Peça que se popularizou pelo uso militar está na cabeça de muitos russos durante o inverno gelado do país Foto: Reuters
A mais famosa peça do guarda-roupa russo é a “uchanka”, uma espécie de gorro de pele com uma proteção para as orelhas. Seu antepassado, o “treukh”, que significa “três orelhas”, já era popular no século 17. É um gorro redondo de pele, geralmente de ovelha, com uma bainha à frente, protetores das orelhas bem compridos e uma tira atrás, para tapar o pescoço. Para uma melhor defesa contra o vento e o frio, os protetores se prendiam com uma correia de couro, que passava sob o queixo. Era mais usado na região central e norte do país, onde os invernos costumam ser úmidos. Por mais paradoxal que possa parecer, o frio da Sibéria se aguenta melhor do que o da região central, pois é um frio seco.
A história do gorro, que agora chamamos “uchanka”, começou há relativamente pouco tempo. Durante a guerra civil que estourou após a revolução de outubro de 1917, os elementos do Exército Branco, especificamente os do almirante Kolchak, usavam peças muito úteis para os invernos, chamadas de “norueguesas” –a ideia foi copiada dos gorros dos exploradores polares noruegueses. Ao contrário do “treukh”, tinha atilhos compridos que permitiam atar as proteções das orelhas ora sob o queixo, para preservar o calor, ora por cima da cabeça. Mais tarde, estes gorros foram adoptados também pelo Exército Vermelho.
Treukh Ilustração: Fiodor Solntsev/Press Photo
Durante a Segunda Guerra, várias fábricas se especializaram na confecção de “uchankas” destinadas à frente de batalha. Até hoje ela não perdeu popularidade, surgindo agora em várias cores: a polícia usa “uchankas” cinzentas, enquanto a Marinha reservou as pretas. Os militares devem usá-las com os protetores de orelhas levantados.
Uso civil
De militar, a “uchanka” passou a civil. A maior parte da população masculina da URSS usava “uchankas” de várias origens: de rena, castor ou ondatra, entre outras. No entanto, havia quem optasse pelas chamadas “cristas de galo” – gorros de malha cuja parte superior se assemelhava à cabeça do referido galináceo. A partir de meados dos anos 70, se tornaram muito populares os gorros com a inscrição Esporte ou com abetos e renas estampados; frequentemente, tinham um pompom ou uma borla de lã presa por um fio. Estes elementos eram tão apreciados que, nos Jogos Olímpicos de Inverno de Vancouver, os trajes oficiais dos atletas russos incluíam gorros de malha com pompons.
Foto: ITAR-TASS
O “Kubanka” (gorro de pele de carneiro, de corte reto, com dobra e parte superior plana) não foi, nem é hoje em dia menos popular. É uma variante mais baixa da “papakha” clássica, que veio do Cáucaso do Norte, designadamente da região de Kuban, que lhe rendeu o nome. Havia muita procura pela variante feminina da “kubanka” de pelo comprido, como o da raposa negra, na URSS. Este vistoso gorro se tornou moda depois do filme “Ironia do Destino” (1975), um êxito na URSS, pois era usado pela protagonista.
Entretanto, a moda das “kubankas” de raposa preta voltou a se impor. Vai bem com um casaco comprido –clássico ou em forma de trapézio e sem gola, à moda dos anos 60. A combinação de um gorro de pele com um casaco do mesmo material não é hoje muito apreciada, ainda que ótima para enfrentar o inverno russo.
Foto: Press Photo
As “uchankas” nunca estiveram fora de moda. Marcas tão famosas como as de Paul Smith, Bally e Ralph Lauren sugerem o adereço para compor um visual de inverno. Os gorros em forma de capacete, de pele tingida de cores vivas, da coleção Chanel outono–inverno 2013-2014, parecem ser as variantes mais lacônicas das boas e velhas “uchankas”.
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