Perspectivas e as conquistas do cinema russo no exterior

Ilustração: Niiaz Karim

Ilustração: Niiaz Karim

As coisas se passaram de tal modo que, historicamente, os filmes russos são produzidos visando o próprio espectador russo, o que começa a se modificar.

No final de fevereiro, o filme "Stalingrado", de Fiódor Bondarchuk, foi exibido nos Estados Unidos. Um pouco antes disso, havia sido exibido na China. Em muitos anos, este é o primeiro caso de distribuição de um filme russo no exterior em tão larga escala.

As coisas se passaram de tal modo que, historicamente, os filmes russos são produzidos visando o espectador do país. Com base em seus interesses e solvência, os produtores elaboram um orçamento sem contar com ninguém exceto os próprios russos (e com os russos residentes no estrangeiro que irão comprar um disco com o filme em mídia física). No entanto, no maior portal de filmes da internet russa, o “Kinopoisk.ru”, as fichas técnicas de muitos filmes russos podem gabar-se do fato de contarem com as palavras “Estreia Mundial”.

Em primeiro lugar, deve se ter em vista as ex-repúblicas soviéticas: Ucrânia, Cazaquistão e os países bálticos. Também é possível encontrar uma menção sobre as exibições em festivais realizados na República Tcheca ou na Finlândia. E, por fim, os espectadores da China (como aconteceu com o filme “No Jogo”, de Pavel Sanaev) e da Turquia de vez em quando se mostram benevolentes em relação aos nossos filmes. Com isso, basicamente, termina a geografia do cinema russo.

Mas as exceções estão aumentando ano a ano. Os filmes de arte russos, no sentido mais amplo, foram a primeira exceção. Tradicionalmente, os selecionadores dos principais festivais europeus estão interessados naquilo que é denominado de "alma russa". Isso significa que acabam indo para Cannes, Veneza ou Berlim filmes cujos diretores trabalham fora do enquadramento de gênero e das avaliações definitivas do que acontece com os seus conterrâneos, ou seja, diretores que seguem as tradições do cinema existencialista europeu.

"Como eu Passei este Verão" de Aleksêi Popogrebski, "Elena", de Andrêi Zviagintsev, “Ovsianki" (“Almas Silenciosas”, no Brasil), de Aleksêi Fedortchenko, e “Fausto”, de Aleksandr Sokurov são exemplos recentes. Eles conseguiram distribuição completa na Alemanha, na França, na Holanda e em outros países europeus e também foram exibidos em festivais, não só europeus, mas também americanos e canadenses.

Além dos filmes autorais, existem os feitos em coprodução com empresas estrangeiras. Essa parceria, por si só, garante automaticamente a distribuição. Exemplos de tais trabalhos conjuntos são o próprio "Fausto" e também "Phantom", criado sob o controle do produtor Timur Bekmambetov, ou "Roubo à Maneira Americana”, de Sarik Andreasian, no qual vão brilhar estrelas do porte de Adrien Brody e que será lançado no próximo outono.

Nos últimos anos, além de "Stalingrado", houve ainda mais um caso de grande procura por um filme popular russo no exterior, "Visotski. Obrigado por estar vivo". A razão pela qual o filme foi distribuído em vários países da Europa não foi só a promoção competente do Primeiro Canal, mas também o nome Visotski, realmente conhecido além das fronteiras da Rússia. Uma solução tecnológica que consistia numa máscara por meio da qual o ator Serguêi Bezrukov ficou parecido com o grande cantor e ator russo tornou-se um estimulante de interesse adicional.

Para um futuro próximo também está prevista a distribuição na Europa dos filmes que foram os favoritos no ano passado no festival Kinotavr –a comédia “Lugares Íntimos” e o drama "O Major", que recentemente foi destacado no festival sérvio Kustendorf pelo cineasta e músico sérvio Emir Kusturitsa. São filmes fortes, que se encaixam perfeitamente no contexto europeu.

Futuro

Os cineastas russos, por sua vez, veem na coprodução de filmes o futuro do cinema russo no mercado mundial. Essa foi a opinião do diretor de "Rússia 88", Pavel Bardin, acrescentando que a exibição de filmes na internet “sob demanda” pode se tornar um importante suporte para a distribuição. O documentarista Konstantin Fam, cujo filme “Tufelki” (Sapatinhos) foi indicado ao Oscar este ano, também concorda.

Atualmente, já se pode falar com segurança sobre a demanda no cinema internacional por especialistas da Rússia. Olhe atentamente para os créditos dos filmes de Hollywood e dos filmes independentes que você irá encontrar muitos nomes russos. Não estou nem falando dos atores, diretores, produtores, mas sobre os que pertencem ao "elo intermediário”, os especialistas que estão por trás dos bastidores. Atualmente, muitos russos estão estudando nas escolas de cinema dos EUA e da Europa, se familiarizando com os princípios do cinema internacional, se comunicando e interagindo com seus colegas de classe de outros países.

"Eles vão fazer os filmes do futuro”, acredita Fam. “As fronteiras estão se tornando transparentes, o boom das redes sociais e o desenvolvimento da internet tornaram o acesso à informação rápido e tangível. Tudo se mesclou, os maiores blockbusters de Hollywood são filmados com dinheiro chinês, árabe e russo, nossos atores realizam filmagens no exterior e vice-versa e equipes mistas constituídas por integrantes de diferentes países trabalham nos projetos. O espectador é indiferente à nacionalidade do filme. Para ele o importante é que a história seja interessante, essa é a chave para o sucesso do filme entre os espectadores.”

O diretor considera que a única barreira no caminho em direção a um vasto público é a língua falada pelas personagens. "Se o diretor quer ampliar seu público, deve filmar em inglês ou em chinês. Se nos interessamos pela história de Hamlet, de Shakespeare, encenada em russo, então por que não tentar filmar ‘A Gaivota’, de Tchekhov, em inglês?" 

 

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