessa época, como Eisenstein, Pudóvkin e Kuleshov, beneficiou as gerações das décadas seguintes e ainda constitui importante fonte de consulta para estudiosos e realizadores.
O realismo socialista nos anos 1930
Com a consolidação do stalinismo nos anos 1930, o realismo socialista se impôs como um estilo que pautou as produções cinematográficas, mas, em muitos países, gerou um certo desinteresse técnico e político pela sua circulação.
“A partir de 1932, o realismo socialista se tornou o cânon da produção artística na União Soviética e, desde então, os filmes tiveram de obedecer a esse modelo e o caráter de experimentação, que era mais presente na produção russa/soviética dos anos 1920, vai se perdendo”, explica Eduardo Morettin.
“Esses filmes têm uma dimensão ficcional, mas, por conta da preocupação com o registro de iniciativas ligadas ao governo - o processo de coletivização dos campos, a introdução de máquinas na agricultura -, acabam tendo essa relação com o momento imediato”, acrescenta.
Morettin nega, no entanto, um mero caráter documental. “São obras de arte; Pudóvkin, que circulava na Europa dos anos 1930 e 1940, foi muito importante porque sua produção está nas raízes do neorrealismo italiano”, lembra o professor.
“Mesmo sob a batuta dos burocratas, alguns cineastas conseguiam mostrar bons indícios do que seriam capazes de realizar se tivessem liberdade”, concorda Jallageas.
04/04, sex., às 20h30
Teatro Denoy de Oliveira
R. Rui Barbosa, 323, Bela Vista, São Paulo-SP
Tel.: 11 3289-7475
"Lenin Em Outubro" (1937)
Direção: Mikhail Romm (1901-1971)
Com: Boris Shchukin, Nikolai Okhlopkov. Yelena Shatrova, Vasili Vanin, URSS, 108 min.
Sinopse: Em 1917, unidades militares se rebelam contra o governo Kerenski, unindo-se a operários e camponeses, que desejam a saída da Rússia da Primeira Guerra Mundial. Lenin chega a Petrogrado e derrota as resistências no Comitê Central para deflagrar a insurreição.
"Volga-Volga" (1938)
Direção: Grigori Aleksandrov (1903-1983)
Com: Lyubov Orlova e Igor Ilyinsky, URSS, 104 min.
Sinopse: O musical retrata dois grupos rivais de artistas amadores, um erudito e outro popular. Eles deixam a aldeia e vão a Moscou, a fim de participar de um concurso de talentos. A maior parte da ação se passa em um barco a vapor que viaja pelo rio Volga.
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