Os demônios de Mikhail Vrúbel

"O seu demônio permaneceu leal à sua própria natureza, e mesmo amando Vrúbel, ele enganou o artista" Foto: serviço de imprensa

"O seu demônio permaneceu leal à sua própria natureza, e mesmo amando Vrúbel, ele enganou o artista" Foto: serviço de imprensa

O primeiro demônio do Vrúbel como uma obra artística nasceu em 1890 num dos ambientes da casa do empresário e filantropo russo Savva Mamontov. O "Demônio Sentado" é um quadro que apresenta um jovem que aparentemente triste ou entediado e simboliza uma solidão altiva e infinita.

O primeiro demônio de Mikhail Vrúbel nasceu em 1891, quando o artista foi escolhido como o ilustrador do conjunto completo de obras do escritor russo Mikhail Lérmontov.

No entanto, a ideia da sua criação havia surgido antes, o que confirma uma carta de Vrúbel enviada à irmã: "Estou pintando o demônio há cerca de um mês, embora ele não seja o demônio monumental que eu desenharei mais tarde, mas uma verdadeira criatura diabólica: um jovem seminu com asas e ar pensativo e triste está sentado abraçando os seus joelhos e olhando para uma clareira florida; os ramos das árvores que se curvam sob o peso das flores estão tentando alcançá-lo. No segundo plano vemos o pôr do sol."

Existe uma hipótese de que o aparecimento do tema diabólico nas obras do Vrúbel tenha sido estimulado pela comissão responsável pela construção da Catedral de São Vladímir, na cidade de Kiev, que recusou uma série de desenhos do interior da igreja apresentada pelo pintor. Ao mesmo tempo, os biógrafos que baseiam-se em um trecho da carta escrita pelo próprio artista e afirmam que o assunto foi escolhido por Mikhail ainda em 1885, pois apenas uma ideia bem pensada poderia fazer parte dos planos de longo prazo do famoso pintor.

O primeiro demônio do Vrúbel como uma obra artística nasceu em 1890 num dos ambientes da casa do empresário e filantropo russo Savva Mamontov. O "Demônio Sentado" é um quadro que apresenta um jovem aparentemente triste ou entediado  simbolizando uma solidão altiva e infinita. Ao contrário do demônio caricato que aparece nas obras literárias do escritor russo Nikolai Gógol, assim como do diabo bíblico que não mede esforços para seduzir Cristo, a criatura malvada do Vrúbel é um ser pensativo, triste e sofredor.

No mesmo ano, o artista cria a obra "Cabeça do Demônio com as Montanhas no Fundo", onde o ser diabólico olha com um ar nostálgico para algo desconhecido e parece pronto para enfrentar o mundo, onde não há lugar para ele. Como nos seus quadros anteriores, Vrúbel preferiu se afastar da imagem abstrata do mal universal oposto à força divina. O seu demônio não seduz ninguém e não se glorifica, ele possui uma aparência passiva, embora o seu ar sombrio e olhar parado demonstrem a força dos seus pensamentos e a meditação profunda.

O ano de 1899 na sua carreira artística foi marcado pela obra "Demônio em Voo Livre", um quadro com uma imagem quase abstrata, mas cheia de movimentos e impulsos que demonstra o demônio erguido que se joga em voo livre e está flutuando no fluxo do ar em cima das montanhas, tentando alcançar o céu negro. A obra deixa uma sensação de estar inacabada. 

No período entre os anos 1901 e 1902, Vrúbel criou o "Demônio Derrotado", uma obra dinâmica, colorida e cheia de movimentos trágicos. Ao contrário dos imóveis e silenciosos quadros "Demônio Sentado" e "Cabeça do Demônio", além do "Demônio em Voo Livre", que dá sensação de liberdade completa, esta obra do pintor russo demonstra o caos de queda, onde é impossível distinguir os braços abertos em desespero e asas quebradas do mundo que rejeita o demônio, o protagonista da obra.

Tragédias pessoais

Tragédias pessoais não faltaram na vida do próprio Vrúbel, que foi diagnosticado com demência e cegueira. Podemos imaginar que a mente do artista não conseguiu suportar o segredo revelado pelos demônios dos seus quadros. Aleksandr Benois, que viu Vrúbel em estado de desequilibro psicológico criando uma nova versão do "Demônio Derrotado", cujo original já fazia parte da exposição artística aberta para o público, compartilha as suas lembranças:

"Acredito que o próprio Satanás posava para ele, pois existe algo muito verdadeiro nestas obras pavorosas e maravilhosas que dão vontade de chorar. O seu demônio permaneceu leal à sua própria natureza, e mesmo amando Vrúbel, ele enganou o artista, oferecendo as sessões de arte que não passavam de uma provocação e uma piada cruel. Vrubel conseguia enxergar um dos traços do seu ídolo ou até ambos ao mesmo tempo, mas a sua vontade de alcançar o inacessível e a paixão pelo maldito o levou ao abismo em pouco tempo. A sua demência foi uma consequência natural do amor que ele sentia pelo diabo.”

 

Publicado originalmente pelo shkolazhizni.ru

 

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