Sibéria, o paraíso oculto do budismo

Foto: Lori / Legion Media

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Embora não muito conhecida, uma longa tradição budista persiste na Rússia, onde a religião é praticada desde o século 8.

Embora não muito conhecida, uma longa tradição budista persiste na Rússia, onde a religião é praticada desde o século 8.
Depois de um breve período de esplendor no século 18, o país conta hoje com cerca de 150 mil budistas, quase 150 templos menores e 30 datsans, grandes templos que servem como uma espécie de universidade monástica do budismo.
Na Sibéria Oriental, uma dessas instituições intriga. O datsan Ivolguínski é, desde 1945, a capital espiritual de um pequeno grupo de fiéis.
Mais de 4.000 quilômetros a leste da capital, Ivolguínski é residência oficial do Pandido Khambo Lama, líder de todos os lamas russos, e se tornou um refúgio para os poucos budistas do país quando fundado, há 69 anos.

Como chegar

Ulan-Ude fica a mais de 4.000 km de Moscou. A viagem de avião custa cerca de R$ 1.500 e leva seis horas. Se preferir uma viagem mais cênica, vá de trem. O trem mais rápido entre Moscou e Ulan-Ude faz o trajeto em três dias, e o bilhete custa a partir de R$ 330.

Apesar de gozar de pouca fama entre leigos mundo afora, um datsan (grande templo budista) na Rússia é reconhecido pela qualidade de sua educação espiritual contemporânea. É o datsan Ivolguínski, popular entre os budistas por sua conexão com Dashi-Dorjo Itiguilov, o 12° Pandido Khambo Lama – líder dos budistas russos no início do século 20 e seguidor próximo do 14° Dalai Lama.
Logo antes de sua morte, em 1927, Itiguilov pediu aos monges que visitassem seu corpo após 30 anos. Depois do pedido, ele fez posição de lótus, começou a meditar e morreu. Foi enterrado na mesma posição, em um sarcófago de cedro.

Foto: Lori / Legion Media

Como desejado por ele, Itiguilov teve seu corpo exumado em 1957. Para a surpresa geral, o cadáver não apresentava qualquer sinal de decomposição. Os monges, então, realizaram os rituais, trocaram as vestes do líder e o enterraram novamente. Em 1973, o corpo foi exumado novamente, analisado e enterrado.
Quando o sarcófago foi aberto pela última vez, em setembro de 2002, e o corpo foi analisado por cientistas, detectou-se que as articulações de Itiguilov permaneciam flexíveis, e a pele ainda estava macia. Os especialistas não conseguiram explicar o fenômeno.
O corpo de Itiguilov foi então levado pelos monges para o datsan Ivolguínski. Lá, com a ajuda de voluntários, eles ergueram um novo edifício para abrigar os restos mortais do líder religioso.
Esse edifício tornou-se a mais bela estrutura do monastério. Ao longo do tempo, o datsan Ivolguínski foi ampliado, e a pequena casinha azul ali localizada inicialmente recebeu novos templos e um número crescente de monges e de lamas.
Os peregrinos que atualmente visitam o datsan vêm tanto de regiões vizinhas como de países distantes, para observar o corpo intacto do Pandido Khambo Lama. Acredita-se que Itiguilov ajude a todos que clamam por sua ajuda.

Religião de longa data

Embora não muito conhecida, existe uma longa tradição budista na Rússia. O budismo é praticado há mais de 700 anos na República de Tuva, que se tornou parte do Império Russo em 1914.
Durante o século 18, a religião gozou de um breve período de ascensão nacional, quando o líder dos budistas da unidade federativa russa da Buriátia anunciou que a imperatriz Catarina, a Grande era a encarnação da deusa da cura, Tara Branca.

 

Budismo avança em diferentes regiões do país

Na virada do século 20, havia 150 mil budistas, cerca de 150 templos menores e 30 datsans, ou templos maiores, espalhados por todo o país.

 

O conceito da palavra “datsan” na língua da Buriátia pode ser traduzido como “o monastério onde a roda do ensinamento gira, cheia de alegria e trazendo felicidade”. Na tradição tibetana, os datsans são universidades budistas onde se aprende filosofia e medicina.Na Rússia, porém, o termo é aplicado não somente à universidade budista, mas também a um monastério, provavelmente devido ao longo isolamento da religião budista de influências externas no país.
 

Lênin, Budismo e Baikal
A cidade de Ulan-Ude é uma mistura da herança soviética, budista e ortodoxa, e um lugar onde os costumes dos antigos nômades sobrevivem até hoje.
Assim como muitas cidades siberianas, Ulan-Ude se desenvolveu nos limites de uma pequena fortaleza - ou “kremlin” -, construída pelos cossacos russos na metade do século 17.
A anexação pelo Império Russo da terra correspondente à Buriátia deu origem a um misto de culturas como nunca visto em nenhuma outra parte da Rússia.
Todos os que conquistaram essas terras adicionaram algo de sua própria cultura ao caldeirão de Ulan-Ude. Ou, mais precisamente, ao “tunduk” – como é chamada a enorme cuba sobre a fogueira no centro de qualquer “iurt”, a tradicional tenda dos nômades locais.
Os estabelecimentos comerciais decorados com madeira entalhada e pedra no centro histórico de Ulan-Ude recriam a atmosfera das confortáveis e prósperas cidades provincianas da Rússia tsarista no século 19.

5 coisas a fazer em Ulan-Ude :

1 Consulte-se com um médico. Todas as universidade budistas treinam especialistas em medicina tibetana, que preparam chás de ervas para tratar as enfermidades.

2 Converse com um lama. Os lamas são bastante amigáveis e estão sempre dispostos a ajudar. Depois da conversa, é de praxe fazer uma doação.

3 Acenda uma vela. Primeiro, coloque um bilhete com um nome dentro das velas, que são basicamente grandes espirais de incenso. Acenda-a então, e pendure-a no teto. O bilhete irá eventualmente se agitar com a fumaça ou com o vento, e esse momento é equivalente a uma oração.

4 Gire os tambores “khurde”. Os tambores “khurde” contêm pergaminhos com mantras, e os budistas acreditam que girá-los equivale a fazer uma oração.

5 Visite o corpo de Dashi-Dorjo Itiguilov, localizado em um edifício separado do datsan.

A principal rua da cidade, originalmente chamada de Tsar Nikolai I e mais tarde rebatizada de rua Lênin, atravessa todo o centro da cidade e liga as duas principais praças, que também remetem ao passado soviético: a praça da Revolução e a Soviética.
A rua termina no reduto local da religião ortodoxa, a Catedral Odiguítrievski. Construída em uma zona com alto risco de abalos sísmicos, a igreja sobreviveu não apenas a duas trocas de sistemas de governo, mas também a dois terremotos.
A dois quarteirões da igreja está a praça Bazaar, onde comerciantes russos negociaram ativamente por mais de cem anos. Hoje, a praça abriga inúmeros cafés e lojas onde se podem encontrar autênticos souvenires da Buriátia, além de ser um excelente local para saborear um almoço leve.
Já a praça Soviética ostenta o maior busto de Vladímir Lênin do mundo, com 13,5 metros de altura e 12 toneladas. O monumento foi digno de nota até no Livro Guinness dos Recordes.
 

 

Sangue de Buda e monte
O datsan Ivolguínski é o maior complexo de templos budistas e capital do tradicional monaquismo Sangha na Rússia. O templo foi construído em 1945, período em que floresceu a adversidade religiosa no país, e fica a apenas 40 minutos de carro de Ulan-Ude.
Um segundo mosteiro budista está situado dentro dos limites da cidade de Ulan-Ude. O datsan para mulheres Zungon Darjaling é o único mosteiro budista feminino da Rússia. O templo tem relíquias sagradas, como vestígios de sangue e um pedaço do esqueleto de Buda.
Para o visitante, a dica é terminar o dia no local mais pitoresco de Ulan-Ude, o monte Lísaia. De lá de cima, pode-se ver a cidade toda, além dos arredores dos rios Selenga e Uda. Na terra onde as tribos da Buriátia costumavam fazer seus rituais pagãos, há hoje o Centro Budista Rimpotche.

 

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